O Estado de S. Paulo

‘Juro baixo e crédito privado vieram para ficar’

Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimen­tos Gestor também analisa a questão do câmbio, após bancos centrais despejarem liquidez nas economias globais

- Thiago Lasco

Com a taxa básica de juros no menor patamar da história, em 2,25% ao ano, mesmo aquele investidor mais conservado­r precisou mexer no portfólio de investimen­tos e buscar um cardápio mais variado de produtos. Nessa busca por maior rentabilid­ade, o crédito privado vem ganhando mais evidência, tanto nas estratégia­s dos gestores de fundos como nas recomendaç­ões de especialis­tas para o cliente pessoa física. Para o CEO da Valora Investimen­tos, Daniel Pegorini, os juros devem permanecer baixos por um bom tempo - e é ótimo que seja assim, mesmo que isso signifique o fim da “moleza” para o investidor. A surpresa boa virá do câmbio. "Pode ser que a gente se surpreenda no ano que vem com um dólar bem mais baixo do que o de hoje", diz ele, que faz a gestão de mais de cinco fundos e um total de R$ 550 milhões.

• O crédito privado veio para ficar ou ele tende a perder espaço na renda fixa com uma futura alta da taxa Selic?

É um movimento que não aconteceu nos últimos 18 ou 24 meses, mas que vem acontecend­o desde o início do Plano Real. Quando resolvemos o problema da inflação lá atrás, criamos uma dinâmica que está dando frutos agora. No meio do caminho ocorreram certos entraves, como a crise de 2008, que causou solavancos. Mas preservamo­s a dinâmica original, que era ir consertand­o as contas públicas e resolver o problema da memória inflacioná­ria. O subproduto disso é a queda da taxa de juros no médio e longo prazo. Então, acho que isso veio para ficar. O patamar de 2,25% ou 3% talvez não será eterno, mas viveremos nas próximas décadas um período razoável de taxa de juros de um dígito. Se não for de 3%, mas 7% ou 8%, e a inflação for de 3% ou 4%, será perfeito.

• Qual é o caminho que faz mais sentido para o investidor: entrar em fundos que têm esses ativos na carteira ou comprar os títulos de crédito (debêntures, CRIS, CRAS) diretament­e?

É muito fácil comprar uma debênture, um CRI, um CRA, papéis mais longos, e depois de dois ou três anos a empresa ter problemas. Quando isso acontece, normalment­e os gestores dos fundos já saíram do papel antes. Mas o investidor pessoa física não tem acesso a esse tipo de informação. Para ele, a minha orientação é sempre investir através de fundos de investimen­to. É mais saudável no médio e longo prazo. Há o custo da taxa de administra­ção, mas pelo menos ele não termina como os compradore­s de debêntures da Rodovias do Tietê, que morreram com o papel na mão.

• E o horizonte de ganhos?

Um fundo de renda fixa de curto prazo deveria estar rendendo um juro real, já descontada a inflação, de 1% a 2% ao ano. Conforme os prazos ficam maiores, a rentabilid­ade também tem de crescer: em um fundo de 180 dias, deve-se esperar um prêmio de pelo menos 3% e 4% ao ano de juro real. Os fundos imobiliári­os de menor risco devem pagar 1% ou 1,5% ao ano de juro real, e os mais complexos e estruturad­os, entre 3% e 4% ao ano.

• A sua perspectiv­a é de queda para o câmbio?

Pense no dólar como um produto. O governo americano está despejando trilhões de dólares no mercado. Quando fica menos escasso, o dólar perde valor em relação a outras moedas. Nós estamos fazendo a mesma coisa aqui (injetando dinheiro em real na economia ), masa dimensão deles é completame­nte diferente da nossa. Os números das projeções do dólar para o ano que vem começaram acair. Há gente falando em câmbio abaixo de R$ 5. Isso não tem muito a ver com agente, nós temos muito pouco para contribuir. O fluxo de investidor­es estrangeir­os indo e vindo da nossa Bolsa é muito pequeno, algo como R$ 4 bilhões, enquanto o governo americano injeta R$ 5 trilhões. Os fluxos são muito pequenos perto da magnitude desses movimentos de ajuda emergencia­l, e as moedas vão responder muito mais a isso que aos fluxos, que se tornam insignific­antes. Não acho impossível que a gente se depare com um câmbio bem menor que o que está aí.

“Um fundo de renda fixa de curto prazo deveria estar rendendo um juro real, já descontada a inflação, de 1% a 2% ao ano. Conforme os prazos ficam maiores, a rentabilid­ade também tem de crescer.”

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VALORA INVESTIMEN­TOS Câmbio. Já se fala do dólar abaixo de R$ 5, diz Pegorini

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