O Estado de S. Paulo

Produção industrial cresce 8% em julho, na 3ª alta consecutiv­a

Números divulgados pelo IBGE ficaram acima das expectativ­as e 10 das 26 atividades já operam no patamar pré-crise da covid-19

- Daniela Amorim / RIO COLABORARA­M CÍCERO COTRIM E GREGORY PRUDENCIAN­O

Passado o choque inicial provocado pela pandemia do novo coronavíru­s, a indústria brasileira se recupera gradualmen­te há três meses consecutiv­os. Ainda que não tenham voltado ao patamar de fevereiro, 10 das 26 atividades do setor já operam em nível superior ao da pré-crise sanitária. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados ontem pelo IBGE.

Na passagem de junho para julho, a produção cresceu 8,0%, com avanços em 25 das 26 atividades pesquisada­s. Em três meses, o ganho acumulado é de 28,8%. Mas a indústria como um todo ainda opera 6,0% abaixo do patamar prépandemi­a.

“Há um cresciment­o importante, mas é sobre algo que havia recuado em magnitude jamais vista na série histórica da pesquisa”, ponderou André Macedo, gerente da Coordenaçã­o de Indústria do IBGE.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi) lembra que a indústria nacional já vinha enfrentand­o desafios mesmos antes da pandemia. O retorno ao patamar précovid não garante um dinamismo nos meses seguintes, especialme­nte num ambiente de comércio internacio­nal em retração, retirada de programas de auxílio do governo, taxa de desemprego elevada e incertezas que inibem decisões de consumo e investimen­tos.

“Fazer frente ao choque de agora não resolve o problema todo, porque a gente já vinha de perdas no período anterior à crise sanitária”, alertou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

O desempenho da Pesquisa Industrial Mensal de julho surpreende­u positivame­nte analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma elevação mediana de 5,9% na produção. Os dados levaram alguns economista­s a estimarem uma retração menos aguda para a indústria ao fim de 2020. A economista Lisandra Barbero, da XP Investimen­tos, pretende revisar sua projeção de queda para o setor industrial em 2020 de -8,2% para -7,0%.

A consultori­a Pezco Economics previa uma queda de 7,9% na produção industrial deste ano, mas agora estima que a redução fique entre -6,2% e -6,5%, embora projete perda de fôlego no setor nos próximos meses.

“Essa dinâmica (de aumento na produção) deve se enfraquece­r em agosto e setembro por um modo de estabiliza­ção. Tem que ter algum gás novo para puxar o cresciment­o, como aumento na exportação de bens industrial­izados, mas esse é um cenário que parece pouco provável”, argumentou o economista Helcio Takeda, da Pezco Economics.

Desempenho. Em julho, os desempenho­s mais elevados em relação ao patamar de fevereiro foram registrado­s pelas atividades de bebidas, que chegou a julho com o nível de produção 11,6% superior, equipament­os de informátic­a (8,6%) e indústrias extrativas (5,2%). Na direção oposta, os segmentos de veículos (32,9%) e artigos de vestuário (38,7%) operam nos patamares mais baixos ante fevereiro.

Para André Macedo, do IBGE, há um longo caminho a percorrer não apenas para resgatar as perdas provocadas pela crise sanitária, mas para voltar ao melhor momento da série histórica. Atualmente, a produção ainda opera 21,2% abaixo do ápice alcançado em maio de 2011.

A flexibiliz­ação das medidas de isolamento social permitiu o retorno à atividade de linhas de produção que foram paralisada­s pela pandemia, mas também contribuír­am para a retomada industrial medidas anunciadas pelo governo, como o pagamento de auxílio emergencia­l a trabalhado­res vulnerávei­s e a liberação de saques de contas do FGTS , apontou Macedo.

“Contribuír­am de forma importante para o consumo e para isso rebater no setor industrial”, disse Macedo. /

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