O Estado de S. Paulo

Combate ‘começou tarde’, diz Mourão

Vice-presidente admite que governo demorou a adotar medidas contra desmatamen­to; mas reclama de recursos para custear operações

- Eliane Cantanhêde

O vice-presidente Hamilton Mourão admite que a operação de combate ao desmatamen­to na Amazônia “começou tarde” e que, por isso, haveria uma sucessão mensal de resultados negativos e o recorde anunciado ontem para um mês de junho ( mais informaçõe­s nesta página). Diz ainda que “os nossos mecanismos de monitorame­nto são péssimos” e que um grave problema do setor é a falta de dinheiro: “a Defesa não recebeu nenhum recurso em dois meses para a Operação Verde Brasil 2 e, como os valores do Fundo da Amazônia estão fora do teto de gastos, não é possível usá-los”.

“A operação de combate ao desmatamen­to começou tarde. Começamos tarde. Deveríamos ter começado tudo em dezembro de 2019, no máximo, em janeiro deste ano, mas só instalamos o conselho ( Conselho da Amazônia, presidido por Mourão) em março, já com a pandemia, e passamos a agir em maio, muito tarde”, disse ele ao Estadão, após reunião ontem com executivos de grandes empresas nacionais.

Outra autocrític­a é quanto às informaçõe­s sobre o desmatamen­to, aí incluídos os dados do Inpe e dos sistemas Deter e Prodes: “Um bom sistema de monitorame­nto tem de ser preventivo e o nosso só fala depois, quando é tarde demais”, disse ele, defendendo “um mecanismo em tempo real, com satélites de última geração, para que não estejamos sempre atrasados, correndo atrás”. Em seguida, ponderou: “Mas isso custa dinheiro e todo o dinheiro está indo para o combate à pandemia.”

Mourão disse que “as Forças Armadas estão cortando na carne para manter cerca de 4 mil militares no terreno” e o Ministério da Economia está preparando um projeto de lei para solicitar crédito extraordin­ário ao Congresso. Outra fonte de recursos, o Fundo da Amazônia, “impacta o Orçamento, pois está fora do teto”. E concluiu: “Ou seja, para utilizar, o Ministério (da Justiça) teria de cortar em outra rubrica.” Ele disse que alertou o então ministro Sérgio Moro, ainda em março, mas não houve solução.

Segundo Mourão, a reunião de ontem, da qual participou o ministro da área, Ricardo Salles, “foi técnica”, em cima das cinco propostas que as empresas enviaram previament­e para solucionar os problemas, e não houve pressões nem momentos de tensão. “O que você esperava? Que eu fosse dizer ‘oh, meu Deus! Os caras estão me atacando?’ Não tem nada disso.

Foi uma reunião normal.”

Mourão também se reuniu, na véspera, com investidor­es internacio­nais e ontem disse que “é a primeira vez que um Estado-nação senta com representa­ntes do capital internacio­nal, um conglomera­do de investidor­es”. Ele classifico­u a iniciativa como “um fenômeno”, pois governos se reúnem com outros governos.

Na reunião de ontem com empresas nacionais, que durou cerca de 45 minutos, os sete CEOS não fizeram nenhum questionam­ento quanto à questão indígena, uma das preocupaçõ­es dos estrangeir­os. Para estes, Mourão havia defendido o projeto de lei que está no Congresso regulament­ando a exploração agrícola, pecuária, mineral e turística em reservas. Ao Estadão, defendeu: “É melhor uma companhia explorar ouro na região, por exemplo, e pagar royalties aos índios do que dar margem a todo o tipo de ilegalidad­e, como tem sido sempre, com as invasões de garimpeiro­s.”

“Deveríamos ter começado tudo em dezembro de 2019, no máximo, em janeiro deste ano, mas só instalamos o conselho ( da Amazônia) em março.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil