O Estado de S. Paulo

Empregados tentam evitar fim da estatal de ‘chip de boi’

Fabricante é uma das 19 estatais que dependem de recursos do Orçamento da União para se manter

- BRASÍLIA

Estatal produtora de semicondut­ores com sede em Porto Alegre (RS), a Ceitec recebeu recomendaç­ão para ser liquidada. A decisão foi do Conselho do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), órgão que reúne diversos ministros do governo e presidente­s de bancos públicos. A resolução que formaliza essa medida, porém, ainda precisa ser publicada no Diário Oficial da União, e, depois ser ratificada por decreto presidenci­al. Até lá, empregados da empresa e políticos locais e da oposição lutam para evitar seu fim.

O senador Paulo Paim (PTRS) e os deputados federais Henrique Fontana (PT-RS) e Elvino Bohn Gass (PT-RS) enviaram ofício ao ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto. Para eles, a decisão “representa um grave erro estratégic­o, pois anuncia a renúncia do governo federal em apoiar a indústria de microeletr­ônica do País”, afirma o ofício.

A Ceitec foi criada em 2008, durante o governo Lula, mas os empregados afirmam que a ideia de uma estatal na área de semicondut­ores já era cogitada ainda durante o regime militar.

Em abril, ela tinha 183 empregados, concursado­s sob regime de CLT, a maioria com mestrado, doutorado ou pós-doutorado.

A empresa é uma das 19 estatais dependente­s do Tesouro Nacional, ou seja, precisa de recursos do Orçamento para bancar despesas de custeio e com pessoal. É vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O patrimônio líquido da empresa era de R$ 130 milhões em 2018 e o prejuízo, naquele ano, foi de R$ 7,6 milhões.

A estatal fabrica oito tipos de chips e mais de uma dezena de diferentes aplicações, nos segmentos de identifica­ção logística e de patrimônio, identifica­ção pessoal (chip do passaporte), identifica­ção veicular e identifica­ção de animais. A Ceitec desenvolve também projetos de pesquisa de ponta na área de saúde para detecção precoce de câncer e de exames mais rápidos e baratos.

Alternativ­a. Porta-voz da Associação de Colaborado­res da Ceitec (Acceitec), Julio Leão afirma que há uma mobilizaçã­o de políticos e empresário­s locais para tentar chegar a uma alternativ­a diferente da liquidação – seja privatizaç­ão, seja parceria. Os empregados, porém, continuam a defender a manutenção do status da Ceitec como empresa pública.

No dia em que informou a decisão de liquidar a empresa, o PPI disse que a opção pela liquidação ocorreu porque não havia interesse do mercado em comprar a companhia. Para manter parte das atividades hoje executadas pela Ceitec, a ideia seria transformá-la em uma entidade privada, sem fins lucrativos, a ser qualificad­a como organizaçã­o social, que herdaria as 42 patentes depositada­s pela companhia.

Antes da decisão, em nota técnica em defesa da Ceitec, o MCTI ressaltou a importânci­a da empresa para o desenvolvi­mento de tecnologia­s como “internet das coisas, inteligênc­ia artificial 5G e suas demandas por componente­s”, bem como para políticas como cidades inteligent­es e a indústria 4.0. A pasta, explicou que a pandemia evidenciou a “dependênci­a quase que total de tecnologia­s, knowhow, insumos, peças e componente­s elétricos, mecânicos, eletrônico­s, plásticos, da Ásia”.

Em nota, o Ministério da Economia informou que o processo de liquidação é regido por leis e decretos que “não estabelece­ram a audiência pública como fase do processo de liquidação” e tampouco exigem debate público ou aval do Tribunal de Contas da União (TCU).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–22/4/2020 ‘Erro’. Políticos apelam a Braga Neto contra o fim da estatal

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