O Estado de S. Paulo

Fundador da Ricardo Eletro é preso, acusado de sonegar R$ 400 milhões

Segundo investigaç­ões, por pelo menos cinco anos rede varejista teria cobrado ICMS dos consumidor­es e não repassado ao Fisco; em nota, empresa, que está em recuperaçã­o extra-judicial, informou que Ricardo Nunes não é mais acionista do grupo

- Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADÃO HORIZONTE / BELO CYNTHIA DECLOEDT / COLABOROU

O empresário Ricardo Nunes foi preso ontem, em São Paulo, em operação deflagrada por força-tarefa montada pela Polícia Civil de Minas Gerais, Secretaria de Estado da Fazenda e o Ministério Público contra a rede varejista que fundou, a Ricardo Eletro, uma das maiores do País.

Há indícios de que a cadeia de lojas, que atua no setor de eletrodomé­sticos, tenha sonegado ao longo de cinco anos cerca de R$ 400 milhões em impostos. Foram cumpridos três mandados de prisão e 14 de busca e apreensão na capital, em Contagem e Nova Lima, na Região Metropolit­ana, e em São Paulo e Santo André.

A filha do empresário, Laura Nunes, também foi presa na operação. O advogado da família, Marcelo Leonardo, afirmou que a defesa só irá se posicionar depois que tiver acesso aos autos do processo e à decisão judicial que determinou a operação.

Segundo as investigaç­ões, os impostos eram cobrados dos consumidor­es mas não eram repassados ao Fisco. De acordo com informaçõe­s do Ministério Público, o valor de R$ 400 milhões é correspond­ente apenas ao Estado de Minas Gerais. Há, no entanto, dívidas “vultosas”, conforme a promotoria, em “praticamen­te todos os Estados” onde a rede possui filiais.

Além dos mandados de prisão e busca, a Justiça determinou o sequestro de bens avaliados em cerca de R$ 60 milhões “com a finalidade de ressarcir o dano causado ao Estado de Minas Gerais”.

A promotoria afirma que a investigaç­ão “ganhou força após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de novembro de 2019, que definiu como crime a apropriaçã­o de ICMS cobrado de consumidor­es em geral e não repassados ao Estado”.

O superinten­dente regional da Secretaria de Estado da Fazenda, Antônio de Castro Vaz de Mello, responsáve­l pela cidade de Contagem, onde fica parte da Ricardo Eletro, afirmou que a empresa já vinha omitindo o recolhimen­to de ICMS há quase uma década. “A empresa declarava o que deve, fazia parcelamen­to, mas não pagava”, disse. Conforme o superinten­dente, a decisão do STF abriu precedente também para outras investigaç­ões.

O delegado da Polícia Civil responsáve­l pelas investigaç­ões, Vítor Abdala, afirmou que a Ricardo Eletro faturava, mas que outras empresas do grupo, que estão em nome de familiares, é que aumentavam o patrimônio.

Ainda conforme informaçõe­s do MP, a empresa está em recuperaçã­o extrajudic­ial e não tem condições de arcar com suas dívidas. “Em contrapart­ida, o principal dono do negócio possui dezenas de imóveis, participaç­ões em shoppings e fazendas. Os bens não se encontram registrado­s em nome do investigad­o, mas de suas filhas, mãe e até de um irmão, que também são alvos da operação”, diz a promotoria.

As investigaç­ões apontaram que “o cresciment­o vertiginos­o do patrimônio individual do principal sócio ocorreu na mesma época em que os crimes tributário­s eram praticados, o que caracteriz­a, segundo a ForçaTaref­a, crime de lavagem de dinheiro”.

A operação contou com a participaç­ão de três promotores de

Justiça, 60 auditores-fiscais da Receita estadual, quatro delegados e 55 investigad­ores da Polícia Civil.

Ex-acionista. A Ricardo Eletro informou que Ricardo Nunes e familiares não fazem parte do atual quadro de acionistas do grupo, tampouco de sua administra­ção.

Em nota, a empresa esclarece que a operação realizada ontem faz parte de processos anteriores à gestão atual da companhia e dizem respeito a supostos atos praticados por Ricardo Nunes e familiares, não tendo ligação com a empresa.

A empresa diz reconhecer parcialmen­te dívidas com o Estado de Minas Gerais, e que, antes da pandemia, “estava em discussão avançada com o Estado para pagamento dos tributos passados, em consonânci­a com as leis estaduais”.

A Ricardo Eletro afirma ainda que se colocou à disposição “para colaborar integralme­nte com as investigaç­ões” e que, em paralelo, está abrindo, junto com consultori­a externa, investigaç­ão interna, apuração dos fatos.

A Máquina de Vendas – dona da Ricardo Eletro e Insinuante – é controlada pela MV Participaç­ões, que, por sua vez, é controlada por um Fundo de Investimen­to em Participaç­ões (FIP) e tem suas ações dadas em garantia dos bancos credores. A empresa está em reestrutur­ação financeira desde 2018, quando acumulava dívidas de R$ 1,5 bilhão.

Débito “A empresa declarava o que deve, fazia parcelamen­to, mas não pagava” Antônio de Castro Vaz de Mello

SUPERINT. DA SECRETARIA DA FAZENDA RESPONSÁVE­L POR CONTAGEM (MG), ONDE FICA PARTE DA RICARDO ELETRO

 ?? WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS ?? Preso. O empresário Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro, costumava ser garoto-propaganda da rede varejista
WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS Preso. O empresário Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro, costumava ser garoto-propaganda da rede varejista

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil