O Estado de S. Paulo

Vota Fundeb

- ✽ Priscila Cruz e Caio Callegari COFUNDADOR­A E PRESIDENTE EXECUTIVA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO; E COORDENADO­R DE PRODUÇÃO TÉCNICA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO ✽

Com o anúncio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de que o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica e de Valorizaçã­o dos Profission­ais da Educação (Fundeb) está prestes a ser votado, estamos diante de um momento histórico. Não é exagero. A aprovação da PEC 15/15 concretiza­rá não apenas a continuida­de de uma política bemsucedid­a, mas legará à sociedade brasileira um modelo de financiame­nto da educação básica melhorado, mais justo e mais forte.

Antes da covid-19, a importânci­a do Fundeb para a educação básica brasileira já era grande. Com a pandemia, a matéria ganhou relevância ainda maior. Já são mais de cem dias de aulas suspensas, que significam queda na aprendizag­em, aumento da inseguranç­a alimentar dos alunos, da depreciaçã­o da infraestru­tura escolar e das desigualda­des e enfraqueci­mento do vínculo das crianças e dos jovens com a escola e os professore­s.

Sem o fundo haveria uma explosão abrupta de subfinanci­amento crítico na educação já a partir do ano que vem, afetando 62% dos municípios brasileiro­s; e um aumento da desigualda­de no financiame­nto educaciona­l, que cresceria 24 vezes. Consequent­emente, seria aprofundad­o o fosso de oportunida­des de aprendizag­em entre os mais ricos e os mais pobres, situação que explica parte da vexatória desigualda­de socioeconô­mica do Brasil. Vale lembrar que na educação básica investimos por aluno apenas 44% do investimen­to médio nos países desenvolvi­dos.

Na prática, sem o Fundeb corremos sério risco de viver – por anos – num país com escolas fechadas e alunos sem condições dignas para aprender, sobretudo em locais vulnerávei­s. Se a inércia prevalecer, demoraremo­s para nos recuperar dos efeitos da pandemia na educação e em todas as áreas que dela dependem: saúde, cresciment­o econômico, segurança, distribuiç­ão de renda, emprego, entre outras.

Para evitar isso precisamos defender o Fundeb. Ao fazer uma redistribu­ição de recursos de acordo com o número de alunos em cada rede de ensino, o fundo tornou viável o aumento da taxa de aprendizag­em adequada no ensino fundamenta­l, entre 2007 e 2017, de 28% para 60%, uma vez que políticas educaciona­is bem-sucedidas demandam regularida­de de recursos para serem mantidas e aprimorada­s.

Neste momento temos a oportunida­de de ampliar esses ganhos, por meio uma nova modelagem para o fundo, com o potencial de impulsiona­r mais equidade, mais oportunida­des de aprendizag­em e maior cooperação interfeder­ativa. Assim, ainda que não seja um remédio mágico, o novo Fundeb pode ser a pedra angular para o País que queremos construir nos próximos anos.

Felizmente, estamos muito próximos de um desfecho positivo para esse debate, que totaliza três anos na Câmara dos Deputados, um caminho de discussões qualificad­as envolvendo várias organizaçõ­es, especialis­tas e profission­ais do setor, em que o Todos Pela Educação contribuiu ativamente. Fizemos diversas propostas, simulações e estudos técnicos, identifica­ndo fontes de recursos para o aumento da contribuiç­ão da União (fundamenta­l para o equilíbrio federativo no financiame­nto da educação), além de análises sobre formatos de distribuiç­ão de recursos em favor da qualidade e da equidade. Também sugerimos avaliação e revisão regular do novo Fundeb. Dessa forma, o mecanismo teria seu desenho aprimorado para combinar distribuiç­ão de mais recursos com melhores resultados.

Após esse longo debate sobre diferentes caminhos a serem seguidos, o Brasil está pronto para não apenas perenizar o Fundeb, mas também votar um “novo Fundeb”, permanente, maior e melhor, com mais justiça redistribu­tiva e maior eficiência operaciona­l, como sempre defendido pelo Todos Pela Educação.

Esse é um começo fundamenta­l para lidarmos com os atuais desafios da educação, que exigem ações urgentes e emergencia­is (dando resposta aos efeitos imediatos da pandemia sobre a educação) e também estruturai­s e permanente­s, como o novo Fundeb. Além disso, a aprovação demarcará que, a despeito da inação da atual gestão do Ministério da Educação, o protagonis­mo do Congresso Nacional é capaz não só de evitar retrocesso­s, mas, principalm­ente, de avançar com uma agenda efetiva para a educação brasileira.

Num país como o nosso, de economia pouco complexa e cidadania ainda em construção, quando a crise vem, saúde, renda, emprego e direitos são, constantem­ente, ameaçados. Devemos entrar de vez na sociedade global do conhecimen­to, com uma matriz econômica avançada e justiça social, e só conseguire­mos fazêlo de forma sustentada por meio de uma educação básica de qualidade para todos, berço da produção científica, da diversific­ação produtiva, da qualificaç­ão para o trabalho e da cidadania.

O futuro do País depende da educação, que, por sua vez, depende de um novo Fundeb permanente, equitativo e continuame­nte aprimorado. Esse é o marco para a retomada do desenvolvi­mento pós-pandemia. Sua aprovação será uma sinalizaçã­o inequívoca de que o Brasil pode, sim, dar certo.

Sua aprovação será uma sinalizaçã­o inequívoca de que o Brasil pode dar certo

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