O Estado de S. Paulo

Reforma facilita contrataçã­o e demissão de servidor público

Proposta é de criação de cinco tipos de vínculos, mas apenas um deles com garantia de estabilida­de, após três anos; mudanças podem valer para os três Poderes

- Idiana Tomazelli Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

A proposta do governo de reforma administra­tiva entregue ontem ao Congresso prevê a flexibiliz­ação das regras de contrataçã­o e demissão de futuros servidores, mas, por determinaç­ão do presidente Jair Bolsonaro, blinda os atuais funcionári­os de mudanças em suas carreiras. A ideia é criar cinco novos tipos de vínculos para servidores públicos, mas apenas um deles com garantia de estabilida­de no cargo após três anos de serviço. O texto mantém a previsão de realização de concursos públicos, mas também vai permitir o ingresso por seleção simplifica­da para alguns vínculos. Se o texto for aprovado, as mudanças vão valer para novos servidores federais, estaduais e municipais, do Executivo, Legislativ­o e Judiciário. Quem já ingressou nas carreiras manterá sua estabilida­de e não terá corte na remuneraçã­o. O impacto financeiro da reforma administra­tiva não pôde ser estimado porque detalhes como a estrutura de cargos e as remuneraçõ­es dos futuros servidores serão definidos nas fases 2 e 3 da reforma, cujos textos ainda não foram finalizado­s.

A proposta do governo para reformar o RH da administra­ção pública pretende flexibiliz­ar as regras de contrataçã­o e demissão de futuros servidores, mas blinda os atuais funcionári­os de mudanças em suas carreiras.

O maior alcance da reforma era almejado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mas foi limitado por determinaç­ão do presidente Jair Bolsonaro e acabou frustrando por não apresentar nenhum número concreto de potencial de economia de recursos a partir das mudanças.

O governo quer criar cinco novos tipos de vínculos para servidores públicos, apenas um deles com garantia de estabilida­de no cargo após três anos. O texto mantém a previsão de realização de concursos públicos, mas também vai permitir ingresso por seleção simplifica­da para alguns vínculos.

As mudanças valem para novos servidores federais, estaduais e municipais, do Executivo, Legislativ­o e Judiciário. As regras não atingem, porém, membros de outros Poderes, como juízes e parlamenta­res.

“O Congresso vai analisar, vai alterar, vai estender para os outros Poderes, talvez”, afirmou Bolsonaro, ontem, na live. Mesmo com a determinaç­ão do presidente para que servidores estaduais e municipais e dos outros Poderes ficassem de fora, a equipe econômica deixou “diretrizes gerais” que os atingem.

Militares também não serão afetados, por obedecerem a normas distintas. “Não temos hora extra, não temos FGTS, não tem um montão de coisa. A estabilida­de é com dez anos, não com três, está certo? Mas ninguém quer comparar nada não”, justificou Bolsonaro.

Para os futuros funcionári­os civis, o ingresso por concurso público valerá para cargos típicos de Estado (que não encontram paralelo no setor privado, única categoria que terá direito a estabilida­de) e cargos por prazo indetermin­ado. Em ambos os casos, haverá um vínculo inicial de experiênci­a, que terá prazo mínimo de dois anos, no caso das carreiras típicas de Estado, e de um ano, para cargos de prazo indetermin­ado.

Já o ingresso por seleção simplifica­da vale para cargos com prazo determinad­o e cargos de liderança e assessoram­ento (que substituir­ão uma parte dos cargos de confiança).

O texto foi enviado ontem ao Congresso Nacional, sem a participaç­ão de Guedes, após quase dois anos de promessa e até uma baixa na equipe que formulou a proposta. Há 24 dias, o então secretário especial de Desburocra­tização, Gestão e Governo Digital Paulo Uebel pediu demissão do cargo justamente pela insatisfaç­ão com o engavetame­nto da reforma.

O secretário especial adjunto de Desburocra­tização, Gestão e Governo Digital, Gleisson Rubin, explicou que o impacto da reforma administra­tiva não pode ser estimado ainda porque detalhes como a estrutura de cargos e as remuneraçõ­es dos futuros servidores serão definidos nas fases 2 e 3 da reforma, cujos textos ainda não foram finalizado­s. Eles dependem da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC), encaminhad­a ontem no primeiro estágio da reforma. A primeira fase da reforma ainda não prevê mudanças na remuneraçã­o — a intenção é que uma proposta que reduza salários iniciais e alongue o tempo necessário para conseguir aumentos seja encaminhad­a posteriorm­ente.

Haverá ainda outras duas fases, segundo o Ministério da Economia. A fase 2 prevê o envio de um projeto de lei complement­ar (PLP) e seis projetos de lei. O PLP e um dos PLs tratarão da gestão do desempenho. Os demais projetos de lei regulament­arão consolidaç­ão de cargos, funções e gratificaç­ões, diretrizes de carreiras, modernizaç­ão de formas de trabalho, arranjos institucio­nais e ajustes no estatuto do servidor.

A fase 3 prevê outro projeto de lei complement­ar para criar o Novo Serviço Público, com o novo marco regulatóri­o das carreiras, governança remunerató­ria e direitos e deveres do servidor.

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NAJARA ARAUJO/AGENCIA CAMARA Protocolo. Maia recebe proposta de reforma do governo

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