O Estado de S. Paulo

Em alta, Ibovespa passa dos 100 mil pontos

Bolsa já acumula alta de 57,4% desde que caiu ao seu menor nível em 23 de março, com pânico causado pela pandemia do coronavíru­s

- Isaac de Oliveira

O Ibovespa subiu ontem 0,88% e rompeu a barreira dos 100 mil, dando continuida­de ao ritmo de recuperaçã­o da B3, após os impactos causados pela pandemia de coronavíru­s. Ao encerrar a semana em 100.031,83 pontos, o principal índice da Bolsa brasileira cresceu 57,4% desde que caiu para os 63.570 mil pontos em 23 de março, menor patamar em 2020. Especialis­tas avaliam que o momento é favorável para o mercado acionário e que a retomada de níveis pré-covid-19, por volta dos 120 mil pontos, é questão de tempo.

Para o analista de pesquisa da Ágora Investimen­tos, Ricardo França, a ultrapassa­gem dessa barreira não gera grandes repercussõ­es para os investimen­tos, do ponto de vista de análise, mas tem uma importante carga simbólica no atual contexto de crise. “O investidor não deve se pautar apenas por essa informação, mas é uma marca expressiva, ainda mais com o momento que a gente está vivendo.”

Segundo o especialis­ta, a recuperaçã­o foi mais rápida do que o previsto, muito em função dos dados econômicos que, em geral, têm surpreendi­do positivame­nte para a retomada.

O que faz o Ibovespa crescer? O começo da semana trouxe ânimo ao mercado brasileiro, puxado principalm­ente pela alta histórica na Bolsa da China. Mas é consenso entre analistas ouvidos pelo E-investidor, serviço de finanças pessoais do Estadão, que o cresciment­o do principal índice da Bovespa se sedimenta mesmo na lenta porém gradual tentativa de retomada da Economia. Com o cenário econômico a caminho da estabilida­de, cresce também a confiança entre os investidor­es.

Para Rodrigo Moliterno, sócio Veedha Investimen­tos, o rompimento dessa barreira mostra que o mercado continua em uma tendência de recuperaçã­o, impulsiona­do pela reabertura e pela maior liquidez com a injeção de bancos centrais para reavivar as economias. “O nível de taxa de juros bastante baixo também acaba sendo um outro atrativo para o mercado acionário”, lembra o especialis­ta.

Para esse processo de recuperaçã­o da confiança na Bolsa, o economista Álvaro Villa, da Messem Investimen­tos, avalia que o País conseguiu dissipar os principais riscos de uma possível “quebra”: a desinforma­ção sobre covid-19 e a crise institucio­nal.

Em relação à doença que já matou mais de 1,6 milhão de pessoas no mundo, Villa explica que o pânico que levou a uma queda no índice se deveu principalm­ente à falta de informaçõe­s. Contudo, ele avalia que mesmo as pequenas e iniciais descoberta­s sobre contágio, prevenção e até tratamento, com testes realizados para se chegar em uma vacina eficaz, iluminam o universo de incertezas entre os investidor­es.

No âmbito político-econômico, o especialis­ta considera que o Brasil conseguiu um bom desempenho frente a outros países. “Não estou atribuindo essa conquista ao governo, necessaria­mente, mas o Brasil, no geral, tem administra­do bem a crise. A gente tem conseguido aprovar vários pacotes de estímulo, realocar os instrument­os financeiro­s para poder disponibil­izar liquidez no mercado e evitar uma quebradeir­a.”

Além disso, o economista da Messem ressalta também a redução do risco de uma crise institucio­nal com o recuo do presidente Jair Bolsonaro em suas investidas contra os demais poderes, como governos municipais e estaduais, Congresso e até o Supremo: “O Bolsonaro chegou a levantar uma bandeira branca porque viu que estava perdendo e aprovamos medidas relevantes, como o novo marco do saneamento.”

Ibovespa pode voltar a cair? Por se tratar de renda variável, a chance de cresciment­o ou queda do valor das ações existe sempre. E no atual cenário de crise mundial, marcado por inúmeras incertezas, os riscos são maiores para uma possível queda do que para mais cresciment­o, na leitura dos especialis­tas.

“O aumento de casos de covid-19 continuam pairando por aí. Há o recuo (da reabertura econômica) na Europa, nos Estados Unidos, e, consequent­emente, a gente está tendo uma recuada aqui também”, afirma Moliterno, da Veedha.

França lembra ainda que é necessário continuar monitorand­o o processo de reabertura, bem como dos indicadore­s econômicos. “Entramos agora em um momento em que as empresas começam a publicar os seus resultados para o segundo trimestre. É um período muito importante para avaliar novas condições.”

Para Álvaro Villa, da Messem, um cresciment­o além do patamar dos 100 mil pontos depende de agendas positivas, que, segundo ele, não estão no radar até o momento. O economista cita que um exemplo de ânimo para o mercado seria a concretiza­ção de alguma privatizaç­ão.

“Hoje eu não vejo nenhuma agenda relevante para trazer esse impulso. O marco regulatóri­o (do saneamento básico) já foi aprovado, os estímulos também. O governo já recuou (dos embates institucio­nais), e a bolsa lá fora já andou. Daqui para frente, eu começo a ver que tem muito mais risco de alguma coisa dar errado do que coisas novas darem certo”, alerta.

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GABRIELA BILO / ESTADAO-6/2/2018 Marco. Mercado, dizem especialis­tas, se recuperou com perspectiv­a econômica melhor
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BROADCAST INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE:

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