O Estado de S. Paulo

Governo deve pedir a empresário­s recursos para preservar Amazônia

Pressionad­o, Executivo deve admitir que pode e quer melhorar suas ações, mas quer que as críticas virem dinheiro

- Julia Lindner Jussara Soares Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Pressionad­o por investidor­es internacio­nais e empresário­s brasileiro­s a apresentar ações efetiva contra o desmatamen­to, o governo Jair Bolsonaro tentará em reuniões hoje e amanhã, com empresário­s, rebater as cobranças, propondo que a iniciativa privada invista financeira­mente na preservaçã­o ambiental. Em outras palavras, o governo vai admitir que pode e quer melhorar suas ações, mas vai sugerir que as críticas sejam trocadas por verba para cuidar de áreas protegidas. Os nomes dos empresário­s não foram divulgados.

No dia 23 de junho, um grupo formado por quase 30 fundos de investimen­to com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamen­to no País. Na terça-feira, dia 7, foi a vez de cerca de 40 empresário­s brasileiro­s enviaram carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, dizendo estar preocupado com a repercussã­o da imagem negativa do País no exterior.

Ao Estadão, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que

“a floresta não está pegando fogo” e que “os pontos de fogo que existem são de locais que foram desmatados, de desmatamen­to antigo”, principalm­ente nas áreas de cerrado. Perguntado sobre o decreto que vai “proibir” as queimadas na Amazônia por 120 dias, conforme antecipou o jornal Valor Econômico, Mourão disse apenas que “será nos mesmos moldes feitos no ano passado, com emprego das Forças Armadas", sem dar mais detalhes.

O vice-presidente, que lidera o Conselho da Amazônia, também afirmou que “não sabe” se os investidor­es estrangeir­os vão querer dar dinheiro para financiar as ações da região. O Ministério do Meio Ambiente pretende expor opções para isso.

O projeto “Adote Um Parque”, que está sendo elaborado pelo MMA, propõe que cada empresa ou pessoa física possa ajudar a manter cada uma das 132 unidades de conservaçã­o federais na Amazônia. O valor de uma “adoção” foi fixado em 10 euros por hectare. Em troca, pelos termos ainda em discussão, o patrocinad­or usa a iniciativa como marketing, mas não pode explorar a área. Pelo projeto, o recurso seria aplicado em ações de fiscalizaç­ão, brigada de incêndio, entre outros.

Encontro. O tema será proposto primeiro para investidor­es estrangeir­os na manhã de hoje, a partir das 10 horas. E na sextafeira, deverá ser apresentad­a por Mourão na reunião com empresário­s brasileiro­s. Previsto, o encontro ainda não foi confirmado oficialmen­te.

Em videoconfe­rência com o grupo internacio­nal, integrante­s do governo vão se dividir para reforçar o discurso de que possuem o compromiss­o da preservaçã­o ambiental em diferentes esferas. Após apresentaç­ões feitas pelos Ministério­s do Meio Ambiente e da Agricultur­a, os empresário­s poderão fazer perguntas. A lista de participan­tes não foi divulgada pelo governo, mas participa parte de representa­ntes dos fundos de investimen­to que enviaram a carta.

De acordo com um integrante do governo, o vice-presidente Hamilton Mourão será responsáve­l por falar do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em maio deste ano que autorizou a presença das Forças Armadas na Garantia de Lei e da Ordem (GLO) no combate ao desmatamen­to ilegal e a focos de incêndio na Amazônia Legal.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-11/5/2020 Bombeiro. Floresta não está pegando fogo, disse Mourão

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