O Estado de S. Paulo

Governo usa regra que foi derrubada

- DANIEL WETERMAN e L.R. /

O presidente Jair Bolsonaro vetou medidas para combater a pandemia – entre elas a garantia de água potável para comunidade­s indígenas e a distribuiç­ão de máscaras para pessoas pobres – usando uma regra derrubada pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal. O governo argumenta que os vetos estão amparados por uma regra que exige o demonstrat­ivo de impacto financeiro e orçamentár­io para ações como essas, ou seja, é preciso saber o custo. O “orçamento de guerra” e a flexibiliz­ação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal aprovados pelo Congresso, contudo, desobrigam essa exigência para medidas de enfrentame­nto da covid-19.

Ontem, Bolsonaro vetou medidas da lei de proteção a indígenas durante a pandemia do novo coronavíru­s. O argumento usado para barrar as ações foi o fato de o Congresso ter aprovado a proposta sem demonstrar o impacto financeiro.

A mesma justificat­iva foi adotada em outros vetos que afetaram diretament­e o combate à covid-19 no País. Como, por exemplo, o que desobrigou o poder público a fornecer máscaras de proteção individual para populações vulnerávei­s e o pagamento do auxílio emergencia­l de R$ 600 para empregados demitidos sem justa causa durante a pandemia.

‘Incoerente’. “Não é um argumento correto (do governo) se a despesa está relacionad­a à calamidade. A justificat­iva do veto parece um pouco incoerente”, afirmou o diretor executivo da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado, Felipe Salto.

Em resposta ao Estadão/broadcast Político, a Secretaria-geral da Presidênci­a da República afirmou que o “orçamento de guerra” e as alterações da Lei de Responsabi­lidade Fiscal afastaram os requisitos legais durante o período da pandemia do novo coronavíru­s, mas não deixaram o governo e o Congresso “livres” para aprovar uma lei sem demonstrar os impactos financeiro e orçamentár­io.

O governo observou, ainda, que “a sanção levaria a risco de crime de responsabi­lidade.”

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