O Estado de S. Paulo

80% dos bares optam por não reabrir em SP

Dos restaurant­es, seis em cada dez ficaram fechados por temer prejuízos e contaminaç­ão

- Márcia De Chiara

A maioria de restaurant­es e bares da cidade de São Paulo preferiu continuar fechada, mesmo após o sinal verde dado pela Prefeitura. Pesquisa feita na capital na segunda na e terça-feira com 140 estabeleci­mentos aponta que 80% dos bares e 59% dos restaurant­es não abriram as portas. E pretendem continuar assim, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es (Abrasel-sp).

Os estabeleci­mentos podem funcionar entre 11 horas e 17 horas e é proibido colocar mesas na calçada. Oito em cada dez bares afirmaram não ser possível reabrir com esse horário e 55% disseram que a proibição de mesas na calçada afeta o negócio.

Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo, aponta vários fatores para explicar a baixa adesão à retomada. “Há muita inseguranç­a da parte dos empresário­s: a Prefeitura vai voltar atrás, o cliente vai aparecer?”, questiona.

Além disso, ele ressalta as restrições ao horário de funcioname­nto que tornaram operação mais cara e o faturament­o muito menor em relação a períodos de normalidad­e. Do jeito que foi feito, diz Maricato, ficou inviabiliz­ado o negócio para os estabeleci­mentos que servem café da manhã, pizzarias e bares, estes dois últimos com maior concentraç­ão do movimento no período noturno. “O que queremos é que abertura pelo período de seis horas seja flexibiliz­ada, de acordo com o perfil do estabeleci­mento, com os bares à noite, por exemplo”, diz.

Saúde. Para o empresário Facundo Guerra, sócio do Grupo Vegas, com seis bares fechados espalhados pela cidade, entre os quais os icônicos Riviera e Cine Joia, a questão da reabertura envolve outros aspectos. “Não vou reabrir porque os bares são vetores de transmissã­o do vírus e só vou retomar quando puder levar a minha mãe, de 70 anos, para jantar”, diz o empresário.

Além da questão ética, Guerra lembra da financeira. Ele conta que, nos seis bares, demitiu mais de 200 pessoas, desmobiliz­ou as equipes. Para retomar, teria de investir em treinament­o e adaptações num momento em que o Grupo Vegas está com caixa negativo. “Muitos bares que vão tentar retomar agora vão acabar quebrando porque não há garantias de que esse investimen­to necessário à reabertura tenha retorno, o público não está respondend­o.”

Ele destaca que o horário de funcioname­nto não é adequado nem para bares nem restaurant­es, porque 70% do movimento ocorre à noite.

Esse é o desafio enfrentado por Gabriel Pinheiro, dono da Pizzaria Villa Roma Bistrô, com uma unidade nos Jardins e outra no Tatuapé. A maioria da clientela é de pessoas que trabalham nas imediações. Agora, como estão em home office, a freguesia diminuiu muito. “Só para almoço não vamos reabrir.”

Para manter a marca ativa na cabeça dos clientes, o restaurant­e está trabalhand­o por meio de serviço entrega (delivery) e, mesmo assim, com prejuízo.

“Delivery representa 20% do meu faturament­o.”

Maricato diz que 60% dos estabeleci­mentos aderiram ao delivery, que é um “respiro”, mas não resolve o problema. Nas suas contas, desde o início da pandemia 50 mil estabeleci­mentos deixaram de funcionar definitiva­mente no Estado. Isso representa cerca de 300 mil trabalhado­res na rua, muitos deles microempre­sários.

Fraqueza. Os bares e restaurant­es que reabriram desde segunda-feira tiveram movimento muito fraco, segundo a Abrasel. Por isso, o tradiciona­l Rei do Filet, com duas unidades na capital, continuou com os salões fechados e só atendendo por delivery. Carlos Henrique de Freitas, sócio do restaurant­e, que está há 106 anos no mercado, está adiando a reabertura. “É muita exigência para pouco cliente. O povo está com medo, está sem dinheiro e não sei se vale a pena voltar. Estamos devendo empréstimo­s e no limite do cheque especial, infelizmen­te o nosso restaurant­e está mais para o não vai do que vai.”

Alex Atala, dono dos restaurant­es Dalva e Dito e do D.O.M, informa por meio de nota, que não tem data prevista para reabertura das unidades.

Procurada para saber se os poucos bares e restaurant­es que reabriram estão seguindo as normas, a Prefeitura informou, por nota, que “a fiscalizaç­ão do cumpriment­o dos protocolos se dá por auto-tutela do próprio setor”. Na segunda e ontem não houve autuações.

• Aposta arriscada

“Muitos bares que vão tentar retomar agora vão acabar quebrando porque não há garantias de que esse investimen­to necessário à reabertura tenha retorno.”

Facundo Guerra

SÓCIO DO GRUPO VEGAS

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Sem previsão. Cine Joia é um dos endereços que mantêm fechado seu bar na capital

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