A melhora dos sinais vitais
A reação do varejo e da indústria é ampla, mas o emprego continua muito mal.
Os sinais vitais da indústria e do comércio melhoram de forma disseminada, em quase todos os segmentos da produção e do varejo e na maior parte do País. A amplitude da reação depois do tombo de abril é o detalhe mais animador dos últimos dados setoriais. O mais sombrio, naturalmente, é a piora das condições de emprego. A desocupação e a subutilização da mão de obra já eram muito altas no começo do ano, antes da recessão ocasionada pela pandemia. O presidente e sua equipe jamais haviam mostrado preocupação com o problema até o surgimento da nova crise.
As ações de apoio às famílias mais vulneráveis, comparáveis às políticas implantadas em dezenas de outros países, contribuíram para a preservação de algum poder de consumo. Passado o choque de abril, famílias voltaram às compras, ainda com muita cautela, e ao mesmo tempo a atividade aumentou em grande parte da indústria.
De abril para maio as vendas do varejo do dia a dia aumentaram 13,9%, mas ainda houve recuo de 7,2% em relação ao volume de um ano antes. O movimento cresceu nos oito grandes segmentos cobertos pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os maiores saltos mensais ocorreram nos grupos de tecidos, vestuário e calçados, com aumento de 100,6%, e de móveis e eletrodomésticos, com variação de 47,5%. O menor foi registrado nas vendas de combustíveis e lubrificantes (5,9%). O chamado varejo ampliado inclui mais dois grandes segmentos, o de veículos e peças e o de material de construção.
As lojas de veículos, motos e peças venderam 51,7% mais que em abril, mas ficaram muito longe de compensar a queda acumulada no ano. De janeiro a maio o total vendido foi 22,5% menor que o dos primeiros cinco meses de 2019. A crise continua severa no setor. No primeiro semestre as montadoras produziram 729,5 mil veículos, 50,5% menos que de janeiro a junho do ano passado.
O emprego nas fábricas de veículos, já reduzido no ano passado, continuou em queda e em junho foi 4% inferior ao de um ano antes, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já iniciada, a recuperação do ramo automobilístico está muito longe de se completar. Os problemas dessa indústria têm um significado especial para a economia, por causa de seu efeito difuso numa rede muito ampla de atividades.
A indústria automobilística tem sido afetada também, há alguns anos, pela crise na Argentina, mercado muito importante. Neste ano a perda aumentou com a crise em outros países latino-americanos. No primeiro semestre, as exportações do setor, incluídas máquinas agrícolas e rodoviárias, totalizaram US$ 2,97 bilhões e ficaram 40,8% abaixo das de janeiro a junho de 2019. A excessiva dependência do mercado latino-americano, especialmente do argentino, é um dos pontos fracos do setor.
Apesar dos muitos entraves ao crescimento geral da economia, a melhora dos sinais vitais do varejo e da indústria parece confirmar o fim da pior fase. Em maio a produção industrial cresceu em 20 dos 26 grandes segmentos e em 12 dos 15 locais pesquisados.
O aumento da produção industrial em maio, de 7% em relação a abril, foi muito favorecido pelo setor automobilístico, embora a reação tenha ocorrido na maior parte dos segmentos. O conjunto da indústria paulista produziu 10,6% mais que em abril. No Paraná o aumento foi de 24,1%, a maior taxa nacional. Em Pernambuco a alta foi de 20,5%. Pará, Ceará e Espírito Santo foram as áreas com recuo.
Mas é preciso manter a perspectiva ampla. Em maio a produção da indústria foi 21,9% menor que a de um ano antes. No período de janeiro a maio, comparado com os cinco meses correspondentes de 2019, o recuo foi de 11,2%. A indústria já havia encolhido 1% no ano passado e até agora nenhuma iniciativa foi indicada pelo governo para revitalizar e modernizar o setor. Bem antes da pandemia a maior parte da indústria brasileira estava enfraquecida e muito distante da posição, ocupada em outras fases, de grande foco de dinamismo e de modernização. É urgente reindustrializar o País.
Reação do varejo e da indústria é ampla, mas o emprego continua muito mal