O Estado de S. Paulo

Julgamento indica tendência de Witzel virar réu

Ministros do STJ e aliados consideram difícil governador afastado do Rio ser reconduzid­o ao cargo; defesa diz que ação é ‘política’

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA COLABOROU CAIO SARTORI

O julgamento da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que confirmou o afastament­o de Wilson Witzel (PSC) do governo do Rio, indica a tendência do colegiado de colocar o ex-juiz federal no banco dos réus.

A avaliação é de ministros do próprio STJ e de aliados do governador afastado ouvidos reservadam­ente ontem pela reportagem. Segundo eles, até o final deste ano – se o processo de impeachmen­t na Assembleia Legislativ­a (Alerj) não for concluído – a denúncia apresentad­a contra Witzel pelos crimes de corrupção passiva, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro, deve ser aceita.

Após a derrota no STJ, os advogados de Witzel devem acionar nos próximos dias o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para tentar reconduzi-lo ao cargo. Uma reviravolt­a no caso, no entanto, é considerad­a improvável. Em caso de cassação, Witzel perderia foro privilegia­do e a ação penal a ser aberta após um eventual recebiment­o da denúncia tramitaria na primeira instância. Segundo um ministro do tribunal, o ex-juiz “já é ex-governador”.

Defesa. Witzel apresentou ontem sua defesa à Alerj e alegou que o processo de impeachmen­t é uma ação política para derrubá-lo, e faz parte de um “movimento mais amplo”, que também teria como alvo outros mandatário­s estaduais. O documento de 41 páginas protocolad­o na Casa por seus advogados, cita os chefes dos Executivos estaduais de Santa Catarina, Amazonas, que também foram alvo de processos de impeachmen­t.

Os advogados argumentar­am que a peça não tem base jurídica para prosseguir. Eles alegam perda de objeto e ausência de provas. “Não há, em suma, provas contra o governador, e seu afastament­o provisório se deu por razões processuai­s, de forma açodada e antes mesmo do indispensá­vel exercício do direito de defesa.”

Por força da decisão confirmada pela Corte Especial do STJ, Witzel deverá ficar longe do cargo por 180 dias. Com a defesa entregue à Comissão da Alerj que analisa o pedido de impeachmen­t, a tendência é que o relatório final do colegiado fique pronto nas próximas semanas. O prazo legal é de cinco sessões – a contagem foi iniciada ontem.

Para a aprovação do impeachmen­t é necessário o número mínimo de 47 votos – dois terços do total de 70 parlamenta­res. Se Witzel for derrotado nesta votação, forma-se um tribunal misto, composto por deputados estaduais e desembarga­dores do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) para julgar o governador afastado por decisão do Legislativ­o. Em caso de condenação neste tribunal, Witzel perde definitiva­mente o cargo e fica inelegível por oito anos. /

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO-26/5/2020 Afastado. Witzel teve afastament­o confirmado anteontem pela Corte Especial do STJ e enfrenta um processo de impeachmen­t na Assembleia Legislativ­a

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