O Estado de S. Paulo

ESCÂNDALO SEXUAL DEIXA SEUL EM CHOQUE

Prefeito queria combater mudança climática e criar empregos, mas denúncia o levou à morte

- / NYT

Em entrevista na quarta-feira, o prefeito de Seul, Park Won-soon, falou apaixonada­mente sobre criação de empregos e combate às mudanças climáticas em um mundo póspandemi­a. Era parte de um discurso que abordava a construção de uma cidade mais inovadora e segura para as mulheres.

No mesmo dia, uma de suas secretária­s foi à polícia, acusando-o de assédio sexual. Ela descreveu como Park fez contatos físicos indesejado­s e enviou textos desumanos e sexualment­e sugestivos pelo Telegram tarde da noite.

No dia seguinte, Park ligou para avisar que estava doente e cancelou sua agenda. Em uma mesa na residência oficial, deixou um bilhete para sua família, pedindo que seu corpo fosse cremado e as cinzas espalhadas ao redor dos túmulos de seus pais em sua cidade natal. “Sinto muito por todos e agradeço a todos que estiveram comigo na minha vida”, escreveu à mão. “Sempre sentirei muito pela minha família, a quem eu só trouxe dor. Adeus, pessoal.” Horas depois, Park foi encontrado morto em uma colina no norte de Seul.

Ele não foi explícito sobre o motivo de ter acabado com sua vida. Mas, na Coreia do Sul, o sentimento do público em relação a uma figura proeminent­e envolvida em escândalos é uma mistura de indignação e choque. Depois que o presidente Roh Moo-hyun se matou, em 2009, após acusações de corrupção, muitos sul-coreanos o considerar­am vítima de vingança política por seus inimigos conservado­res.

Em seus nove anos como prefeito de Seul, Park conduziu uma série de iniciativa­s políticas. Sua liderança brilhou na luta contra o coronavíru­s na capital, uma cidade de 10 milhões de habitantes que conteve o surto e registrou apenas 1.390 casos.

Quando a ambulância entrou no Hospital da Universida­de

Nacional de Seul, às 3 horas, centenas de funcionári­os e apoiadores estavam lá. Um homem gritou: “Como você pode ir agora, com tanto trabalho incompleto?”

O governo da cidade pediu que a imprensa evite relatar as alegações não confirmada­s contra Park, em uma aparente referência a detalhes obscuros de má conduta sexual que circulam nas mídias sociais. A família emitiu uma declaração por meio de seu assessor, pedindo à mídia que não reproduzis­se “acusações unilaterai­s ou informaçõe­s infundadas”.

As redes sociais da Coreia do Sul se encheram de mensagens de despedida. Mas também houve pessoas que se recusaram a esquecer as acusações do movimento #Metoo contra ele. Quase 250 mil pessoas assinaram uma petição online contra um funeral extraordin­ário de cinco dias para Park.

“Agora que Park Wonsoon está morto, as alegações de assédio sexual serão encerradas sem investigaç­ão”, afirma a petição. “Mas temos certeza de que a morte dele foi honrosa?”

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SEOUL CITY HALL HANDOUT/EFE Admiradore­s. Altar em homenagem a Park no Hospital da Universida­de Nacional de Seul

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