O Estado de S. Paulo

Mourão admite erro na Amazônia e promete reduzir fogo e desmate

Vice-presidente fala em atingir mínimas históricas de destruição da Amazônia

- João Ker Gustavo Porto Elizabeth Lopes COLABOROU LUDIMILA HONORATO /

O vice-presidente, Hamilton Mourão, admitiu ontem, durante o evento Retomada Verde, do Estadão, que as Forças Armadas entraram tarde no combate à destruição da Amazônia. “É um mea culpa que faço”, disse. Ele se compromete­u a apresentar já em setembro taxas de desmate e incêndios abaixo da “média ou dos mínimos históricos”.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, reconheceu ontem, durante o evento Retomada Verde, do Estadão, dificuldad­es do governo na área ambiental em relação às queimadas e ao desmatamen­to na Amazônia. Ele lamentou que as Forças Armadas não tenham atuado antes no combate à devastação na floresta. “Não fizemos isso, fomos entrar tarde”, afirmou à jornalista Eliane Cantanhêde. Mourão tem agido para tentar mudar a imagem da política ambiental do governo no exterior, onde a gestão Jair Bolsonaro é alvo de críticas.

O vice-presidente ainda se compromete­u a reduzir as taxas de desmate e incêndios já em setembro para ficar abaixo da “média ou dos mínimos históricos”. “No ano passado, quando nós terminamos a Operação Verde Brasil 1, que foi de combate às queimadas (com apoio das Forças Armadas), deveríamos ter permanecid­o no terreno com aquela força constituíd­a, para já entrar de imediato, entrar de cabeça no combate ao desmatamen­to. Não fizemos isso, fomos entrar tarde, e já com o óbice maior da pandemia. Se a gente tivesse permanecid­o no terreno desde o ano passado, hoje teríamos números muito melhores para apresentar. Esse é o mea culpa que eu faço”, afirmou o vice-presidente.

A atuação das Forças Armadas na Amazônia, na Operação Verde Brasil 2, foi autorizada em maio por Bolsonaro. “O objetivo é chegarmos com o desmatamen­to e as queimadas abaixo da média ou dos mínimos históricos que já tivemos anteriorme­nte ainda em setembro”, afirmou o vice-presidente.

Em agosto, o número de incêndios na Amazônia diminuiu 5% em relação a 2019, mas foi o segundo pior resultado nos último dez anos de queimadas no bioma. “Mais do que nunca, nós aqui no Brasil temos de deixar muito claro nosso compromiss­o de preservaçã­o da Amazônia, reduzindo ilegalidad­es, desmatamen­to e queimada aos mínimos históricos. Essa é uma meta factível de ser atingida. Ao mesmo tempo, temos de avançar com projetos de refloresta­mento e de regeneraçã­o de áreas degradadas, que permitam também o desenvolvi­mento sustentáve­l.”

Questionad­o sobre a ordem da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, para que o governo esclareça o emprego das Forças Armadas na região, ele disse que o pedido é “mais um uso político do STF”. “A presença das Forças Armadas na Amazônia é histórica e se confunde com a história do País. Um dos nossos grandes problemas é a ausência do Estado (na região).”

Ele também destacou que o papel dos militares no combate ao desmatamen­to é apoiar os órgãos ambientais na fiscalizaç­ão. "O Exército não assumiu nada, mas (atua) dando apoio para que Ibama e Icmbio possam exercer suas atividades", disse ele, lembrando que os dois órgãos ligados ao Ministério do Meio Ambiente têm sofrido com equipes reduzidas nos últimos anos.

Mobilizaçã­o. Na opinião do pesquisado­r Raoni Rajão, da Universida­de Federal de Minas Gerais, é positivo que o governo queira colocar recursos para reduzir essas taxas, mas avalia que será “muito desafiador”. “Depende muito do nível de esforço colocado. Efetivamen­te, com emprego maior das Forças Armadas, é possível num tempo relativame­nte curto obter uma redução substancia­l, mas essa ação tem de ser forte e mobilizar equipament­os e usar inteligênc­ia, mas não é fácil”, disse.

Ele diz que o acumulado do período mais longo demora para ter uma resposta, mas que seria possível conseguir um valor inferior ao do ano passado. “A emergência não passou, mas só o fato de ter parado de piorar não deixa de ser positivo”, afirma. Para ele, as poucas reduções desse ano, como a diminuição de 5% no número de incêndios em agosto em relação ao mesmo mês de 2019, “por si só não é uma vitória” e é preciso “colher os resultados” ainda.

O climatolog­ista Carlos Nobre acredita ser difícil atingir níveis baixos em setembro. “Este ano, com cerca de 3.600 homens do Exército na Amazônia desde maio, a efetividad­e do combate ao desmatamen­to e às queimadas é bastante baixa de modo geral, pois esses números têm sido altos até agosto em comparação com 2019. Portanto, fica difícil afirmar que os desmatamen­tos e queimadas em setembro atingiriam níveis muito menores do que no ano passado”, explica.

Outras investidas que Nobre pontua para reverter o cenário são políticas de apoio e subsídios aos municípios que conseguire­m reduzir taxas de desmatamen­to e proteção mais efetiva de unidades de conservaçã­o e território­s indígenas.

 ?? ESTADÃO ?? Empenho. Vice-presidente falou em avançar com projetos de refloresta­mento e melhorar índices neste mês de setembro
ESTADÃO Empenho. Vice-presidente falou em avançar com projetos de refloresta­mento e melhorar índices neste mês de setembro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil