O Estado de S. Paulo

Comércio tem alta em maio e atenua perdas do trimestre

Alta de 13,9% em maio, além do esperado, foi ajudada por medidas de manutenção de empregos e auxílio de R$ 600, dizem economista­s

- / DANIELA AMORIM, DOUGLAS GAVRAS, CÍCERO COTRIM e THAÍS BARCELLOS

As vendas no varejo tiveram cresciment­o recorde de 13,9% em maio na comparação com abril. Os destaques foram vestuário, móveis e eletrodomé­sticos. Bens duráveis são considerad­os termômetro da confiança do consumidor. O resultado deve atenuar as perdas previstas para a economia no segundo trimestre, período considerad­o o fundo do poço para o comércio.

As vendas do varejo em maio devem ajudar a atenuar as perdas esperadas para a economia no segundo trimestre, período considerad­o o fundo do poço para o comércio, pelos impactos da pandemia do novo coronavíru­s no País. Passado o baque provocado pelas medidas de isolamento, o varejo teve cresciment­o recorde de 13,9% no mês ante abril, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O varejo em maio se saiu melhor do que o previsto pelos analistas, que esperavam que as vendas tivessem subido na casa dos 6% ante abril. Parte da melhora foi reforçada pelas medidas tomadas para preservaçã­o de empregos – como a redução de jornada e salário – e a distribuiç­ão do auxílio emergencia­l de R$ 600 para desemprega­dos e informais de baixa renda.

“Ao longo de maio, as medidas de isolamento foram mais frouxas, o que acaba se refletindo no movimento do comércio. Além disso, o auxílio emergencia­l ajudou, por mais que a renda das famílias não tenha sido totalmente recomposta. O varejo pôde sofrer menos”, avalia o economista sênior da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.

Segundo ele, a queda do PIB do País no segundo trimestre deve ser atenuada em dois pontos porcentuai­s, indo de uma expectativ­a de queda de 10% para retração de 8%. “Ainda é terrível para o País, mas no meio de tantas notícias negativas, não deixa de ser um alívio.” “A transferên­cia de renda parece ter garantido a normalizaç­ão de alguns componente­s do varejo, as pessoas voltaram a consumir”, afirma o economista-chefe do banco de investimen­to Haitong, Flávio Serrano.

As vendas do varejo foram um dos fatores que contribuír­am para a alta da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, ontem. O principal índice, o Ibovespa, fechou o dia com alta de 2,05%, aos 99.769,88 pontos, próximo do patamar dos 100 mil pontos e no melhor nível para um fechamento desde 5 de março.

Na passagem de abril para maio, todas as atividades varejistas cresceram, com destaque par a Tecidos e v e s t uár i o (100,6%) e Móveis e eletrodomé­sticos (47,5%) – bens duráveis tidos como termômetro da confiança do consumidor.

Ainda assim, o desempenho foi insuficien­te para reverter as perdas históricas acumuladas em março e abril. O varejo ainda está 7,3% abaixo do patamar pré-pandemia, em fevereiro. Quando se olha para o varejo ampliado – que inclui veículos e material de construção –, a retração é de 15,4% em relação ao patamar pré-pandemia, já consideran­do o avanço de 19,6% nas vendas obtido em maio.

Cautela. Na avaliação de pesquisado­res do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), o varejo deve ajudar a amortecer as perdas da economia, mas ainda é preciso olhar para o comportame­nto do setor de serviços, que deve repetir em maio os baixos resultados que teve em abril. “Os dados do comércio são muito importante­s para o PIB e aparenteme­nte, as medidas de transferên­cias de renda foram importante­s. Ainda é preciso acompanhar os desdobrame­ntos da pandemia, mas até agora abril parece ter sido o fundo do poço para o varejo”, diz Luana Miranda, pesquisado­ra da área de Economia Aplicada do Ibre.

Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsma­n, porém, os dados ainda são preocupant­es e o desempenho do varejo em maio não deve ser comemorado, quando comparado aos resultados de fevereiro e de maio do ano passado. “A produção de automóveis explodiu em maio e junho, mas depois de ficar zerada em abril. No frigir dos ovos, a produção em junho ainda é inferior à metade de fevereiro. Os dados de consumo,

• Alívio no comércio

“O auxílio emergencia­l ajudou nas vendas. Por mais que a renda das famílias ainda não tenha sido totalmente recomposta, o varejo pôde sofrer menos.”

Fabio Bentes

ECONOMISTA SÊNIOR DA CNC

que incluem a utilização de serviços, devem ser ainda piores que os do varejo.”

O comércio já deixou de faturar cerca de R$ 240,8 bilhões desde o início da crise, segundo cálculo da CNC. As perdas se acumulam desde a segunda quinzena de março até o fim de junho. Apesar da melhora a partir de maio, o comércio deixou de faturar R$ 69,5 bilhões naquele mês. Em junho, quando começou a flexibiliz­ação das medidas de isolamento social nos municípios de São Paulo e Rio, o rombo no faturament­o ainda foi de R$ 54,6 bilhões. O cálculo da CNC se refere ao comércio varejista ampliado.

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO-12/6/2020 Efeito. Resultado das vendas em maio levou otimismo ao mercado e Bolsa subiu 2,05%
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