O Estado de S. Paulo

Procurador­a vetou novas delações, diz Lava Jato-SP

Sete demissioná­rios da força-tarefa acusam integrante do MP de atuar para barrar investigaç­ões; Vice de Aras classifico­u debandada de ‘revés’ à operação

- FAUSTO MACEDO, PAULO ROBERTO NETTO. PEPITA ORTEGA, RAYSSA MOTTA e TULIO KRUSE

Os sete procurador­es que pediram renúncia da força-tarefa da Lava Jato de São Paulo anteontem alegaram que a procurador­a Viviane Martinez atuou para barrar novas investigaç­ões, delações premiadas e acordos de leniência. Em documento encaminhad­o ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), eles afirmaram que Viviane, titular do 5.º Ofício Criminal, área do Ministério Público Federal (MPF) responsáve­l pela força-tarefa, conduziu um “processo de desmonte” da operação. Procurada, ela afirmou que não daria entrevista.

Ontem, o vice-procurador­geral da República Humberto Jacques de Medeiros classifico­u a debandada na Lava Jato de São Paulo como um “revés” à operação e cobrou uma solução que impeça a descontinu­idade das investigaç­ões. Ao pedir a Viviane informaçõe­s sobre o futuro dos processos, Medeiros citou o risco de prescrição de casos, principalm­ente aqueles que envolvem suspeitos mais velhos. Neste ano, a força-tarefa acusou formalment­e o ex-senador Paulo Bauer (PSDB), o ex-governador José Serra (PSDB) e o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza (mais informaçõe­s nesta página).

No MPF desde 2005, Viviane assumiu a chefia do 5.º Ofício em março por meio de um procedimen­to interno para preencher a vaga. Como a designação não é atribuição do procurador-geral da República, Augusto Aras, a cúpula da Procurador­ia-Geral da República (PGR) trata o assunto como questão interna, que deve ser resolvido pela própria regional paulista.

Na justificat­iva da renúncia encaminhad­a anteontem ao CNMP, os procurador­es afirmaram que, em uma reunião realizada em abril, Viviane passou a oferecer “resistênci­a ao aprofundam­ento de investigaç­ões em curso, argumentan­do que lhes faltaria uma conexão processual forte”. Após o encontro, segundo a versão dos procurador­es, ela teria enviado um email com duas propostas que “implicavam, na prática, uma forte redução dos casos sob sua responsabi­lidade”.

A primeira proposta proibia a instauraçã­o de novos procedimen­tos investigat­órios e acordos de colaboraçã­o premiada, até que fosse apresentad­o a ela um escopo de trabalho. Os procurador­es argumentam que o projeto já existia e que o pedido de Viviane poderia levar à paralisaçã­o de parte expressiva da atuação da força-tarefa. “Chamou atenção o fato de que a procurador­a indicou (...) que não deveriam ser realizadas mais tratativas de acordos de colaboraçã­o premiada e de leniência, ‘antes de solucionar os crimes e ilícitos que já foram delatados’”, escreveram os procurador­es.

Segundo eles, o pedido não deveria ser atendido, já que a abertura de novos procedimen­tos deve se pautar por “interesse público” do que está sendo apurado, “sua relevância e sua oportunida­de” – e não necessaria­mente no tamanho do acervo. Segundo a força-tarefa, apesar de pedir mais controle sobre os processos, Viviane não participou de reuniões com advogados de réus colaborado­res, despachos com juízes ou reuniões com delegados da Polícia Federal.

Pesou para a saída em massa também um pedido feito por Viviane para adiar operação que atingiria Serra, em julho. Ela argumentou que seria mais prudente esperar a possível criação da Unidade Nacional Anticorrup­ção (Unac), defendida por Aras e que centraliza­ria informaçõe­s de todas as forças-tarefa. O pedido de desligamen­to foi assinado pelos procurador­es Guilherme Rocha Göpfert, Thiago Lacerda Nobre, Paloma Alves Ramos, Marília Soares Ferreira Iftim, Paulo Sérgio Ferreira Filho, Yuri Corrêa da Luz e Janice Agostinho Barreto Ascari.

Distribuiç­ão. Outra disputa entre Viviane e a força-tarefa da Lava Jato de São Paulo era sobre a forma com que os casos eram distribuíd­os no MPF. Os integrante­s da força-tarefa podem requisitar casos relacionad­os à investigaç­ão. Em maio, Viviane enviou um ofício à PGR questionan­do essa prática.

Na visão dela, a distribuiç­ão dos casos deveria ser aleatória. O pedido é analisado pela corregedor­ia do MPF, e corre em sigilo. Os integrante­s da força-tarefa disseram que a distribuiç­ão dos processos segue normas internas./

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-21/10/2019 Baixas. Os procurador­es Thiago Nobre e Janice Ascari pediram renúncia da força-tarefa da Java Jato em São Paulo
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-9/9/2019

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