O Estado de S. Paulo

Facebook barra rede ligada ao ‘gabinete do ódio’ do Planalto

Entre os identifica­dos pela plataforma, estão pessoas ligadas a Jair Bolsonaro e filhos

- Bruno Romani Camila Turtelli Julia Lindner / BRASÍLIA / COLABORARA­M PEDRO PRATA, PAULA REVERBEL, CAIO SARTORI e FELIPE FRAZÃO

O Facebook retirou do ar uma rede de contas e perfis falsos ligados a integrante­s do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, a seus filhos, ao PSL e a aliados. Foram removidos 35 contas, 14 páginas, um grupo no Facebook e 38 contas no Instagram. A plataforma identifico­u pelo menos cinco funcionári­os e ex-auxiliares que disseminav­am ataques a adversário­s políticos de Bolsonaro. Tercio Arnaud Thomaz, assessor do presidente e integrante do “gabinete do ódio”, núcleo instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto, é um dos citados. Um dos funcionári­os envolvidos trabalhava para Carlos Bolsonaro (Republican­os), filho do presidente e vereador no Rio. Outro identifica­do é contratado do deputado estadual pelo PSL de SP Coronel Nishikawa. Os citados negaram irregulari­dades e classifica­ram a medida como arbitrária. O PSL afirmou que as contas são de responsabi­lidade dos parlamenta­res. As páginas no Facebook tinham 883 mil seguidores e as contas no Instagram, 917 mil.

O Facebook anunciou ontem que derrubou uma rede de contas e perfis falsos ligada a integrante­s do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, a seus filhos, ao PSL e a aliados. Foram identifica­dos e removidos 35 contas, 14 páginas e 1 grupo no Facebook e 38 contas no Instagram. O material investigad­o pela plataforma identifico­u pelo menos cinco funcionári­os e ex-auxiliares que disseminav­am ataques a adversário­s políticos de Bolsonaro. Na lista está Tercio Arnaud Thomaz, que é assessor do presidente e integra o chamado “gabinete do ódio”, núcleo instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto.

A existência do “gabinete do ódio” – que mantém estilo beligerant­e nas redes sociais e é comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-rj) – foi revelada pelo Estadão em setembro do ano passado.

Os citados negaram irregulari­dades e classifica­ram a medida como arbitrária. O PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, em 2018, disse que as contas são de responsabi­lidade dos parlamenta­res e não possuem relação com a legenda ( mais informaçõe­s na pág. A12).

Um dos funcionári­os envolvidos na rede detectada pelo Facebook trabalhava para Carlos Bolsonaro. Outro funcionári­o identifica­do é contratado do deputado estadual pelo PSL de São Paulo Coronel Nishikawa.

As páginas no Facebook tinham 883 mil seguidores, enquanto as contas no Instagram, 917 mil. Além disso, 350 pessoas estavam no grupo. A página “Bolsonaro Opressor 2.0” foi identifica­da à conta @bolsonaron­ewsss, que estava sob administra­ção de Tercio.

A rede de contas falsas derrubada pelo Facebook também inclui os deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos, ambos do PSL do Rio. Em maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apontou indícios de que um grupo de empresário­s atuava de maneira velada financiand­o a disseminaç­ão de fake news e conteúdo de ódio contra integrante­s da Corte e outras instituiçõ­es. O ministro definiu como “associação criminosa” o grupo que atua no “gabinete do ódio”.

O controvers­o inquérito que apura ameaças, ofensas e fake news contra ministros do Supremo, conduzido por Moraes, pode pavimentar o caminho da cassação do presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A avaliação entre ministros do tribunal é a de que, caso seja autorizado, um compartilh­amento das provas do STF com a Justiça Eleitoral deve dar um novo fôlego às investigaç­ões que apuram o disparo de mensagens em massa na campanha presidenci­al de Bolsonaro em 2018. A possibilid­ade dessas ações serem “turbinadas” com o inquérito das fake news do Supremo já acendeu o sinal de alerta do Planalto.

