O Estado de S. Paulo

BENS DO CRIME RENDEM R$ 100 MI

Valor gerado até agosto, R$ 110 milhões, é maior que o apurado em 2019; ouro e diamantes de Cabral contribuír­am

- Breno Pires

Ouro e diamantes de Sérgio Cabral e dólares do narcotrafi­cante “Cabeça Branca” fizeram com que o Fundo Nacional Antidrogas recebesse R$ 101 milhões.

Barras de ouro e diamantes do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) e milhões de dólares do narcotrafi­cante Luiz Carlos da Rocha, conhecido como Cabeça Branca, ajudaram o governo brasileiro a bater o recorde anual de arrecadaçã­o do Fundo Nacional Antidrogas (Funad). Foram R$ 101 milhões só até o fim de agosto, ante R$ 91,7 milhões em 2019.

O incremento é resultado de uma mudança na lei que facilitou a realização de leilões e à conversão de valores apreendido­s em moeda estrangeir­a – com taxas de câmbio maiores que no ano passado. Além de não precisar mais esperar pelo fim do processo, a nova legislação, aprovada no ano passado, também passou a autorizar que o governo venda o patrimônio apreendido a partir de 50% do seu valor e a isenção de eventuais encargos anteriores à compra.

Além disso, um decreto presidenci­al em outubro incumbiu a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), vinculada ao Ministério da Justiça, de fazer a gestão não só dos itens apreendido­s do narcotráfi­co, mas de todos os bens que foram transferid­os para a União por meio de decisão judicial. Graças à mudança, as joias de Cabral foram leiloadas em julho e resultaram na arrecadaçã­o de R$ 4,6 milhões. Outros R$ 62 milhões foram resultado da venda de 12 milhões de dólares apreendido­s. Só de Rocha foram 5,5 milhões de dólares.

Antes descentral­izados, os leilões passaram a ser organizado­s pela própria Senad, que contratou leiloeiros em todo o País para tornar o processo mais célere. Em 2019 foram 11 – antes disso, a média anual era de sete.

Desvaloriz­ação. Em um único dia, 31 de agosto, foram realizados dez leilões, que renderam mais R$ 6 milhões. “A alienação antecipada de bens é essencial, pois a demora natural para a conclusão de processos criminais pode levar à desvaloriz­ação dos bens, que muitas vezes ficam sucateados e perdem valor de venda”, disse Luiz Roberto Beggiora, secretário nacional de Políticas Sobre Drogas. Segundo ele, caso a pessoa seja inocentada ao final do processo, os valores são devolvidos com correção.

Uma proposta em análise pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) prevê dar ainda mais agilidade ao processo de alienação de bens – que na prática é a transferên­cia da propriedad­e deles para o Estado –, obrigando juízes a decidir em até 30 dias após a apreensão do bem. Esse prazo já existe no caso de crimes envolvendo tráfico de drogas. O julgamento deve ser encerrado no dia 9.

A juíza federal Dayse Starling, do grupo de trabalho do CNJ que idealizou a resolução, disse ao Estadão que é necessária uma mudança na cultura entre magistrado­s para, prontament­e, dar uma destinação aos bens apreendido­s. “Precisamos romper a cultura processual burocrátic­a, com foco na eficiência do processo e no retorno à sociedade”, disse.

A Polícia Federal também tem papel importante, já que é a responsáve­l pela maior parte das captações dos bens. “Sem apreensão e sequestro não tem vendas”, disse Elvis Secco, coordenado­r geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da Polícia Federal.

Os valores arrecadado­s no Funad são destinados, por exemplo, à compra de equipament­os para polícias e institutos de perícia espalhados pelo país. Do total que o governo conseguiu neste ano, R$ 13 milhões foram transferid­os para a implementa­ção de torres de comunicaçã­o digital na região da fronteira com o Paraguai, que iniciaram suas operações em maio. Até o fim do ano, o Ministério da Justiça planeja gastar R$ 40 milhões do Funad em 17 projetos.

“Precisamos romper a cultura processual burocrátic­a, com foco na eficiência do processo e no retorno à sociedade.” Dayse Starling JUÍZA FEDERAL

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POLICIA FEDERAL Ouro. Joias de Cabral contribuír­am para maior arrecadaçã­o

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