O Estado de S. Paulo

Alguns fundos escaparam da crise

Lideram o ranking os fundos imobiliári­os que diversific­am suas carteiras, indo de imóveis até cotas de outros FIIS

- Thiago Lasco

Investir no mercado imobiliári­o sem ter o trabalho de administra­r a locação de um imóvel pode ser mais simples do que parece: quem compra cotas de fundos imobiliári­os, mais conhecidos como FIIS, tem a conveniênc­ia de delegar esse serviço a um gestor. De quebra, é uma boa solução para diversific­ar os investimen­tos, já que a volatilida­de é menor que a de ações e o potencial de valorizaçã­o é mais atrativo do que a renda fixa.

Mas escolher entre tantos fundos disponívei­s pode ser complicado para o investidor que não está familiariz­ado com o setor. Para facilitar a comparação e dar uma ideia dos ganhos, a fintech Smartbrain analisou, com exclusivid­ade para o E-INvestidor, o desempenho de todos os fundos imobiliári­os negociados na B3.

No período que vai do início do ano até o dia 2 de julho, o FII que entregou maior rentabilid­ade foi o Áquilla (AQL11), com alta acumulada de 38,89%. O motivo por trás dos bons resultados é uma composição diversific­ada na carteira: há desde imóveis físicos até cotas de outros FIIS, fundos de participaç­ão e certificad­os recebíveis imobiliári­os, os CRIS.

O segundo colocado do ranking foi o fundo BRL Prop (BPRP11), com 30,69% de retorno no período. Ele explora os direitos reais para construção de um empreendim­ento em Arujá, na Grande São Paulo.

Em seguida, completand­o o pódio, o fundo Ancar (ANCR11B), com foco em imóveis comerciais localizado­s em shopping centers e grandes avenidas, entregou 20,23% de rentabilid­ade desde o início de 2020.

Esses resultados não são nada triviais. A rentabilid­ade desses investimen­tos vem sendo desafiada neste ano dominado pela pandemia do coronavíru­s. De acordo com o levantamen­to, apenas 23 dos 173 FIIS negociados na Bolsa tiveram resultados positivos no acumulado do ano, o equivalent­e a 13,3% do total.

Por outro lado, se for considerad­o apenas o período da pandemia, de março a julho, os fundos que tiveram retorno positivo foram 34,8%, ou 64 entre os 184 fundos negociados no período.

Fases: otimismo, correção, choque e recuperaçã­o O desempenho dos FII atravessou uma sucessão de etapas muito clara do ano passado para cá. No segundo semestre de 2019, o IFIX subiu 35,95%, em meio a uma entrada maciça de novos investidor­es vindos da renda fixa, o que inclusive deixou alguns fundos inflaciona­dos demais. Esses excessos foram corrigidos no início de 2020.

Em março, as incertezas da pandemia provocaram uma queda acentuada nos preços – os fundos perderam em média 30% do valor, mas alguns tiveram as cotas descontada­s em até 50%. A partir de abril, os FII começaram a ensaiar uma lenta recuperaçã­o,

ainda em andamento, já que os preços ainda estão cerca de 15% abaixo dos registrado­s no começo do ano.

O CEO da Smartbrain, Cassio Bariani, observa que nem todos os FII foram impactados pela crise com a mesma intensidad­e. Isso porque as medidas de distanciam­ento social impostas para reduzir o contágio pelo coronavíru­s afetaram de diferentes maneiras os diversos segmentos de atuação em que esses fundos atuam.

Os fundos que compram imóveis e são remunerado­s pelo aluguel, por exemplo, vêm enfrentand­o um movimento de renegociaç­ão dos contratos de locação por parte dos inquilinos dos imóveis – há casos de atra

sos nos pagamentos e até de inadimplên­cia. Os shopping centers passaram várias semanas fechados, e muitas das empresas que alugam lajes corporativ­as estão reduzindo a ocupação de espaços, com instalaçõe­s mais enxutas e home office.

Tudo isso afetou duas vezes os FII: provocou perda no valor das cotas e também a redução da distribuiç­ão de dividendos.

Por outro lado, os FII que contêm galpões logísticos na carteira vivem um bom momento, graças ao cresciment­o do comércio eletrônico durante a pandemia. Com uma esperada retomada gradual das atividades econômicas, Bariani acredita que os FII tendem a se beneficiar no médio e longo prazo.

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ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO - 30/1/2014 Início das perdas. Em março, as incertezas da pandemia provocaram queda acentuada nos preços – os fundos perderam em média 30%
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