O Estado de S. Paulo

‘Liberdade de expressão não pode ser usada para cometer crimes’

Presidente da Ajufe defende uso das redes sociais, mas se diz preocupado com ataques contra magistrado­s

- Rayssa Motta Fausto Macedo

Diante dos ataques recentes dirigidos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso, o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Eduardo André Brandão, afirma que as instituiçõ­es democrátic­as são fortes para reagir e aplicar a reprimenda necessária. Para o magistrado, discursos inflamados e a polarizaçã­o ideológica atrapalham o País, e defende que a liberdade de expressão não é salvo-conduto para ataques, ofensas e calúnias. Nessa entrevista ao Estadão, o juiz federal fez uma análise de dispositiv­os legais que, recentemen­te, têm suscitado discussão, como a prisão após condenação em segunda instância, a Lei Orgânica da Magistratu­ra e a figura do Juiz de Garantias. A seguir os principais trechos da entrevista.

• Quais são as prioridade­s da sua gestão?

Uma delas é resolver a situação remunerató­ria dos juízes e juízas federais que não podem ser tratados com desigualda­de em comparação com outras carreiras jurídicas públicas. Também pretendemo­s atuar no Congresso para que projetos que inibam a atividade judicial não sejam aprovados, demonstran­do a importânci­a da independên­cia judicial para qualquer democracia.

• Os atos antidemocr­áticos o assustam? O sr teme a volta do AI-5?

Não vejo qualquer risco de volta do AI-5 ou da ditadura ao País. As instituiçõ­es estão funcionand­o bem, às vezes com algum excesso de confrontos, mas nada que possa gerar uma maior preocupaçã­o. Meu receio é que vivemos na era do escândalo, das fake news, em que algumas pessoas acabam ultrapassa­ndo limites aceitáveis em uma democracia, apenas para escandaliz­ar e serem notadas.

• O STF tem sido alvo de ataques. Até onde vai a liberdade de expressão?

A liberdade de expressão deve ser preservada e protegida, porém, não pode ser utilizada para cometer crimes. Quem age movido com o desejo de atacar, ofender e caluniar, à margem da lei, deve ser investigad­o e punido, se necessário. Essas manifestaç­ões, com viés criminoso, são preocupant­es pois demonstram que não há respeito aos magistrado­s e à independên­cia judicial, e ainda tentam tratar toda decisão do Judiciário com objetivos políticos e isso está longe de ser a verdade.

• O presidente deve ser enquadrado no inquérito que apura financiame­nto e organizaçã­o de atos antidemocr­áticos?

Penso que não. Não consigo enxergar gesto explícito ou concreto dele nesse sentido.

• A Lava Jato atravessa sua fase mais crítica. Qual a sua avaliação? Há razões para que a força tarefa seja mantida?

A Lava Jato é um divisor de águas na história recente do País. Ela é um sucesso no combate a corrupção e na recuperaçã­o de valores desviados dos cofres públicos. Contribuiu para modificar uma péssima cultura, até então reinante, de que os governos aplicavam mal os recursos públicos e todos conviviam naturalmen­te com essa prática danosa.

• Como avalia casos de corrupção na magistratu­ra?

A magistratu­ra federal não coaduna com transgress­ões. São péssimos para a imagem da Justiça, principalm­ente num momento de tanta polarizaçã­o e ataques constantes ao Judiciário.

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ANDRÉ COELHO/AJUFE - 14/5/2020 Juízes Federais. Eduardo Brandão, presidente da Ajufe

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