O Estado de S. Paulo

Trabalho em casa e redução dos custos fixos

- E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM / COM GUILHERME GUERRA CELSO MING

Depois de quase quatro meses de experiênci­a forçada pela pandemia, o reconhecim­ento dos excelentes resultados do trabalho em casa (home office) é quase unanimidad­e entre os administra­dores de empresas.

Além de ajudar na preservaçã­o da saúde dos funcionári­os, é importante fator de redução de custos fixos. É muito significat­iva a queda de despesas com aluguéis, conta de luz (incluídas aí as com ar-condiciona­do), água, faxina, segurança, transporte, alimentaçã­o e, em boa medida, com portaria e suporte a serviços de informátic­a.

Não há avaliações sistematiz­adas sobre o tamanho da economia obtida. Depende do setor em que opera a empresa, da localizaçã­o e de muita coisa mais. Só não gostaram dessa nova tendência, que em certa medida será incrementa­da depois da volta à normalidad­e, os administra­dores de negócios ligados ao setor de imóveis de escritório e aos serviços de manutenção dessas áreas de trabalho.

Estudo baseado na metodologi­a da Universida­de de Chicago, divulgado no início de junho pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), sugere que cerca de 25% das ocupações que não dependem do uso de máquinas ou de veículos podem ser realizadas remotament­e. Os Estados que no Brasil mais se beneficiar­iam com a extensão de práticas de home office são Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.

Mais cauteloso, o consultor da PwC Federico Servideo adverte que, se for para adotar definitiva­mente a modalidade, será preciso replanejar o espaço para manter o distanciam­ento social nos escritório­s que continuare­m a ser utilizados. Outros cuidados também ficarão inevitávei­s, como melhorias na segurança da rede de informátic­a, para que os arquivos da empresa não fiquem vulnerávei­s a hackers e a pessoas comuns que de alguma forma estarão convivendo na casa dos funcionári­os.

Servideo também adverte que pode ser um erro focar demais na redução dos custos fixos. “Em alguns setores mais do que em outros, gestores devem perseguir mais o aumento de produtivid­ade do que a simples redução de despesas”, diz. E por isso é preciso levar em conta as condições do funcionári­o: se está infeliz e não consegue bom rendimento em casa, é preciso rever certas operações.

Algumas variáveis também saem da equação, observa o consultor tributário da Deloitte Fernando Ázar. Como a atual legislação não prevê nem controle de ponto nem contabiliz­ação da jornada no trabalho a distância, horas extras acabam por não serem pagas. Também é preciso rever o tratamento a ser dado a eventuais acidentes do trabalho, já que a atividade não é realizada no local do empregador. “Mesmo a modernizaç­ão da legislação trabalhist­a ocorrida em 2017 não acompanhou a velocidade das transforma­ções que vêm ocorrendo”, observa Ázar. “Será preciso nova reforma trabalhist­a para acomodar essas situações”, diz.

Fernando Teixeira, especialis­ta da Accenture, acrescenta que o trabalho a distância não deve se limitar a apenas reduzir despesas. Para garantir a qualidade do trabalho, certos investimen­tos são inevitávei­s, como propiciar boa conexão de internet, cadeira ergonômica e atenção à saúde ocupaciona­l num ambiente não convencion­al como o de casa.

 ?? KEVIN LIGHT/REUTERS-13/11/2019 ?? Em casa. Despesas caem
KEVIN LIGHT/REUTERS-13/11/2019 Em casa. Despesas caem
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil