‘A VOZ HUMANA’, O CURTA DE ALMODÓVAR
Diretor espanhol chama de “experiência de liberdade” seu primeiro curta, rodado em inglês e apresentado em Veneza
O cineasta Pedro Almodóvar idealizou seu primeiro curta-metragem, A Voz Humana, apresentado na quinta, 3, no Festival de Veneza, como “uma experiência” de liberdade. Por isso, destrinchou o clássico de Jean Cocteau, no qual se inspira a história, modernizando sua protagonista de coração partido, interpretada por Tilda Swinton. “Acho que será a última vez que incomodarei o texto de Cocteau com a minha adaptação”, brincou o diretor espanhol, que voltou à Mostra um ano depois de receber seu Leão de Ouro honorário para estrear esse trabalho fora de competição.
A Voz Humana, também sua estreia em inglês, é uma adaptação bastante livre do monólogo de Cocteau (escrito em 1930), em que uma mulher abandonada implora por telefone a volta de seu amante. É um texto que, de fato, apareceu em várias ocasiões na filmografia do realizador espanhol. Carmen Maura o emula em A Lei do Desejo (1987) e esteve também na origem de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988).
A Voz Humana é modificado ao chegar ao universo de Almodóvar: sua narrativa pouco tem a ver com a submissão de outras atrizes que interpretaram o mesmo papel, como Anna Magnani ou Ingrid Bergman. “Eu, quase de um modo natural, queria fazer algo absolutamente não só diferente, mas quase totalmente oposto, porque eu não reconheceria como contemporânea essa mulher que espera e fala com o ex-amante.” A mulher, interpretada por uma soberba Tilda, vagueia desesperadamente por uma casa e encontra uma ideia fugaz de redenção em um machado e ansiolíticos esperando o telefone tocar com a voz “dela”.
Almodóvar disse que embarcar nessa aventura foi “um capricho”, vivido como uma “experiência de liberdade”. O diretor filmou após o relaxamento da quarentena na Espanha.