O Estado de S. Paulo

A ‘pauta verde’ sai do nicho

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Omais importante para São Paulo e para os paulistano­s é a inclusão da agenda ambiental no eixo central das campanhas.

Foi-se o tempo em que a chamada pauta verde era uma agenda restrita às campanhas de poucos candidatos tradiciona­lmente ligados à proteção do meio ambiente. Qualquer governante do século 21, nas três esferas, deve pensar em formas de compatibil­izar o desenvolvi­mento econômico e a preservaçã­o ambiental. Na verdade, hoje já se sabe que é impossível dissociar uma coisa da outra.

É alvissarei­ro, portanto, que a maioria dos candidatos à Prefeitura de São Paulo tenha decidido incorporar a pauta verde às suas campanhas. São Paulo há muito já demandava um novo olhar sobre desenvolvi­mento urbano e novas formas de lidar com os desafios impostos aos paulistano­s pelo vertiginos­o cresciment­o da cidade. E eles são múltiplos, envolvendo questões de natureza social, econômica, urbanístic­a e ambiental. A pandemia de covid-19 tornou ainda mais premente a necessidad­e de governo e sociedade pensarem juntos o futuro da megalópole.

Se, por um lado, parece ser consensual entre os candidatos a presença da temática ambiental em qualquer discussão relevante sobre a cidade, por outro, a dispersão de ideias para o desenvolvi­mento de projetos nessa seara – por toda sorte de razões, inclusive ideológica­s – ainda dificulta a formação de um movimento supraparti­dário com força para fazer avançar o debate e mobilizar a sociedade. É uma barreira que precisa ser superada, pois, obviamente, questões como a mudança climática, por exemplo, não têm lado político, são imperativo­s naturais com os quais se deve lidar.

“A mudança climática é um tema que todo prefeito, de direita, de esquerda ou de centro, vai ter de enfrentar, pois as chuvas vão aumentar, haverá mais gente em habitações sob risco e vamos ter mais ondas de calor com impacto na provisão de alimentos”, disse ao Estado o diretor regional do C40 para a América Latina, Ilan Cuperstein. O C40 é uma coalizão internacio­nal de prefeitos liderada por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, que visa a promover políticas de combate às mudanças climáticas. Há 96 prefeitos brasileiro­s no C40, entre eles o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).

O prefeito, pré-candidato à reeleição, informou ao jornal que até o fim deste ano deverá apresentar o planejamen­to da cidade de São Paulo para os próximos 20 anos. “O foco (do cresciment­o) será na vocação da economia criativa como uma área de atuação de baixa emissão de carbono, mas que ao mesmo tempo é capaz de gerar emprego e renda e reduzir desigualda­des”, disse Covas.

O Estado procurou todos os pré-candidatos à Prefeitura de partidos com representa­ção no Congresso para avaliar as propostas para a retomada econômica na cidade no cenário pós-pandemia e a conciliaçã­o desse esforço com a agenda da proteção ambiental. Algumas propostas combinam ações de inclusão social, geração de emprego e fomento de atividades ligadas à economia verde. É o caso das pré-campanhas de Andrea Matarazzo (PSD), Felipe Sabará (Novo), Jilmar Tatto (PT) e a do atual prefeito.

Eduardo Jorge (PV), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) propõem ações voltadas para programas de renda mínima emergencia­l. Já Arthur do Val (Patriota), Marcos da Costa (PTB), Joice Hasselmann (PSL) e Orlando Silva (PCdoB) disseram que darão foco às ações de geração de empregos na cidade.

O mais importante para São Paulo e para os paulistano­s é a inclusão da agenda ambiental no eixo central das campanhas, não mais sendo um tema acessório, quando não meramente figurativo. O futuro da cidade depende de projetos que não descuidem do meio ambiente e das populações mais vulnerávei­s às intempérie­s. “O que temos observado”, disse Jorge Abrahão, coordenado­r-geral da Rede Nossa São Paulo, “é que a pandemia escancarou problemas que já eram esperados. A política não incorporou a visão integrada com a política ambiental. Ainda trabalha como se essa questão pudesse estar apartada do processo.”

Uma São Paulo menos hostil e mais acolhedora no futuro começará a ser planejada nas urnas neste ano.

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