PROCURA POR CAR SHARING TENDE A CRESCER
Após forte retração na procura pelo serviço de veículos compartilhados, empresas do segmento apostam na recuperação
O novo coronavírus causou mudanças no comportamento das pessoas. Para diminuir o risco de contágio, quem pode está evitando usar transporte público, compartilhar objetos e até veículos, como os oferecidos pelo sistema conhecido como car sharing. Especialistas em mobilidade acreditam que a procura pelo serviço tende a voltar a crescer, embora de forma lenta.
Pesquisa feita pelo Instituto Ipsos na China apontou tendência de crescimento no uso dessa modalidade. O número de entrevistados que usavam ou pretendiam usar carros compartilhados passou de 3% antes da pandemia para 5% agora. O veículo próprio é o item mais desejado pelos entrevistados em relação à mobilidade urbana.
Segundo informações da empresa de auditoria e consultoria Deloitte, para isso ocorrer os serviços de mobilidade terão de demonstrar capacidade de atender às expectativas de segurança para a saúde dos usuários.
Consultor da ADK Automotive, Paulo Garbossa concorda que a queda na demanda é temporária, mas diz que será necessário ao menos um ano para que o setor volte aos níveis anteriores à pandemia. “Por mais que as pessoas tenham receio do carro compartilhado, ele é visto como mais seguro que o uso de transporte público.”
Garbossa reforça que os clientes vão priorizar empresas que mostrem maior cuidado com a higiene. “É importante reforçar que tudo vai depende, por exemplo, da chegada de uma vacina. Mas o hábito de maior atenção com a higiene não vai sofrer um retrocesso.”
O serviço de car sharing funciona por meio de aplicativos. Alguns são utilizados apenas para a reserva e outros também para o desbloqueio do veículo.
Ha até scooters compartilhados, como os oferecidos pela Riba Share em São Paulo. Como ficam na rua, eles agora são limpos três vezes por dia, segundo Ricardo Cabral, responsável pela filial brasileira da empresa.
A locação inclui capacete, mas a Riba Share estuda a possibilidade de o cliente usar equipamento próprio. Também avalia concentrar a frota em bolsões (como estações de metrô, shoppings centers e hospitais), para facilitar a higienização.
A procura pelo serviço, que registrava média de 200 viagens diárias, caiu 40% após o início da pandemia. A empresa prevê que a demanda irá dobre com a flexibilização da quarentena.
Nos veículos da Turbi, a limpeza é feita por empresas terceirizadas, que utilizam álcool 70º no processo. Esse protocolo será mantido após o fim da pandemia, segundo o responsável pela empresa no País, Luiz Bonini.
De acordo com ele, os clientes corporativos avaliam que o uso de compartilhado é mais seguro que o transporte público. “Um dos nossos clientes quer abolir os ônibus fretados para os funcionários que vão até sua sede, em Barueri. O intuito é que, quando o escritório voltar a funcionar, inicialmente com 30% do pessoal, eles usem o serviço da Turbi para se locomover de casa para o trabalho.”
Bonini afirma que, com a consolidação do home office, 25% dos usuários cadastrados no serviço pretendem se desfazer do veículo próprio.
Toyota aposta no setor. O segmento vem atraindo a atenção inclusive de montadoras. É o caso da Toyota, que oferece o serviço por meio do Mobility Service. Os veículos são retirados e devolvidos em 33 concessionárias participantes no Brasil. A empresa informa que, por causa da pandemia, agora os carros recebem higienização em mais de 40 pontos.
Diretor de mobilidade da Toyota, Roger Armelini diz que todos os carros são lavados quando voltam à concessionária. “Antes, em casos de aluguel rápido, como de uma hora, o veículo não era lavado”, diz.
A empresa também aumentou o intervalo entre a liberação dos veículos, de duas para três horas. Isso para garantir que a higienização seja feita corretamente em todas as partes.
Armelini diz que até março, a empresa registrava cerca de 300 locações por mês. Com a reabertura de concessionárias, ele espera a retomada da demanda, mas de forma lenta. O executivo acredita que o fato de o serviço ser oferecido pela montadora dá mais credibilidade.
Os novos cuidados com a higienização dos veículos não trará aumento nos preços da locação. O motivo é a baixa demanda. “O mercado é que faz o preço”, diz Armelini.
Fechamento. Se alguns veem futuro no compartilhamento, outros deram adeus ao setor, mesmo antes do início da pandemia. É o caso da Zazcar, que atuava em São Paulo desde 2010, e encerrou as operações em novembro de 2019.
A General Motors também encerrou recentemente as atividades do Maven, seu serviço de compartilhamento de veículos. A empresa foi criada em 20116 e já havia deixado de atuar em oito cidades dos Estados Unidos, como Nova York e Chicago.
O grupo norte-americano pretendia oferecer o serviço também no Brasil. E chegou a criar um projeto piloto para aluguel de veículos aos funcionários de suas fábricas no País.
A Share Now, joint venture da BMW e da Daimler nos EUA, também saiu de cena. O serviço de mobilidade surgiu a partir da união do Car2go, da Daimler, com o Drivenow, da BMW.
A companhia surgiu em fevereiro de 2019 e saiu de cena no fim do ano. Os motivos alegados foram “altos custos, complexidade da infraestrutura de transporte na América do Norte e a volatilidade no cenário global de mobilidade”.
A empresa também encerrou as atividades na Europa. A Share Now atuava em Londres, Bruxelas e Florença (Itália).