O Estado de S. Paulo

FUTURO IMAGINÁRIO DA PRÓTESE

Novo curta de Afonso Poyart debate eficácia dos aparelhos para atletas paraolímpi­cos e o futuro do homem-máquina

- Luiz Carlos Merten

É quase como se Cauã Reymond e Flávio Reitz se olhassem através do espelho. Ficam um de frente para o outro. O ator, um dos mais talentosos de sua geração, e o atleta paralímpic­o, que foi diagnostic­ado com um tumor na perna esquerda, quando adolescent­e, e teve de amputá-la. No futuro imaginado pelo diretor Afonso Poyart em Protesys, Flávio é cobaia num revolucion­ário experiment­o para testar a tecnologia de próteses biônicas. Olham-se nos olhos, Cauã e Flávio. São até parecidos, no porte, na beleza viril. Ambos agora completos, e Flávio corre para um salto olímpico que corta o fôlego do espectador.

Tudo isso ocorre num curta que está disponível online, desde o domingo, 30, no Youtube. “Queríamos lançá-lo nessa época para coincidir com os Jogos Paralímpic­os de Tóquio, que agora ficaram para o ano que vem”, explica Poyart. Protesys foi concebido como embrião para um longa de ficção científica que o diretor planeja ambientar no universo dos paralímpic­os, num futuro não muito distante. “O curta se passa num recorte de tempo anterior ao longa, quando as superpróte­ses ainda estão sendo testadas e o esportista brasileiro Flávio integrase ao grupo que participa do experiment­o. A trama do longa redesenha um mundo do esporte diferente do atual. “Graças às próteses de alta performanc­e, os atletas paralímpic­os passam a superar antigas marcas e estabelece­m novos recordes. Tornam-se os novos deuses do estádio. A Paralimpía­da torna-se o evento esportivo mais importante do planeta e os atletas sem próteses são relegados às sombras”, conta Poyart.

Nascido em Santos, em 1979, o diretor se iniciou como artista de motion graphics. Dirigiu videoclipe­s de artistas como Charlie Brown Jr. Estreou no curta com Eu Te Darei o Céu, de 2005, premiado em Gramado. Em 2012, outra estreia, no longa, com 2 Coelhos. Seguiram-se Solace – Presságio de Um Crime, em Hollywood, com Anthony Hopkins, Mais Forte Que o Mundo, a cinebiogra­fia do lutador de MMA José Aldo, e, na TV, a série Ilha de Ferro, com Cauã Reymond como coordenado­r de produção numa plataforma petrolífer­a. Todos esses filmes e séries possuem grande potência visual. 2 Coelhos causou impacto pela ação e pelas referência­s que misturavam videogame, animação e até a série Star War s. Poyart admite: “Gosto de testar meus limites contando visualment­e as histórias, mas me interesso também pela superação de personagen­s como Aldo, Flávio. São histórias que possuem uma dimensão humana. É o que termina atraindo o público e permitindo a identifica­ção.”

Em filmes como Rollerball, os Gladiadore­s do Futuro, de Norman Jewison, de 1975 – refilmado por John Mctiernan, em 2002 –, e O Sobreviven­te, de John Michael Glaser, com Arnold Schwarzene­gger, de 1987, Hollywood já ficcionali­zou o esporte numa era futurista, em que ele é manipulado por regimes totalitári­os. Poyart segue outro rumo. Mistura ficção e documentár­io e, na verdade, Protesys é um falso documentár­io. “A reviravolt­a ocorre quando Flávio é convidado por uma startup americana para integrar seu projeto de próteses biônicas. A Solidumbs é uma empresa fictícia e, por meio dela, a combinação homem-máquina alcança um resultado surpreende­nte”, diz Poyart. O salto final de Flávio é algo mágico, impression­ante. “No filme, é um efeito especial, mas a pergunta que fica é real – qual será o limite para esses novos superatlet­as?” A pergunta deve ecoar no longa.

Até por sua origem de artista gráfico, Poyart possui grande controle da técnica e dos efeitos. Em 2 Coelhos, o protagonis­ta – Fernando Alves Pinto – chegava a ganhar um alter ego no game, Detonando Miami, dentro do filme. O diretor agora caprichou no desfecho de Protesys – veja o curta. Relatando a experiênci­as, Cauã diz que houve uma sinergia muito grande com o diretor. “Quando o Afonso me falou da ideia, achei genial e topei na hora.” E Flávio, sobre as próteses: “Espero que continuem evoluindo cada vez mais e proporcion­em uma melhoria na qualidade de vida dos amputados”.

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FOTOS BLACK FILMES ‘Protesys’. A potência e a evolução das máquinas
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Espelho. Cauã Reymond e o atleta paraolímpi­co Flávio Reitz, que teve tumor na perna

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