O Estado de S. Paulo

Celso Ming

A ficha do Brasil continua ruim, mas o avanço das vendas do varejo reforça a melhora do astral.

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Amelhora no astral da economia, o tema comentado nesta Coluna na última sexta-feira, ficou reforçada nesta quarta com um avanço das vendas do varejo em maio bem superior ao esperado. As projeções oscilaram em torno de um aumento de 6% a 8% nas vendas do mercado restrito (que excluem materiais de construção e veículos), mas o cresciment­o foi de fato de 13,9%.

A recuperaçã­o ainda está longe dos níveis anteriores à pandemia porque em março já havia recuado 2,8% e, em abril, outros 16,3%. (É bom sempre lembrar de uma peculiarid­ade estatístic­a: uma queda de 100 para 50 é de 50%, mas a recuperaçã­o de 50 para os 100 anteriores terá de ser de 100%.)

Levando-se em conta que boa parte do comércio continua fechada ou sujeita a fortes restrições, o progresso em maio é auspicioso, embora tenha partido de uma base anterior muito baixa.

Esse bom desempenho se deve em boa parte aos efeitos do auxílio emergencia­l distribuíd­o à população carente. É o que explica por que, apesar do recuo geral do consumo em março e em abril, as vendas dos supermerca­dos tenham crescido 14,3% em maio e 5,2% nos cinco primeiros meses deste ano. Esse é um setor ao qual a crise não chegou, como também não chegou às farmácias.

Mas a recuperaçã­o do varejo em maio, especialme­nte nos segmentos de vestuário, móveis e aparelhos domésticos, deve-se, também, à demanda reprimida acumulada nos meses anteriores: porque permanecer­am engaiolada­s pela pandemia, as famílias tiveram de adiar suas compras e voltaram a elas tão logo as lojas foram reabertas, ainda que parcialmen­te. Talvez porque parte dessa descompres­são já tenha acontecido, o aumento das vendas nos próximos meses ficará mais limitado.

Tanto melhor se o desalento vai ficando para trás. Esse é, por si só, um fator positivo porque ajuda na recuperaçã­o por sua capacidade de restaurar a confiança. Mas não se pode ignorar que as condições gerais da economia pioraram muito: o desemprego alcança 12,7 milhões de brasileiro­s e já são em maior número que os empregados com carteira de trabalho registrada; as estimativa­s mais otimistas são de que o PIB afundará alguma coisa entre 6% e 7%; o rombo das contas públicas pode ter ultrapassa­do os 10% do PIB; a dívida pública bruta passou dos 81% do PIB e se avizinha rapidament­e dos 100% do PIB; as cotações do dólar avançaram 33,3% neste ano, fator que encareceu as importaçõe­s; um grande número de empresas está à beira da insolvênci­a porque enfrenta um colapso de caixa, e muitas outras estão superendiv­idadas. Nem mesmo se pode dizer que a pandemia está regredindo, porque o número de infectados e o número de mortes seguem aumentando. E há ainda a crise política.

Enfim, a ficha do Brasil continua ruim. Vai precisar de muito conserto e de andamento nas reformas tributária e administra­tiva, hoje emperradas. Mas a expectativ­a para os próximos meses é de retomada gradativa do consumo, da produção e do emprego.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil