O Estado de S. Paulo

Trump e Obrador se reúnem em meio a avanço do vírus nos EUA e no México

- WASHINGTON

Autoridade­s americanas registram mais de 60 mil novos casos em 24 horas e país ultrapassa marca de 3 milhões de infectados; encontro marca trajetória de dois presidente­s que, apesar de ocuparem lados diferentes do espectro político, minimizam a gravidade da pandemia

Os presidente­s Donal d Trump, dos EUA, e Andrés Manuel López Obrador, do México, se reuniram ontem na Casa Branca. O primeiro encontro entre os líderes dos dois países vizinhos ocorreu no momento em que americanos e mexicanos registram recorde diários de novos casos de coronavíru­s – e Trump e Obrador são questionad­os em razão do avanço da pandemia.

Ontem, os EUA tiveram novamente mais de 60 mil casos em 24 horas e atingiram a marca de 3 milhões de infectados com 130 mil mortos. Os casos mais graves estão na Flórida, no Texas, no Arizona e na Califórnia. No total, quase 40 dos 50 Estados americanos registram um avanço da pandemia.

Na Flórida, 54 hospitais em 25 dos 67 condados relataram que não têm mais UTIS disponívei­s – outros 30 têm mais de 90% de ocupação. Apenas 17% de um total de 6 mil leitos de UTIS estão disponívei­s no Estado, que vem registrand­o cerca de 10 mil novos casos diários.

Já o México vem computando 6 mil novos casos em 24 horas e cerca de 900 mortos. Obrador vem sendo responsabi­lizado pelo desastre. O presidente mexicano adotou um discurso que minimizou a pandemia, dizendo que o vírus era “menos que uma gripe”, e pediu que as pessoas saíssem de casa e comessem em restaurant­es. Ele não usa máscara em público.

Talvez isso explique, segundo muitos analistas, a sintonia entre os presidente­s dos EUA e do México, dois populistas que se apresentam em campos ideológico­s antagônico­s – Trump, um conservado­r, e Obrador, um progressis­ta de esquerda. Ontem, os dois saíram da reunião na Casa Branca prometendo cooperação.

“Os mexicanos são fantástico­s. Gente muito trabalhado­ra”, disse Trump, que em 2016, ao lançar sua campanha à presidênci­a dos EUA, havia chamado os imigrantes mexicanos “estuprador­es” e “criminosos”. Obrador retribuiu a gentileza. “O senhor não nos tratou como colônia, pelo contrário, honrou nossa condição de nação independen­te.

Por isso estou aqui. Para dizer ao povo dos EUA que seu presidente se comportou com bondade e respeito.” Obrador se submeteu a um teste antes da visita para se certificar de que não tem covid.

O encontro foi organizado para celebrar a assinatura do “novo Nafta” – acordo de livre-comércio que inclui o Canadá –, mas teve ares de campanha eleitoral. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, recusou o convite. Para o americano, foi uma chance de mostrar que não está isolado, após a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê canadense, Justin Trudeau, terem recusado convites para um tête-à-tête com Trump.

Nos 19 meses desde que assumiu, Obrador não havia feito ne

nhuma viagem internacio­nal e escolheu visitar a Casa Branca justamente no meio da campanha eleitoral americana. Apesar de ainda contar com 60% de apoio, a popularida­de do presidente mexicano vem caindo e a reunião com Trump foi criticada por passar uma imagem submissa do México diante dos Estados Unidos.

“Os mexicanos trazem drogas e são estuprador­es”

“Os mexicanos são gente muito trabalhado­ra” Donald Trump ACIMA, AO LANÇAR SUA CAMPANHA, EM 2015, E ONTEM NA CASA BRANCA

 ?? NICHOLAS KAMM / AFP ?? Encontro. Donald Trump com o presidente do México, López Obrador, na Casa Branca
NICHOLAS KAMM / AFP Encontro. Donald Trump com o presidente do México, López Obrador, na Casa Branca

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