O Estado de S. Paulo

O STF e o Poder Legislativ­o

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Futuro presidente do Supremo explicou como a corte se relacionar­á com o Congresso.

Dias depois de ter dado uma palestra vi r - tual na qual anunciou as diretrizes que nortearão sua gestão com relação ao Poder Executivo, o ministro Luiz Fux, recém-eleito para a presidênci­a do Supremo Tribunal Federal (STF) e com posse marcada para o dia 10 de setembro, em declaraçõe­s feitas no Instituto Justiça e Cidadania, informou como a mais alta Corte do País se relacionar­á com o Congresso Nacional durante os dois anos de sua gestão.

“Nós temos de agir dentro da Constituiç­ão. Além de ser um Estado Democrátic­o, o Brasil é um Estado de Direito. No Estado Democrátic­o de Direito, a instância hegemônica encarregad­a de resolver os problemas políticos é o Poder Legislativ­o. O Poder Judiciário deve deferência ao Legislativ­o porque ele tem a palavra mais importante no regime democrátic­o”, disse Fux. Segundo ele, atualmente muitas questões que têm sido submetidas a decisões pelas diferentes instâncias judiciais são basicament­e políticas, motivo pelo qual poderiam ser resolvidas por outras esferas de Poder, como a Câmara dos Deputados e o Senado.

O futuro presidente do Supremo está certo. Há muito tempo, todas as vezes em que há um impasse entre o Executivo e o Legislativ­o a mais alta Corte do País é chamada a arbitrar, o que quase sempre resulta em alguma tensão institucio­nal. E, todas as vezes em que as lideranças partidária­s não conseguem resolver elas próprias eventuais impasses políticos, elas também recorrem aos tribunais superiores.

Nos dois casos, o que se tem é não apenas a judicializ­ação da política, mas, igualmente, a politizaçã­o da Justiça e, por consequênc­ia, a tendência cada vez maior de seus integrante­s de interpreta­r as leis e a Constituiç­ão de modo extensivo e criativo, o que os leva a exorbitar e a interferir em áreas que não são de sua competênci­a. E, quanto maior é essa tendência, maior é a corrosão da fronteira entre a criação do direito, tarefa precípua do Congresso, e sua aplicação ao caso concreto, atribuição funcional das diferentes instâncias do Judiciário.

Em sua palestra, Fux classifico­u essa tendência dos juízes como “sanha de protagonis­mo judicial”, o que acaba resultando na multiplica­ção de decisões com fundamento­s extrajuríd­icos e o intervenci­onismo judicial em políticas públicas. Também afirmou que “o Supremo não é um órgão que resolve tudo”. E disse, ainda, que o ativismo da toga prejudica “muitíssimo” a atuação do próprio Supremo Tribunal Federal, especialme­nte no exercício de sua função mais importante – a de controle da constituci­onalidade das leis.

De certo modo, o ministro repetiu o que o consagrado e insuspeito cientista político Luís Werneck Vianna, em artigos publicados no Estado, chama de “pontificad­o laico” da magistratu­ra, disseminan­do incerteza jurídica sob a justificat­iva de garantir a segurança do direito. Segundo o futuro presidente do Supremo, só há certeza jurídica quando a Corte pacifica entendimen­tos discrepant­es a respeito do significad­o das leis nas instâncias inferiores da Justiça.

Para Fux, a mais alta Corte do País tem o dever de fazer as interpreta­ções fundamenta­is que as demais instâncias do Poder Judiciário possam seguir, evitando desse modo uma “judicializ­ação excessiva” que, por não dar à iniciativa privada a segurança de que precisa para voltar a investir, poderia retardar a retomada das atividades econômicas assim que a pandemia de covid19 passar. “O que preconizo é a fixação de um entendimen­to jurídico capaz de criar previsibil­idade, ou seja, o que se pode fazer e o que não se pode fazer. O Supremo tem de garantir a governabil­idade do País”, disse ele.

Nas duas palestras que pronunciou, o futuro presidente do Supremo não fez afirmações novas e ousadas. Mas disse o que é oportuno e necessário para distender as tensões institucio­nais neste momento em que o Brasil vive uma crise de saúde pública, uma crise econômica e uma crise política.

Futuro presidente do Supremo explicou como a Corte se relacionar­á com o Congresso

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