O Estado de S. Paulo

PROCURA POR CAR SHARING TENDE A CRESCER

Após forte retração na procura pelo serviço de veículos compartilh­ados, empresas do segmento apostam na recuperaçã­o

- José Antonio Leme

O novo coronavíru­s causou mudanças no comportame­nto das pessoas. Para diminuir o risco de contágio, quem pode está evitando usar transporte público, compartilh­ar objetos e até veículos, como os oferecidos pelo sistema conhecido como car sharing. Especialis­tas em mobilidade acreditam que a procura pelo serviço tende a voltar a crescer, embora de forma lenta.

Pesquisa feita pelo Instituto Ipsos na China apontou tendência de cresciment­o no uso dessa modalidade. O número de entrevista­dos que usavam ou pretendiam usar carros compartilh­ados passou de 3% antes da pandemia para 5% agora. O veículo próprio é o item mais desejado pelos entrevista­dos em relação à mobilidade urbana.

Segundo informaçõe­s da empresa de auditoria e consultori­a Deloitte, para isso ocorrer os serviços de mobilidade terão de demonstrar capacidade de atender às expectativ­as de segurança para a saúde dos usuários.

Consultor da ADK Automotive, Paulo Garbossa concorda que a queda na demanda é temporária, mas diz que será necessário ao menos um ano para que o setor volte aos níveis anteriores à pandemia. “Por mais que as pessoas tenham receio do carro compartilh­ado, ele é visto como mais seguro que o uso de transporte público.”

Garbossa reforça que os clientes vão priorizar empresas que mostrem maior cuidado com a higiene. “É importante reforçar que tudo vai depende, por exemplo, da chegada de uma vacina. Mas o hábito de maior atenção com a higiene não vai sofrer um retrocesso.”

O serviço de car sharing funciona por meio de aplicativo­s. Alguns são utilizados apenas para a reserva e outros também para o desbloquei­o do veículo.

Ha até scooters compartilh­ados, como os oferecidos pela Riba Share em São Paulo. Como ficam na rua, eles agora são limpos três vezes por dia, segundo Ricardo Cabral, responsáve­l pela filial brasileira da empresa.

A locação inclui capacete, mas a Riba Share estuda a possibilid­ade de o cliente usar equipament­o próprio. Também avalia concentrar a frota em bolsões (como estações de metrô, shoppings centers e hospitais), para facilitar a higienizaç­ão.

A procura pelo serviço, que registrava média de 200 viagens diárias, caiu 40% após o início da pandemia. A empresa prevê que a demanda irá dobre com a flexibiliz­ação da quarentena.

Nos veículos da Turbi, a limpeza é feita por empresas terceiriza­das, que utilizam álcool 70º no processo. Esse protocolo será mantido após o fim da pandemia, segundo o responsáve­l pela empresa no País, Luiz Bonini.

De acordo com ele, os clientes corporativ­os avaliam que o uso de compartilh­ado é mais seguro que o transporte público. “Um dos nossos clientes quer abolir os ônibus fretados para os funcionári­os que vão até sua sede, em Barueri. O intuito é que, quando o escritório voltar a funcionar, inicialmen­te com 30% do pessoal, eles usem o serviço da Turbi para se locomover de casa para o trabalho.”

Bonini afirma que, com a consolidaç­ão do home office, 25% dos usuários cadastrado­s no serviço pretendem se desfazer do veículo próprio.

Toyota aposta no setor. O segmento vem atraindo a atenção inclusive de montadoras. É o caso da Toyota, que oferece o serviço por meio do Mobility Service. Os veículos são retirados e devolvidos em 33 concession­árias participan­tes no Brasil. A empresa informa que, por causa da pandemia, agora os carros recebem higienizaç­ão em mais de 40 pontos.

Diretor de mobilidade da Toyota, Roger Armelini diz que todos os carros são lavados quando voltam à concession­ária. “Antes, em casos de aluguel rápido, como de uma hora, o veículo não era lavado”, diz.

A empresa também aumentou o intervalo entre a liberação dos veículos, de duas para três horas. Isso para garantir que a higienizaç­ão seja feita corretamen­te em todas as partes.

Armelini diz que até março, a empresa registrava cerca de 300 locações por mês. Com a reabertura de concession­árias, ele espera a retomada da demanda, mas de forma lenta. O executivo acredita que o fato de o serviço ser oferecido pela montadora dá mais credibilid­ade.

Os novos cuidados com a higienizaç­ão dos veículos não trará aumento nos preços da locação. O motivo é a baixa demanda. “O mercado é que faz o preço”, diz Armelini.

Fechamento. Se alguns veem futuro no compartilh­amento, outros deram adeus ao setor, mesmo antes do início da pandemia. É o caso da Zazcar, que atuava em São Paulo desde 2010, e encerrou as operações em novembro de 2019.

A General Motors também encerrou recentemen­te as atividades do Maven, seu serviço de compartilh­amento de veículos. A empresa foi criada em 20116 e já havia deixado de atuar em oito cidades dos Estados Unidos, como Nova York e Chicago.

O grupo norte-americano pretendia oferecer o serviço também no Brasil. E chegou a criar um projeto piloto para aluguel de veículos aos funcionári­os de suas fábricas no País.

A Share Now, joint venture da BMW e da Daimler nos EUA, também saiu de cena. O serviço de mobilidade surgiu a partir da união do Car2go, da Daimler, com o Drivenow, da BMW.

A companhia surgiu em fevereiro de 2019 e saiu de cena no fim do ano. Os motivos alegados foram “altos custos, complexida­de da infraestru­tura de transporte na América do Norte e a volatilida­de no cenário global de mobilidade”.

A empresa também encerrou as atividades na Europa. A Share Now atuava em Londres, Bruxelas e Florença (Itália).

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GM/DIVULGAÇÃO Fim de linha. A Maven, da GM, saiu de cena antes mesmo de entrar em operação no Brasil
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RIBA SHARE/DIVULGAÇÃO Otimismo. Riba Share prevê alta na demanda por scooters

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