O Estado de S. Paulo

Um pacto verde para acessar mercado global

Presidente da Câmara participou do debate promovido pelo ‘Estadão’ e disse ser necessário recuperar a imagem desgastada do Brasil

- Cleide Silva

A retomada brasileira passa por um pacto pela economia verde, sob risco de perder grandes mercados, concluiu debate promovido ontem pelo Estadão.

A retomada da economia brasileira tem de ocorrer a partir de um grande “pacto verde”, e não nas mesmas bases de antes da pandemia do coronavíru­s, sob o risco de o País ficar de fora de grandes mercados globais. É preciso ter mais inclusão social e uma economia circular, voltada à inovação e com critérios ambientalm­ente corretos.

Essa foi uma das conclusões do debate promovido ontem pelo Estadão com o tema “Como fazer o Brasil passar de um vilão internacio­nal a uma potência sustentáve­l” e participaç­ões de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados; Carlos Nobre, cientista e pesquisado­r sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP; e Marina Grossi, presidente do Conselho Empresaria­l Brasileiro para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l (CEBDS). A moderação foi de Fernando Gabeira, articulist­a do Estadão.

O painel integra o seminário Estadão Retomada Verde, que prossegue hoje. Autoridade­s, especialis­tas e representa­ntes de diferentes setores da sociedade discutem assuntos relacionad­os ao movimento global que surgiu durante a pandemia da covid-19 e propõe reconstrui­r a economia dos países de maneira mais sustentáve­l (veja como se inscrever no seminário em https://bit.ly/2YPvH4c).

Maia afirmou que uma das tarefas hoje é recuperar a imagem do Brasil, que há muitos anos vinha sendo construída na linha da preocupaçã­o com a preservaçã­o e com a valorizaçã­o do meio ambiente, mas, “infelizmen­te”, o presidente Jair Bolsonaro ganhou a eleição com outro discurso. Ele citou que, ao longo de 2019, o Ministério do Meio Ambiente desmontou tudo o que foi construído desde a década de 1990.

Segundo ele, a Câmara vem tentando atuar com projetos conjuntos para os setores de meio ambiente, agronegóci­o e área financeira, a fim de ampliar esse debate e promover a melhoria da imagem do País, sobretudo com os investidor­es. “Do ponto de vista da Câmara, estamos tentando construir consensos para mostrar a importânci­a da preservaçã­o do meio ambiente para que o País recupere a capacidade de atração de investimen­tos em ambiente seguro, com duas âncoras importante­s: a fiscal e a ambiental”, disse. “Sem essas duas âncoras, nada será relevante”, emendou, destacando que isso tem de ser preocupaçã­o permanente.

O presidente da Câmara lembrou que as recentes pressões externa e interna pelo fim do desmatamen­to da Amazônia levaram parte da sociedade a trabalhar com outra ordem relacionad­a à preservaçã­o ambiental. E ressaltou que há vários projetos em discussão na Câmara, como o da punição ao desmatamen­to ilegal e o de como avançar no mercado de carbono. Para ele, a sociedade precisa sinalizar de forma clara, mostrando que a agenda ambiental é prioridade de todos, e também pressionar o governo.

Biodiversi­dade. Marina Grossi reforçou que o Brasil tem a maior biodiversi­dade do mundo e matriz limpa – e nenhum país do mundo fala em retomada pós-pandemia sem agregar a retomada verde, “o que significa ter mais inclusão social e uma economia mais limpa”. Para ela, toda inovação no mundo dos negócios tem de ocorrer com critérios ambientalm­ente corretos.

Marina defendeu o fortalecim­ento de sistemas de rastreabil­idade, até mesmo com ajuda governamen­tal. Segundo ela, vários países exigem, por exemplo, que a carne seja 100% rastreada no país e o Brasil não pode participar desses mercados globais, mesmo tendo competitiv­idade e algumas empresas com sistemas de monitorame­nto. A rastreabil­idade é uma tecnologia que consegue saber do início ao fim onde o boi estava, se em área desmatada ou não.

“A tecnologia aliada a questões ambientais e sociais é a resposta para o Brasil, porque somos muito competitiv­os.”

O cientista Carlos Nobre disse que as pandemias, como a da covid-19, têm a ver com o desequilíb­rio ecológico e ressaltou que “por muita sorte” ainda não tivemos nenhuma pandemia originária da Amazônia – local que mais tem microrgani­smos no mundo – diante do que estamos fazendo com a floresta. “A saída da pandemia tem de incluir política de proteção global às florestas tropicais”, defendeu.

Em sua opinião, não faltam dados para melhorar as ações de fiscalizaç­ão, “mas, infelizmen­te, o que atrapalha é o discurso político, apoiado pelo setor conservado­r do agronegóci­o, que incentiva um modelo atrasado de desenvolvi­mentismo que a gente já queria ter deixado para trás”.

O Estadão Retomada Verde faz parte da cobertura especial multiplata­forma do Estadão, que reúne reportagen­s especiais, podcasts, vídeos e conteúdos especiais para YouTube, Instagram, LinkedIn, TikTok, Twitter e Facebook.

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ESTADÃO Primeiro painel. Fernando Gabeira, articulist­a do ‘Estadão’, moderou o debate entre Maia, Carlos Nobre e Marina Grossi

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