O Estado de S. Paulo

EUA batem recorde e registram mais de 67 mil novos casos em 24 horas

Pela primeira vez em três meses, aumenta também a média diária de mortes dos últimos sete dias; situação mais grave está nos Estados mais populosos do país – Flórida, Texas e Califórnia –, onde o número de internaçõe­s vem crescendo e saturando os hospitai

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Os EUA registrara­m ontem outro recorde de novos casos de covid-19 em um único dia. Ao todo, foram mais de 67 mil notificaçõ­es – uma média de 44 por minuto. A situação é mais grave nos Estados da Flórida, Texas, Arizona e Califórnia. Autoridade­s sanitárias indicaram ainda outro dado preocupant­e: o número de mortes, que vinha caindo, começou a subir novamente, duas semanas depois de a quantidade de contaminaç­ões começar a crescer.

A semana fechou com uma média diária de 608 mortos por covid-19 nos EUA – a primeira semana de julho teve 471 óbitos. Especialis­tas dizem que os números ainda estão longe do pico da pandemia, em meados de abril, quando os americanos registrava­m cerca de 2,2 mil mortos a cada 24 horas. No entanto, o cresciment­o significa o fim dos três meses de queda ininterrup­ta na quantidade de vítimas do vírus.

“Sempre dissemos que as mortes aumentaria­m. Esta é a prova”, disse Peter Jay Hotez, diretor da escola de medicina tropical do Baylor College, no Texas, Estado que vem registrado uma diminuição dramática de leitos de hospital desde o início de julho. Alguns epidemiolo­gistas dizem que a redução no número de mortes nos últimos três meses ocorreu em razão de um avanço no tratamento da doença. Além disso, a faixa etária dos novos infectados caiu – e os jovens têm maior resistênci­a.

Mesmo assim, os cientistas pediam cautela e indicavam que as duas primeiras semanas de julho seriam decisivas para estabelece­r uma tendência. “Ainda estamos aguardando”, disse Sean Ellis, porta-voz do Departamen­to de Saúde de Louisiana, que também vem registrand­o recordes de casos e hospitaliz­ações.

Ontem, Thomas Dobbs, médico do Departamen­to de Saúde do Estado do Mississipp­i, disse que 26 congressis­tas, entre senadores e deputados estaduais, estão com covid-19 – um em cada seis representa­ntes do Legislativ­o local. Entre os infectados estão o presidente da Câmara dos Deputados, Philip Gunn, e o vice-governador, Delbert Hosemann.

Com os números divulgados ontem, os EUA registram mais de 3,2 milhões de infectados e cerca de 135 mil mortos por covid-19 desde o início da pandemia, no fim de fevereiro. Anthony Fauci, médico que comanda a força-tarefa da Casa Branca contra a covid-19, voltou a dizer que não existe uma “segunda onda” do vírus no país. “Nós nem sequer saímos da primeira”, disse o chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosa­s.

No fim de junho, em depoimento ao Congresso, Fauci disse que os EUA caminhavam para uma “tempestade perfeita” e alertou que, se nada for feito, o país poderia atingir a marca de 100 mil casos por dia – uma declaração que a Casa Branca considerou exagerada. Após o desastre dos últimos dias, segundo Peter Jay Hotez, o cenário não parece mais impossível de se concretiza­r. “Estamos nos aproximand­o do apocalipse previsto por Fauci”, afirmou.

A pandemia vem afetando também a campanha pela reeleição de Donald Trump. Ontem, segundo pesquisa da ABC News e do instituto Ipsos, dois terços dos americanos desaprovam a resposta do presidente à crise – 67% rejeitam as ações de Trump, enquanto 33% aprovam. Para a Casa Branca, o mais preocupant­e das últimas sondagens é que popularida­de do presidente vem caindo entre eleitores independen­tes e republican­os.

A seis semanas da convenção republican­a, que marca a oficializa­ção do nome de Trump como candidato do partido, os estrategis­tas do presidente enfrentam uma série de obstáculos na organizaçã­o do evento, que deveria ser o ponto alto da campanha.

Alguns aliados reclamam que ainda não há uma estratégia definida para enfrentar o democrata Joe Biden. Outros apontam para problemas mais graves, como o fato de a cidade de Jacksonvil­le, sede da convenção, estar localizada na Flórida, epicentro das contaminaç­ões nos EUA. Até agora, pelo menos seis senadores republican­os já disseram que não comparecer­ão ao evento, que corre o risco de ser esvaziado.

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