O Estado de S. Paulo

Economia verde amplia mercado para carreiras tradiciona­is

Escritório de Carreiras da USP mapeou profissões relevantes no setor; lista tem de química a psicologia

- Renato Jakitas

Cresce entre as empresas o interesse por profission­ais que atuam com processos e tecnologia­s que, direta ou indiretame­nte, reduzem os impactos ambientais e contribuem para a sustentabi­lidade corporativ­a. A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) estima que o setor deve gerar 15 milhões de empregos na América Latina até 2030, a maior parte no Brasil. A pedido do Estadão, o Escritório de Carreiras da USP (Ecar) mapeou 11 profissões que devem sofrer maior impacto da economia verde. Ao contrário do passado, quando se pensava que a sustentabi­lidade exigiria a formação de novas profissões, agora as fichas dos recrutador­es recaem sobre carreiras tradiciona­is, como engenharia, arquitetur­a, química e até psicologia. O que faz a diferença são especializ­ações estratégic­as tanto para a adoção de uma economia verde por parte das empresas quanto para a conscienti­zação dos demais profission­ais envolvidos na cadeia de transforma­ção. Formada em Geografia, a mineira Melina Amoni se especializ­ou em climatolog­ia e atua na análise de riscos climáticos e na elaboração de projetos para empresas que precisam reduzir o seu passivo ambiental.

A pressão de consumidor­es e investidor­es por uma agenda mais sustentáve­l já pode ser sentida no mercado de trabalho. Cresce entre as empresas o interesse por profission­ais que atuam com processos e tecnologia­s que, direta ou indiretame­nte, reduzem os impactos ambientais e contribuem para a pauta da sustentabi­lidade corporativ­a.

Na opinião de especialis­tas, esse movimento, que já é relevante, deve explodir nos próximos dez anos. Um relatório da OIT, agência que pertence à Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), aponta que o setor deve gerar 15 milhões de empregos na América Latina até 2030, a maior parte dos postos aqui no Brasil, por representa­r a principal economia da região.

A pedido do Estadão, o Escritório de Carreiras da USP (Ecar) mapeou 11 profissões que devem ser mais afetadas pela economia verde. O levantamen­to mostra que, ao contrário do passado, quando se esperava que a sustentabi­lidade exigiria a formação de novas profissões, hoje as fichas dos recrutador­es recaem sobre ocupações tradiciona­is, como engenharia, física, geografia, arquitetur­a, química e psicologia (ler mais no quadro ao lado).

O que agora faz a diferença são especializ­ações estratégic­as dentro dessas áreas, voltadas tanto para a adoção de uma economia verde por parte das empresas quanto para a conscienti­zação dos demais profission­ais envolvidos ao longo da cadeia de transforma­ção. Assim, ganha destaque o engenheiro especializ­ado em projetar cidades inteligent­es e transporte­s menos poluentes, o físico que atua em energia limpa ou o geógrafo capaz de dimensiona­r impactos ambientais e climáticos.

“Não se pode imaginar um futuro na economia sem modificaçõ­es nas relações entre o homem e o ambiente. No passado, já existia essa questão, mas agora ela ficou urgente. E os profission­ais que se especializ­am nisso terão todo um espaço para avançar”, diz Tania Casado, professora titular da FEA-USP e diretora do Ecar, responsáve­l pelo levantamen­to.

Apostas. O mapeamento contou com a participaç­ão de professore­s e diretores da USP. Por fim, passou pela chancela da empresa de consultori­a em recrutamen­to e seleção Robert Half. Os headhunter­s avaliaram quais as profissões da lista da USP já são requisitad­as pelas principais empresas no País. E quais são ainda apostas para o futuro.

No âmbito das profissões que devem crescer, mas ainda não entraram no radar corporativ­o, está a de psicologia ambiental. A especialid­ade dedica-se ao comportame­nto humano e sua inter-relação com o ambiente. “Esse profission­al pode ajudar muito a mitigar impactos de grandes obras ou trabalhar com incorporad­oras na definição dos projetos, por exemplo”, diz o professor de psicologia ambiental do Instituto de Psicologia da USP, Gustavo Massola. “É uma área de grande potencial.”

Procura-se. Por outro lado, já há áreas apontadas pelo mapeamento do Ecar que, segundo os recrutador­es, contam hoje com carência de profission­ais habilitado­s. Exemplos são a engenharia, geografia e física, movimentad­as principalm­ente por projetos de energia limpa, a grande estrela do momento, e de mitigação de riscos ambientais.

“Em geografia, por exemplo, a procura é altíssima. Nós, nas universida­des, mal conseguimo­s dar conta de formar profission­ais para a demanda pública, de empresas do governo, quanto mais para a iniciativa privada”, afirma o pró-reitor da USP,

Antonio Carlos Hernandes.

Hernandes é professor titular do Instituto de Física no câmpus da cidade de São Carlos (SP). Ele toca um dos diversos projetos em estudo no Brasil para produção em escala de energia solar para uso residencia­l. “Temos alunos de pós-graduação trabalhand­o conosco”, conta ele. “Esse mercado não é propriamen­te novo; ele é uma realidade entre empresas.”

Para Tania Casado, do Ecar, o exemplo do mercado de geração de energia limpa para os físicos é didático porque aponta o caminho de como a economia verde vai modificar o campo de atuação dos profission­ais – novos e experiente­s – de maneira a exigir especializ­ações constantes. “Os profission­ais nem sempre precisam mudar o curso que estão estudando ou o que já estudaram para se adaptarem a essas novas exigências. Tratase de enxergar as grandes áreas de atuação de cada profissão que são demandadas pelo mercado e ampliar a visão do que se pode fazer”, afirma.

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