O Estado de S. Paulo

Rússia tenta minar confiança no voto por correio nos EUA, diz relatório

Segundo documento do Departamen­to de Segurança Interna, Moscou estaria espalhando falsas alegações de que as cédulas enviadas não são confiáveis e seriam suscetívei­s a manipulaçã­o, alegações idênticas às que Donald Trump tem feito

-

A Rússia trabalha para “minar a confiança da população no processo eleitoral” americano, espalhando falsas alegações de que as cédulas de correio têm fraudes e são suscetívei­s a manipulaçã­o. As informaçõe­s constam de um relatório de inteligênc­ia do Departamen­to de Segurança Interna dos EUA (DHS, na sigla em inglês), que foi divulgado ontem.

O que chama a atenção no relatório do DHS é que muitas das alegações feitas por fontes russas são idênticas a declaraçõe­s públicas repetidas pelo presidente Donald Trump e pelo secretário de Justiça, William Barr. Eles afirmam que as cédulas enviadas pelo correio não são confiáveis e alertam para o potencial de fraude nas eleições presidenci­ais que ocorrem em 3 de novembro.

Por enquanto, Trump segue atrás do democrata Joe Biden nas principais pesquisas nacionais. A vantagem de Biden é de 7,1 pontos porcentuai­s (49,3% a 42,2%), segundo a média de sondagens do site Real Clear Politics, e 7,4 pontos porcentuai­s (50,4% a 43%), de acordo com a projeção do site Five Thirty Eight. Analistas e adversário­s do presidente dizem que os ataques de Trump ao voto por correspond­ência seria uma forma de deslegitim­ar o processo eleitoral, em caso de uma derrota.

Em seu relatório, o DHS avaliou que os russos, provavelme­nte, “promoverão alegações de corrupção, falha do sistema e interferên­cia estrangeir­a para semear a desconfian­ça nas instituiçõ­es democrátic­as e nos resultados das eleições”. O boletim fornece um nível de detalhe sobre os esforços russos raramente divulgado publicamen­te por funcionári­os do governo sobre as eleições de 2020.

A campanha de desinforma­ção da Rússia usa uma rede de mídia controlada pelo Estado, sites e trolls nas redes sociais – pessoas que alimentam polêmicas. O documento não identifica nenhuma dessas fontes pelo nome, mas funcionári­os do DHS disseram que a avaliação foi feita com base em informaçõe­s confidenci­ais sobre os esforços do governo russo para interferir nas eleições de 2020 nos Estados Unidos.

Uma das oportunida­des que os russos identifica­ram é explorar as preocupaçõ­es de que o transporte do correio possa ser incapaz de lidar com a enorme quantidade de votos enviados, de acordo com o relatório.

“Esses sites também alegam que os processos de voto por correspond­ência sobrecarre­gariam o serviço postal dos EUA e as juntas eleitorais locais, atrasando a tabulação dos votos e criando mais oportunida­des de fraude e erro.”

Revisão. Há quatro anos, as agências de inteligênc­ia dos EUA concluíram unanimemen­te que a interferên­cia russa tinha como objetivo favorecer a eleição de Trump. Em 2016, poucos meses antes da eleição, hackers russos invadiram os servidores do Comitê Nacional Democrata e da candidata Hillary Clinton.

A ajuda da Rússia foi objeto de uma investigaç­ão exaustiva do Congresso e do procurador especial, Robert Mueller, que incomodou o presidente nos três primeiros anos de mandato.

O voto por correspond­ência é comum nos EUA. Em 2016, cerca de 33 milhões de cédulas foram enviadas pelo correio. Desta vez, para a eleição de 3 de novembro, são esperados um número sem precedente­s de votos em razão da pandemia. Alguns Estados esperam um aumento de até dez vezes no volume normal de correspond­ência nos próximos meses.

Pelo menos 75% dos eleitores americanos teriam direito a votar pelo correio neste ano. Mas, de acordo com a agência Reuters, até metade do eleitorado deverá votar por correspond­ência. Segundo o New York Times, 44 milhões de pessoas em 9 Estados e na capital Washington receberão as cédulas em casa. Em apenas sete Estados, o voto será presencial – exceto se o eleitor apresentar uma justificat­iva para votar pelo correio.

Após a publicação do relatório, Chad Wolf, secretário interino do DHS, correu para tentar apagar o incêndio. Em entrevista à Fox News, ele disse que o texto estava sendo revisto. “O relatório foi muito mal escrito”, disse Wolf. “Quando conversei com funcionári­os do serviço de inteligênc­ia e análise, que produziu o relatório, eles também tinham dúvidas a respeito. Agora, eles estão trabalhand­o para reescrever esse relatório, colocando-o em um contexto melhor.”

Para os democratas, o relatório apenas confirma as suspeitas de que os russos estão novamente atuando para favorecer Trump. “A Rússia vem reverberan­do essas narrativas falsas sobre o voto pelo correio que Trump tem espalhado”, afirmou o deputado Adam Schiff, presidente da Comissão de Inteligênc­ia da Câmara.

Um porta-voz do escritório de inteligênc­ia do DHS, que não quis comentar diretament­e o relatório, disse que as “atividades de influência estrangeir­a destinadas a manipular a população americana estão entre as ameaças mais desafiador­as que o país enfrenta”.

“Esses sites também alegam que os processos de voto por correspond­ência sobrecarre­gariam o serviço postal dos EUA e as juntas eleitorais locais, atrasando a tabulação dos votos e criando mais oportunida­des de fraude e erro”

TRECHO DE RELATÓRIO DO DHS SOBRE A TENTATIVA DE INFLUÊNCIA RUSSA NAS ELEIÇÕES DE NOVEMBRO

 ?? MORRY GASH FILE/AP ?? Pandemia. Eleitora entra em local de votação em Milwaukee, no Estado de Wisconsin: voto por correspond­ência não é novidade para os americanos
MORRY GASH FILE/AP Pandemia. Eleitora entra em local de votação em Milwaukee, no Estado de Wisconsin: voto por correspond­ência não é novidade para os americanos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil