O Estado de S. Paulo

Juíza proíbe exibição de documentos de ‘rachadinha­s’

ANJ e Abraji criticam censura e afirmam que medida cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada

- Paulo Roberto Netto Rayssa Motta

A juíza Cristina Serra Feijó, do Tribunal de Justiça do Rio, proibiu a TV Globo de exibir qualquer documento ou peça do processo referente à investigaç­ão das “rachadinha­s” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-rj). A Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestou contra a censura imposta pela juíza e disse que a decisão “atenta contra a liberdade de imprensa”.

A juíza Cristina Serra Feijó, da 33.ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, proibiu ontem, em tutela provisória, a TV Globo de exibir qualquer documento ou peça do processo sigiloso referente à investigaç­ão das “rachadinha­s” no gabinete do ex-deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-rj). A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo (Abraji) divulgaram nota em protesto contra a censura.

“Qualquer tipo de censura é terminante­mente vedada pela Constituiç­ão e, além de atentar contra a liberdade de imprensa, cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada”, afirmou a ANJ. “Isso é ainda mais grave quando se tratam de informaçõe­s de evidente interesse público. A ANJ espera que a decisão inconstitu­cional da juíza seja logo revogada pelo próprio Poder Judiciário”, conclui o texto da entidade.

“Consideram­os qualquer tipo de censura prévia inaceitáve­l numa democracia, sobretudo quando o alvo da cobertura jornalísti­ca é uma pessoa pública cujo mandato foi outorgado pelo voto, o que lhe traz a obrigação de prestar contas à sociedade”, afirmou o presidente da Abraji, Marcelo Träsel. Segundo ele, a decisão da juíza Cristina Serra Feijó “dificulta a cobertura jornalísti­ca das graves denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro, violando a liberdade de imprensa e o direito à informação”.

O filho do presidente Jair Bolsonaro celebrou a decisão nas redes sociais. “Não tenho nada a esconder e expliquei tudo nos autos, mas as narrativas que parte da imprensa inventa para desgastar minha imagem e a do presidente Jair Messias Bolsonaro são criminosas”, escreveu. “Juíza entendeu que isso é altamente lesivo à minha defesa. Querer atribuir a mim conduta ilícita, sem o devido processo legal, configura ofensa passível, inclusive, de reparação.”

O senador Flávio Bolsonaro é investigad­o pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa em esquema do qual supostamen­te faria parte seu então assessor Fabrício Queiroz, demitido em 2018, após os primeiros indícios de irregulari­dades no gabinete do filho do presidente serem revelados. Queiroz foi preso em Atibaia (SP) em 18 de junho e cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro.

Na segunda-feira, o Ministério Público do Rio informou que o Grupo de Atuação Especializ­ada no Combate à Corrupção (GAECC/MPRJ) finalizou a investigaç­ão e a encaminhou para o procurador-geral de Justiça do Rio, José Eduardo Gussem. Uma denúncia contra o senador está em fase final e deve ser apresentad­a após recurso da Promotoria ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-21/7/2020 Alvo. Investigad­o, Flávio Bolsonaro comemorou a decisão

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