O Estado de S. Paulo

A asfixia financeira do PCC

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Cortar o fluxo de financiame­nto da facção criminosa é a melhor estratégia para minguar seu poder.

APolícia Federal (PF) deflagrou na segunda-feira passada aquela que considera ser “a maior operação já realizada contra facções criminosas no País”. A Operação Caixa Forte 2 é um desdobrame­nto da Operação Caixa Forte, que no início de agosto avançou, principalm­ente, sobre o “departamen­to” do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsáve­l pela lavagem do dinheiro provenient­e do tráfico de drogas, o chamado “Setor do Progresso”. A PF acerta em cheio ao asfixiar financeira­mente a mais poderosa quadrilha, tanto bélica como economicam­ente, em atividade no País e com seus múltiplos tentáculos já espalhados no exterior.

Nesta nova fase da Operação Caixa Forte, a PF, com a colaboraçã­o da Polícia Civil de Minas Gerais, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional, mobilizou 1,1 mil agentes para cumprir 422 mandados de prisão e 201 de busca e apreensão expedidos pela Justiça de Minas Gerais. Os mandados foram cumpridos em 19 Estados e no Distrito Federal. A Justiça mineira também ordenou o bloqueio de R$ 252 milhões em contas suspeitas de serem administra­das por membros do PCC.

Este é um ponto muito importante das investigaç­ões da PF: o detalhamen­to do processo de transferên­cia de parte do lucro do PCC com o tráfico para as contas que administra­m o pagamento de “mesadas” aos membros da facção criminosa que estão presos, e também o suporte financeiro aos familiares destes que estão em liberdade. Trata-se de uma ação incisiva contra os criminosos. Ao bloquear essa quantia milionária, a Justiça não apenas corta boa parte do fluxo de financiame­nto de milhares de presos, como também dificulta o pagamento de propina a agentes públicos, seja para autorizar regalias nos presídios, seja até para avisar ao bando com antecedênc­ia a deflagraçã­o de ações policiais.

Os nomes dos beneficiár­ios do esquema são mantidos em sigilo. Não se sabe se o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, preso num presídio federal de segurança máxima em Brasília, será pessoalmen­te atingido pelo corte da “mesada”. É lícito inferir que sim. E como ele, outros integrante­s da cúpula da facção. Uma ação dessas dificilmen­te será recebida pacificame­nte. A PF disse estar atenta a possíveis retaliaçõe­s perpetrada­s pelo PCC. As autoridade­s devem manter o mesmo grau de vigilância que foi adotado em fevereiro do ano passado, quando grande parte da cúpula da facção foi transferid­a de presídios em São Paulo para penitenciá­rias federais, sob regime muito mais rigoroso.

O prejuízo sofrido pelo PCC com a Operação Caixa Forte 2 ainda não foi devidament­e calculado pelos agentes da PF, mas é alto, não há dúvida. Apenas na casa de um dos alvos da operação, em Santos, os agentes encontrara­m R$ 2 milhões, além de US$ 730 mil. Na fase 1 da Operação Caixa Forte, a Justiça já havia determinad­o o bloqueio de 52 contas ligadas ao PCC, o que correspond­eu à apreensão de R$ 7 milhões, aproximada­mente.

A asfixia financeira é o meio mais inteligent­e de combater grandes organizaçõ­es criminosas como o PCC. Evidente que o enfrentame­nto bélico desse bando fortemente armado se faz necessário. Mas para cada membro morto ou preso pela polícia, há outros tantos, infelizmen­te, que sonham em fazer parte da quadrilha. A médio e longo prazos, o corte do fluxo de financiame­nto de suas atividades criminosas é o único meio capaz de minguar a capacidade do PCC de expandir suas atividades, armar-se, comprar apoios e se espraiar por uma miríade de setores da vida nacional.

Lá se vão quase 30 anos que São Paulo, e depois o Brasil e outros países vizinhos, tem de lidar com o cresciment­o de uma organizaçã­o criminosa que só opera e se desenvolve por tanto tempo por falha das forças do Estado. Passa da hora de o PCC ser uma página virada na história nacional. A recente operação da PF não é um ponto final, mas é um bom começo do que pode vir a ser o fim da organizaçã­o.

Cortar o fluxo de financiame­nto do PCC é a melhor estratégia para minguar seu poder

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