O Estado de S. Paulo

Empresário­s pressionam Mourão para conter desmate

Em encontro com empresário­s de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, vice-presidente assumiu compromiss­os; avaliação dos participan­tes do debate é de que governo entendeu sua responsabi­lidade no combate ao desmatamen­to da Amazônia

- / CRISTIANE BARBIERI, CLARICE COUTO, MARIANA DURÃO, DANIEL WETERMAN E MÔNICA SCARAMUZZO

Em reunião com executivos de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, o vice Hamilton Mourão foi pressionad­o e assumiu compromiss­os para tentar conter o desmatamen­to na Amazônia. Empresas de agronegóci­o relataram que a soja já enfrenta boicote externo. Segundo o Inpe, o desmatamen­to na região cresceu 10,65% em junho ante junho de 2019.

A reunião de um grupo de oito empresário­s brasileiro­s com o vice-presidente Hamilton Mourão terminou num tom diferente do encontro realizado na quinta-feira com investidor­es estrangeir­os. Há dois dias, o governo basicament­e tentou se esquivar das responsabi­lidades sobre o aumento do desmatamen­to na Amazônia. Mas, ontem, sob a pressão de executivos de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, acabou assumindo alguns compromiss­os.

“Hoje (ontem), o vice-presidente foi afirmativo ao dizer que o governo vai fixar metas para reduzir o desmatamen­to e não tergiverso­u como ontem (quinta-feira). O discurso está mudando, o governo já entendeu que o combate a atos ilegais e criminosos é responsabi­lidade dele”, disse Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBA) e ex-governador do Espírito Santo. “Conseguimo­s avançar, mas só com atos concretos é que criaremos outra visão da opinião pública internacio­nal. A bola está do outro lado.”

Segundo um dos participan­tes do encontro, que pediu para não ser identifica­do, os presidente­s de empresas deram relatos fortes ao vice-presidente sobre os efeitos do desmatamen­to na Amazônia nos negócios e na economia. Empresas de agronegóci­o relataram que a soja brasileira começa a enfrentar boicotes em alguns países, por exemplo. A saída dos fundos de investimen­to também tem potencial de causar danos nos financiame­ntos às empresas privadas de maneira geral.

Os empresário­s sugeriram a Mourão iniciativa­s a serem adotadas pelo governo, como assumir o controle do rastreamen­to de todo o gado. O governo já teria a expertise e o programa não teria grandes impactos nos cofres públicos.

Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegóci­o (Abag), Marcello Brito, a principal notícia da reunião foi a promessa de um plano de redução do desmatamen­to na Amazônia com metas semestrais até 2022, embora não tenha dito qual será essa meta. “Não existe bala de prata na Amazônia, nada é simplista, mas nós notamos por parte dele compromiss­o e boa vontade”, disse Britto.

“Houve uma inflexão. É positivo o Estado dizer: reconhecem­os que é grave e vamos tomar medidas”, disse Marina Grossi, presidente do Conselho Empresaria­l Brasileiro para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l . “Do lado dos empresário­s, a principal mensagem é que preservaçã­o e produção podem conviver.”

Em carta enviada esta semana a Mourão e representa­ntes do Legislativ­o e Judiciário, o grupo de empresário­s locais – que inclui pesos pesados como Vale, Shell, Marfrig e Natura – cobrou ações firmes do governo no combate ao desmatamen­to e falou em “preocupaçã­o com o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior”.

Após o encontro, a Cargill – que foi representa­da no encontro pelo seu presidente, Paulo Sousa – divulgou nota defendendo a “aplicação integral das normas aplicadas no código florestal”, assim como “ações claras de comando e controle contra o que foge e que é ditado pelo código”. E reforçou seu compromiss­o em transforma­r as cadeias de suprimento­s que abastecem a companhia para que não haja desmatamen­to. “Sabemos que há trabalho a ser feito e estamos acelerando nossos esforços nessa área, incluindo soluções inovadoras economicam­ente viáveis para os agricultor­es”, informou a companhia.

Também em nota, o presidente da Suzano, Walter Schalka, disse que a reunião foi positiva. “Reforça a necessidad­e de dialogarmo­s e construirm­os juntos, entes públicos, iniciativa privada e sociedade em geral, um caminho que permita ao Brasil assumir um papel de protagonis­mo nas discussões ambientais globais.”

A Shell, representa­da no encontro pelo seu presidente, André Araújo, divulgou nota afirmando que “se coloca à disposição para trabalhar com o governo no Conselho da Amazônia. ”

“Houve uma inflexão. É positivo o Estado dizer: reconhecem­os que é grave.”

Marina Grossi

PRESIDENTE CEBDS

“O vice foi afirmativo ao dizer que vai fixar metas para reduzir desmatamen­to.”

Paulo Hartung

PRESIDENTE DA (IBA)

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -17/4/2020 Outro dia. Na quinta-feira, reunido com investidor­es estrangeir­os, Mourão disse que os interesses deles eram comerciais

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