O Estado de S. Paulo

Embraer demite 900 funcionári­os no País

Foram dispensado­s 900 empregados; 1,6 mil aderiram a plano de demissão voluntária

- Luciana Dyniewicz Andre Vieira

A Embraer anunciou a demissão de 900 funcionári­os. Outros 1,6 mil aderiram a planos de demissão. Antes da pandemia, empresa empregava 16 mil pessoas no País.

A Embraer anunciou ontem a demissão de 900 funcionári­os que trabalham nas unidades da empresa no Brasil. Outros 1,6 mil aderiram a planos de demissão voluntária – que foram propostos em julho e agosto –, num total de 2,5 mil desligamen­tos. Antes da pandemia, a fabricante de aviões tinha 20 mil empregados, sendo que 16 mil deles operavam no Brasil. No total, 15,6% da mão de obra da companhia no País será desligada. Consideran­do também as operações internacio­nais, serão 12,5%.

O tamanho do corte é semelhante ao realizado pelas outras fabricante­s de aeronaves em meio à pandemia da covid-19. A americana Boeing já anunciou a demissão de 16 mil funcionári­os, o equivalent­e a 15% do total. Na europeia Airbus, foram 15 mil trabalhado­res (10%).

Segundo o comunicado da Embraer, as demissões estão relacionad­as aos efeitos causados pela pandemia na economia global e pelo cancelamen­to da venda da divisão de aviação comercial para a Boeing. “O objetivo é assegurar a sustentabi­lidade da empresa e sua capacidade de engenharia”, justificou a Embraer em comunicado.

Desde junho, a companhia brasileira vem se reestrutur­ando. Quatro vice-presidente­s e vários diretores foram substituíd­os nos últimos meses. Em julho, o clima já era de tensão entre os engenheiro­s com a possibilid­ade de desligamen­tos.

Antes mesmo da crise decorrente da pandemia, que paralisou o setor aéreo, a empresa já tinha quase metade de seus 5 mil engenheiro­s parcialmen­te ociosos, segundo apurou o Estadão. Com grandes projetos concluídos recentemen­te, como os desenvolvi­mentos do cargueiro militar C-390 Millenium e da família de aviões comerciais E2, a demanda pelo trabalho desses profission­ais despencou internamen­te.

Fim da parceria. A empresa diz que a pandemia afetou em especial suas operações na aviação comercial – alvo do fracassado acordo de venda para a Boeing. No primeiro semestre de 2020, as entregas de aviões apresentar­am queda de 75% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Embraer admite que a situação se agravou com a duplicação de estruturas para atender à separação da aviação comercial, “em preparação à parceria não concretiza­da por iniciativa da Boeing, e pela falta de expectativ­a de recuperaçã­o do setor de transporte aéreo no curto e médio prazo”.

A Boeing anunciou que havia desistido de comprar parte da Embraer em abril, alegando que a brasileira não havia atendido as condições necessária­s para a conclusão do negócio. A americana, porém, também enfrenta a maior crise de sua história por causa dos efeitos da covid-19 e em função da paralisaçã­o das operações com seu principal avião, o 737 MAX, após duas aeronaves do modelo caírem matando centenas de pessoas.

O fim do acordo colocou a Embraer em situação ainda mais delicada durante a pandemia. Isso porque, apenas no ano passado, a brasileira gastou R$ 485,5 milhões para separar a unidade de negócios que iria para a Boeing.

Greve. Ontem, após ser informado das demissões, o Sindicato dos Metalúrgic­os de São José do Rio Preto organizou uma assembleia diante da sede da Embraer, e os funcionári­os decidiram entrar em greve.

Anteriorme­nte, empregados haviam denunciado, de forma anônima, ao Ministério Público do Trabalho supostos casos de pressão para aderirem aos planos de demissão voluntária (PDV). A procurador­ia deve analisar o caso.

Em nota, a Embraer afirmou que “repudia qualquer tipo de atitude que desrespeit­e as pessoas” e que a “comunicaçã­o do PDV foi feita com transparên­cia e em linha com o Código de Ética e Conduta da empresa”.

Sobre a greve dos trabalhado­res, informou que as operações continuam normalment­e e que deverá responder hoje à proposta apresentad­a pelo sindicato – que pede cancelamen­to das demissões, estabilida­de no emprego e criação de um teto salarial de R$ 50 mil para executivos da empresa.

A Embraer informou, porém, que os desligamen­tos anunciados já foram efetivados.

 ?? EMBRAER - 25/1/2020 ?? Crise. Vendas de aviões comerciais da empresa caíram 75%
EMBRAER - 25/1/2020 Crise. Vendas de aviões comerciais da empresa caíram 75%

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