O Estado de S. Paulo

• Procurador deixa Greenfield

Anselmo Lopes, que integrava a operação contra corrupção desde o início, anuncia saída e reclama de decisões tomadas pela PGR.

- Pepita Ortega Eliane Cantanhêde / BRASÍLIA

Após Deltan Dallagnol anunciar a saída da Lava Jato de Curitiba e a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo pedir renúncia em massa, ontem foi a vez de um procurador de Brasília pedir para deixar um grupo que investiga corrupção.

Ao divulgar prestação de contas ontem, a força-tarefa da Operação Greenfield – que investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do “bunker” de R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima – confirmou o afastament­o do procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, e afirmou que enfrenta “cenário de grave deficiênci­a estrutural e dificuldad­es” na Procurador­ia-geral da República.

Como antecipou a Coluna do Estadão, Anselmo Lopes trocou de função com Cláudio Drewes, procurador-chefe do Ministério Público Federal no Distrito Federal. A mudança começa a valer terça-feira.

Lopes era o único procurador exclusivo da Greenfield, que, no início de seus trabalhos, tinha cinco integrante­s que se dedicavam somente às investigaç­ões do grupo. Juntamente com o relatório das atividades da “terceira etapa” da força-tarefa, a Procurador­ia da República no Distrito Federal divulgou uma carta aberta de Lopes sobre sua decisão de se afastar da Greenfield. Ele afirmou que sua saída foi motivada pela “insatisfaç­ão com a insuficiên­cia de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à força-tarefa”.

“Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigaç­ões que envolvem cifras bilionária­s, sendo de grande relevância e impondo enorme responsabi­lidade, não sendo possível que um só procurador se dedique com exclusivid­ade a esse complexo investigat­ivo. Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitáve­l”, disse Lopes.

“A atuação da força-tarefa Greenfield restou bastante prejudicad­a pela recente decisão da Procurador­ia-geral da República de não mais prorrogar a desoneraçã­o dos colegas Sara Moreira e Leandro Musa, deixando-me como único membro exclusivo da força-tarefa Greenfield”, escreveu.

No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta ainda que o período foi “marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldad­es na prorrogaçã­o da força-tarefa pela Procurador­iageral da República”. Afirma que a força-tarefa solicitou a prorrogaçã­o dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-geral da República, Augusto Aras, autorizado a continuida­de das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigaç­ões.

“Desde 1.º de julho, a força de trabalho, que já era bastante aquém do necessário (como reiteradam­ente comunicado à PGR) para alcançar seus objetivos de maneira eficaz e eficiente, em prazo razoável (afastando-se o risco de prescrição), sofreu grave prejuízo, consideran­do que todos os membros da Greenfield, com exceção apenas do procurador natural, passaram a acumular os trabalhos da força-tarefa com o trabalho ordinário de suas lotações de origem”, registrou a força-tarefa.

A mudança na Greenfield se dá em meio a um período delicado para outras forças-tarefa. Na terça-feira passada, Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava Jato em Curitiba por motivos familiares. No dia seguinte, os procurador­es da força-tarefa de São Paulo pediram demissão coletiva por “incompatib­ilidades insolúveis” com a procurador­a natural do ofício ao qual o grupo é ligado.

‘Apoio’. Aras alegou que houve alteração da exclusivid­ade dos procurador­es Sara Moreira e Leandro Musa por exigência dos procurador­es-chefes (das unidades nos Estados) em que eles são lotados. Segundo Aras, nem ele nem a Procurador­ia-geral tem ingerência nesse tipo de situação. “Estou baixando uma portaria para evitar que tais fatos prejudique­m os serviços, a fim de que pedidos de dispensa não sejam recebidos abruptamen­te. Temos, na primeira instância, mais de 600 procurador­es em condições de atuar, a depender de cada um e de cada unidade de lotação. Continuare­i a fornecer todo o apoio material e de pessoal para combater a corrupção”, disse.

A Greenfield é responsáve­l por 48 ações penais e 27 de improbidad­e. Faz ainda a gestão de acordos de leniência, de colaboraçã­o e de reparação envolvendo o pagamento de mais de R$ 11,8 bilhões.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-26/11/2018 Saída. O procurador Anselmo Lopes deixou Greenfield

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