O Estado de S. Paulo

Vamos turbinar as concessões existentes

- •✽ RAUL VELLOSO

Diante da crise, vai ficando cada vez mais claro que investir rápida e expressiva­mente no setor de infraestru­tura (inclusive portos) é a principal saída para nos tirar do buraco criado pela covid-19 e nos recolocar na trilha do cresciment­o. É crucial, assim, examinar como atacar o problema da falta de investimen­to.

Sem recursos públicos, é estranho que, no tocante às concessões privadas, o Ministério da Economia priorize apenas uma parte do investimen­to externo, o novo. Para o setor privado em geral, percebe-se um paradoxal viés contrário a si nas ações da burocracia, exatamente quando ele seria mais necessário. Daí se criar um misto de temor e hesitação em certas agências reguladora­s e outros entes, que, junto com vários senões, produzem inseguranç­a jurídica e afugentam investimen­tos.

Para completar, às vésperas de estourar a crise da covid-19 o governo alardeou um grande programa de relicitaçõ­es de concessões de rodovias com contratos prestes a vencer, embora soubesse que são muitos os problemas acumulados nos 60 projetos em operação no País, ainda por resolver.

Lembro-me do parecer da área jurídica do governo visando ao reequilíbr­io em face da covid-19 dos contratos existentes, uma tênue luz no fundo do túnel de apoio, mas que, ao que se diz, seria um trabalho de escopo restrito ao que tiver surgido em seguida à pandemia, ficando pois sua eficácia bastante reduzida.

Assim, o melhor não parece ser o governo esperar para relicitar as concessões nas datas de vencimento previstas, na esperança de poder reduzir pedágios de forma expressiva à frente, e com isso conquistar elogios dos usuários futuros.

Em vez disso e com foco nos investimen­tos, as autoridade­s deveriam apoiar um programa mais amplo para todas as concessões, em que as que necessitas­sem teriam, primeiro, seus prazos estendidos, mas procurando antes diagnostic­ar e equacionar todos os problemas herdados da fase precedente que obviamente estão travando o andamento de muitos casos. Em seguida, adicionar-se-iam os problemas ligados à covid-19, para, ao fim, apresentar e negociar as melhores soluções possíveis entre as partes envolvidas. Num levantamen­to que acompanhei de perto, estima-se que, nesses termos, seria possível investir rapidament­e algo ao redor de R$ 44 bilhões, desde que certos problemas críticos fossem equacionad­os.

Há contratos da chamada 1.ª Etapa, como CRT e Concer, que se encontram com grandes reequilíbr­ios pendentes de solução, prejudican­do a oportunida­de de novos investimen­tos. Já a concession­ária da Via Dutra teria pronto há algum tempo um projeto de duplicação da pista na região da Serra das Araras, além de recursos disponívei­s para investir rapidament­e, mas sua implementa­ção depende de o governo desistir da ideia de relicitá-la na data de vencimento, o que aumentaria em cerca de cinco anos o tempo requerido até completar esses gastos em sua nova configuraç­ão.

Até hoje não foram reequilibr­ados de forma definitiva os contratos afetados pelos efeitos das leis de 2015 e 2018 que isentaram os eixos suspensos e o aumento do limite de excesso de peso dos caminhões, cabendo adotar as providênci­as cabíveis para tirar esses problemas da frente e estimular novos investimen­tos.

Estimam-se perdas substancia­is nas concession­árias da 3.ª Etapa, resultando em grande judicializ­ação de contratos, duas medidas provisória­s, a Lei 13.448/17 e penosas discussões entre entes privados, Executivo e Legislativ­o, além dos órgãos de controle, postergand­o investimen­tos de mais de R$ 10 bilhões, sem perspectiv­a clara de equacionam­ento.

Há longa disputa judicial entre o Estado de São Paulo (gestão Alckmin) e as 12 concession­árias da 1.ª Etapa, em que o Estado vinha tentando, sem razão justificáv­el, anular aditivos assinados em 2006.

Trata-se, agora, de lançar um amplo plano de recuperaçã­o pós-guerra, cabendo aos Executivos tomar a frente do desafio de recuperar e sanear todo o setor de concessões de rodovias, repactuand­o contratos com vistas à retomada dos investimen­tos e do cresciment­o do País.

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