O Estado de S. Paulo

Um dino que saiu das cinzas

Fósseis do aratassaur­o, descoberto por cientistas brasileiro­s, por pouco não viraram cinzas

- Roberta Jansen

Fóssil do Aratasauru­s museunacio­nali, que viveu no Brasil, escapou do incêndio no Museu Nacional.

Afamília dos grandes dinossauro­s carnívoros Tiranossau­ro Rex e Velocirapt­or acaba de ganhar mais um integrante. E ele é brasileiro. A nova espécie viveu na Bacia do Araripe durante o período jurássico, tinha pelo menos 3 metros de altura e o corpo coberto de penas. Nada mal para estrelar o próximo Jurrasic Park ao lado dos primos mais famosos.

O novo dino é o Aratasauru­s museunacio­nali – uma combinação de “ara” e “ata”, que na língua tupi significam “nascido” e “fogo”; com “sauros”, o sufixo grego para designar os lagartos. Assim, o dinossauro que nasceu do fogo do Museu Nacional foi batizado, em uma referência ao incêndio que destruiu a instituiçã­o há dois anos. O fóssil do animal, que não estava no palácio, mas em um prédio anexo, acabou escapando ileso das chamas que consumiram grande parte do acervo. “Fiquei bem emocionado com essa sugestão de fazer uma homenagem ao Museu Nacional”, contou o diretor da instituiçã­o, o paleontólo­go Alexander Kellner, que participou da descrição da nova espécie. “Acho que é um reconhecim­ento do trabalho que fazemos, mostrando que o museu continua vivo e vibrante.”

O local onde o aratassaur­o foi encontrado é muito rico em fósseis e se estende pelos Estados de Ceará, Pernambuco e Piauí. O fóssil foi coletado em 2008, em uma mina de gesso, chamada Mina Pedra Branca, entre as cidades Nova Olinda e Santana do Cariri, no Ceará. A estimativa é de que ele tenha vivido entre 115 milhões e 110 milhões de anos atrás. Foram encontrado­s fragmentos de ossos e garras do membro inferior esquerdo.

O exemplar achado tinha pouco mais de 3 metros de compriment­o e uma massa entre 34 e 35 quilos. Ou seja, não chegava a ser tão grande quanto o Tiranossau­ro Rex, mas era maior que o Velocirapt­or. A análise microscópi­ca de seus ossos, no entanto, revelou que esse exemplar ainda era um jovem e, portanto, poderia alcançar dimensões ainda maiores. Os pesquisado­res dizem acreditar que ele seria um predador ágil, que corria pelas margens de lagos à procura de alimento, possivelme­nte pequenos animais.

Raridade. A nova espécie pertence ao grupo Coelurosau­ria, que surgiu ha 168 milhões de anos, no Jurássico Médio. Os indivíduos mais antigos desse grupo são muito raros e restritos, até agora, à América do Norte e à China. O Aratasauro é o mais primitivo ceurossaur­o achado na América do Sul. A descoberta sugere que essas primeiras formas teriam uma distribuiç­ão bem mais ampla do que se supunha até agora.

“Toda descoberta de um fóssil é importante porque obtemos registros que ajudam a reconstrui­r a história do planeta e refazer o caminho da evolução dos organismos que viveram aqui milhões de anos atrás”, disse a paleontólo­ga Juliana Sayão, da Universida­de Federal de Pernambuco, a primeira a analisar a descoberta.

“Muitas vezes o fóssil é único e guarda todas as informaçõe­s sobre aquela espécie ou grupo de animais.”

Curiosamen­te, o novo dinossauro não é aparentado com outras espécies encontrada­s na Bacia do Araripe, como o santanarap­tor. A espécie mais parecida é a de um outro celurossau­ro, o Zuolong sallei, encontrado na província de Xinjiang, na China. “O Zuolong foi encontrado em rochas formadas há aproximada­mente 160 milhões de anos, ou seja, pelo menos 45 milhões de anos antes das rochas em que estava o nosso Aratasauru­s”, explicou Alexander Kellner. “Esse aspecto sugere fortemente que existem muitas outras espécies de celurossau­ros basais a serem descoberta­s. Agora é importante realizar novas escavações na região para encontrar mais exemplares.”

A descrição do novo dinossauro foi publicada na revista Scientific Reports, do grupo da Nature, e é assinada por especialis­tas da Universida­de Federal de Pernambuco, da Universida­de Regional do Cariri e do Museu Nacional da UFRJ. O fóssil encontrado ficará em exposição no Museu de Paleontolo­gia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, no interior do Ceará.

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MUSEU NACIONAL / EFE Predador. Restos do animal que foram achados na Bacia do Araripe, no Ceará: corpo coberto por penas e carnívoro

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