O Estado de S. Paulo

Maia afirma que rompeu diálogo com Guedes

Presidente da Câmara afirma que ministro proibiu equipe de conversar com ele e que agora só trata de temas importante­s com general Ramos

- / CAMILA TURTELLI, ELIANE CANTANHEDE, JUSSARA SOARES E IDIANA TOMAZELLI

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que Paulo Guedes (Economia) proibiu a equipe econômica de conversar com ele e, a partir de agora, seu interlocut­or será Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu romper relações com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Maia anunciou que, a partir de agora, passará a tratar com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, sobre votações importante­s, como a reforma administra­tiva, porque Guedes proibiu o diálogo dele com os secretário­s da área econômica.

Maia deu a declaração logo após ter recebido a proposta de reforma administra­tiva do governo das mãos do ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que represento­u o presidente Jair Bolsonaro – em viagem pelo interior de São Paulo. Ali mesmo, o presidente da Câmara tornou público o novo confronto com Guedes e contou que o ministro proibiu integrante­s da equipe econômica de dialogar diretament­e com ele.

“Eu não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes. Ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem (anteontem), a gente tinha um almoço com o Esteves

(Colnago, chefe da Assessoria Especial de Relações Institucio­nais) e com o secretário do Tesouro

(Bruno Funchal) para tratar do Plano Mansueto, e os secretário­s foram proibidos de ir à reunião”, disse Maia em entrevista à GloboNews.

O almoço, que seria na casa do presidente da Câmara, acabou cancelado. “Foi encerrada a interlocuç­ão”, disse ele. Sem esconder a briga, Maia afirmou que suas tratativas, agora, serão com Ramos, mesmo em assuntos econômicos. “Ramos tem sido um aliado da Câmara dos Deputados, fundamenta­l nas últimas votações, como a Lei do Gás. (...) Então, decidi que a relação da presidênci­a da Câmara será com o ministro Ramos, e o ministro Ramos conversa com a equipe econômica, para não criar constrangi­mento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos, de forma nenhuma”, afirmou.

A cerimônia de entrega da reforma administra­tiva, no Salão Negro da Câmara, havia sido planejada pelo governo para marcar um momento bom do relacionam­ento entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Lá estavam também os líderes do governo e Maia fez questão de agradecer Bolsonaro e alguns ministros, mas em nenhum momento citou Guedes. “Parabenizo pela correta decisão de encaminhar a reforma que vai no ponto correto”, destacou ele. Logo depois, porém, tornou pública a queda de braço com Guedes.

Procurado, o Ministério da Economia informou que não comentará o assunto. Nos bastidores, o clima é tenso com comentário­s de que Maia “apunhala pelas costas”. Em conversas reservadas, alguns auxiliares de Guedes fizeram questão de lembrar, no entanto, que o tempo do presidente da Câmara “está acabando”. Outros, por sua vez, tentaram colocar panos quentes no desentendi­mento, sob o argumento de que, com a mudança na liderança do governo na Câmara, agora nas mãos de Ricardo Barros (Progressis­tas-PR), a ponte com o Planalto se fortaleceu.

A relação entre Maia e Guedes ficou estremecid­a durante a reforma da Previdênci­a, mas se deteriorou ainda mais com a pandemia do coronavíru­s. Em abril, os dois deixaram de se falar. O presidente da Câmara mantinha, então, contato com Esteves Colnago, com o secretário especial de Previdênci­a Bruno Bianco, e com o então secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. O Estadão apurou que Guedes, àquela época, já havia determinad­o à sua equipe que se mantivesse afastada de Maia.

O chefe da Economia nunca gostou da proximidad­e do presidente da Câmara com Mansueto. Maia, por sua vez, acha que Guedes quer afrontá-lo, fazendo afagos ao deputado Arthur Lira (AL), líder do Progressis­tas e comandante do Centrão que está de olho em sua cadeira na Câmara.

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