Grandes empresas mostram apetite por soluções de startups
Para garantir uma atuação mais ‘verde’, companhias dos mais variados setores buscam conhecimento externo
Uma das formas que as cleantechs têm para ganhar relevância é por meio de parcerias com grandes empresas. E esse intercâmbio já virou realidade: essas startups são selecionadas com cada vez mais frequência para desenvolver soluções para petroleiras, companhias de energia, fabricantes de papel e mineradoras. “As cleantechs são importantes para a gente. Com a ajuda dessas empresas, conseguimos acelerar ainda mais a transição de matriz energética”, diz Rafael Marciano, gestor de inovação da gigante do setor elétrico EDP.
A companhia tem dois programas de geração de negócios com startups de olho em programas de armazenamento (baterias) e mobilidade elétrica, por exemplo. A primeira brasileira a entrar no portfólio da companhia, a Delfos, aplica inteligência artificial para prever falhas em equipamentos de energia, por exemplo.
Mesmo a Petrobrás, dona de um dos maiores centros de tecnologia em energia do mundo, o Cenpes, se rendeu aos benefícios das cleantechs. A estatal participa da iniciativa Oil & Gas Climate Initiative (OGCI), fundo de US$ 1 bilhão que investe em startups na busca de tecnologias para um mundo de baixo carbono.
À medida que a demanda de soluções cresce, as startups começam a se organizar de maneiras inovadoras. Isso já pode ser percebido no setor de energia, no qual o Energy Hub SDP, que nasceu em plena pandemia, já reúne 36 startups. Desse total, 40% são voltadas a soluções renováveis, atuando também nas áreas de petróleo e gás e eletricidade. No momento, o grupo estrutura com a Câmara Comércio Americana (AHK) um “mini-hub” direcionado às energias alternativas.
“Os hubs têm a missão de serem conectores do ecossistema de inovação, ligando empresas, cadeia de fornecedores, investidores, academia e governo para alavancar a inovação no setor”, diz Luiz Mandarino, diretor de parcerias do Energy Hub SDP.
Resíduos. As cleantechs também se dedicam a soluções para rejeitos. A Klabin, por exemplo, busca um parceiro para encontrar alternativas para resíduos sólidos gerados na fabricação de celulose. “Quase todas as startups com as quais a gente se relaciona têm de seguir preceitos de sustentabilidade e economia financeira”, diz a gerente de inovação da Klabin, Renata Freesz.
Com as tragédias de Mariana e Brumadinho em seu histórico, a Vale lançou, ao lado da Firjan e do Senai, um programa para ajudar no desenvolvimento social do Espírito Santo a partir de ideias de startups. As soluções devem estar ligadas à gestão de resíduos sólidos e à segurança ferroviária.
Para o gerente de tecnologia e inovação para sustentabilidade da Vale, Sandoval Carneiro, as estruturas descomplicadas das startups favorecem o surgimento de boas ideias. “Startups com atuação em projetos sustentáveis têm a capacidade de encontrar soluções de forma ágil e criativa para os desafios nos campos social e ambiental”, disse ele, em comentário enviado ao Estadão/Broadcast.
O interesse pelas cleantechs também inclui o setor financeiro. Depois de Bradesco, Itaú Unibanco e Santander se debruçarem em ações em prol da Amazônia, o Banco do Brasil também entrou na onda sustentável. A instituição decidiu separar metade do orçamento de R$ 200 milhões para apoiar startups para um para um fundo verde. É a primeira iniciativa do banco neste sentido.
O objetivo do BB, conforme revelou a Coluna do Broadcast, é investir em novatas que sigam à risca critérios ambientais, sociais e de governança. Entre os exemplos estão empresas que já nasceram adaptadas à economia de baixo carbono ou companhias do agronegócio que priorizem o uso limitado de defensivos.