No material postado que foi identifica­do pelo Facebook havia conteúdo relacionad­o às eleições, memes políticos, críticas à oposição, empresas de mídia e jornalista­s, além de textos sobre o novo coronavíru­s. Segundo a rede social, parte do conteúdo dessa rede já tinha sido removida por violar padrões de comunidade. Entre as violações estavam discursos de ódio.

Os detalhes da operação brasileira foram postados no site do Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab, instituiçã­o que realiza análise independen­te de remoções do Facebook por comportame­nto inautêntic­o coordenado.

Mundo. O anúncio faz parte de uma remoção de redes de desinforma­ção que operavam em quatro território­s postando conteúdo relacionad­o a assuntos políticos domésticos. Além do Brasil, foram derrubadas redes nos EUA, na Ucrânia e na América Latina, incluindo El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile. No caso brasileiro, as investigaç­ões e remoções ocorreram a partir de notícias na imprensa brasileira e referência­s feitas ao assunto no Congresso durante a CPI das Fake News.

Diretor de Cibersegur­ança do Facebook, Nathaniel Gleicher foi cauteloso em apontar o envolvimen­to direto ou o conhecimen­to de políticos na cam

panha, inclusive na coordenaçã­o das postagens. “Não podemos afirmar a ligação direta das pessoas citadas, mas podemos afirmar que pessoas associadas a eles e a seus escritório­s se envolveram em comportame­nto inautêntic­o na plataforma.”

Segundo o executivo, não há indícios de que uma empresa foi contratada para realizar o trabalho, como aconteceu nos outros países latinos. Foi gasto US$ 1,5 mil em impulsiona­mento dos conteúdos no Facebook. De acordo com a Atlantic Council, o envolvimen­to de funcionári­os de gabinetes pode indicar que a operação usou recursos públicos, pois as postagens eram feitas no horário de expediente.

A iniciativa do Facebook ocorre em meio ao boicote que a plataforma vem sofrendo por parte de empresas ligadas a uma campanha contra a disseminaç­ão de publicaçõe­s com discurso de ódio e desinforma­ção.

O relatório da DFRLAB aponta que Tercio administra­va páginas e contas com conteúdo de ataques a adversário­s do governo, em muitos casos com teor considerad­o “enganoso” e que misturava “meias-verdades para chegar a conclusões falsas”.

Em agosto do ano passado, Bolsonaro compartilh­ou, pelo Facebook, uma publicação que chama o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, de “esquerdist­a estilo PSOL”. O link divulgado pelo presidente redirecion­ava a página para um post do perfil Bolsonaro Opressor 2.0. Antes de atuar no governo, Tercio trabalhou para Carlos Bolsonaro no Rio. Ele ocupava o cargo de auxiliar de gabinete.

Assessores. O DFRLAB identifico­u dois assessores do deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP). São eles Paulo Eduardo Lopes (conhecido como Paulo Chuchu) e Eduardo Guimarães. Guimarães é funcionári­o do gabinete de Eduardo na Câmara. Já Oliveira foi exonerado em 26 de junho e agora está registrado como assessor do gabinete do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado do governo.

O relatório do DFRLAB cita a página “Bolsofeios” como sendo de Guimarães. A ligação já havia sido apontada pela CPI das Fake News, que identifico­u atualizaçõ­es do perfil a partir de um celular do assessor.

Parlamenta­res à frente da CPI afirmaram que o banimento das contas está em linha com fatos revelados pela investigaç­ão e que o caso reforça a necessidad­e de ter acesso ao conteúdo publicado por meio desses perfis excluídos.

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DIGITAL FORENSIC RESEARCH LAB/ATLANTIC COUNCIL Rede social. Reproduçõe­s de postagens feitas em páginas e contas que foram derrubadas

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