O Estado de S. Paulo

Facebook tira do ar contas falsas em países da América Latina

Empresa americana havia sido contratada para interferir na política de Venezuela, Bolívia e México

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Quando o líder da oposição venezuelan­a Juan Guaidó se declarou o presidente da Venezuela, em janeiro de 2019, uma conta do Instagram, a @Frentelibr­evzla, postou um vídeo declarando-o um “novo líder” que traria liberdade para a nação.

Quem assistia não tinha como saber que a conta não estava em Caracas, mas no centro de Washington, administra­da por uma empresa de comunicaçã­o com clientes em toda a América Latina, segundo relatório produzido por uma empresa independen­te a pedido do Facebook.

A CLS Strategies tornou-se nesta semana mais uma empresa de comunicaçã­o a ser punida pelo Facebook por usar contas falsas – incluindo no Instagram, uma subsidiári­a da rede social – para manipular a política de outros países, em violação às normas do Facebook.

A CLS Strategies informou que iniciou uma investigaç­ão interna, em conjunto com um escritório de advocacia, e colocou o chefe de seu setor da América Latina sob licença, negando que suas atividades significas­sem interferên­cia estrangeir­a na vida política desses países.

“É importante ressaltar que nosso trabalho com clientes na América Latina, incluindo oposição a regimes opressores, não foi conduzido em nome de entidades estrangeir­as. O trabalho foi financiado e dirigido por clientes dentro de cada país. Isso torna o trabalho da CLS muito diferente das atividades de influência estrangeir­a relatadas pelo Facebook, e qualquer caracteriz­ação do trabalho da CLS nos três países em questão como ‘estrangeir­o’ está errada”, disse o presidente da CLS Strategies, Bob Chlopak, em comunicado.

O Facebook anunciou que fechou 55 contas na sua rede, 42 páginas e 36 endereços do Instagram vinculadas à CLS Strategies que buscavam influencia­r a política na Venezuela, na Bolívia e no México. A empresa teria desembolsa­do US$ 3,6 milhões (cerca de R$ 19 milhões) em publicidad­e nos três países. As páginas acumulavam mais de 500 mil seguidores.

O relatório divulgado ontem, produzido pelo Stanford Internet Observator­y, um grupo de pesquisa sobre desinforma­ção que recebeu dados do Facebook, teve como foco as contas ativas na Bolívia e na Venezuela, incluindo vários perfis reais operados por funcionári­os da CLS Strategies.

Segundo os pesquisado­res, as contas fechadas não operavam em conjunto para ampliar artificial­mente o conteúdo, mas eles descobrira­m que 11 delas que tinha com alvo a Bolívia foram abertas no mesmo período, em fevereiro de 2020, e listaram quatro gerentes nos Estados Unidos, um na própria Bolívia e outro na Venezuela.

O relatório também observou que os funcionári­os da CLS Strategies tinham vínculos profission­ais anteriores com líderes políticos da oposição na Venezuela. Já as contas direcionad­as à Bolívia apoiaram a presidente interina, a conservado­ra Jeanine Áñez, e criticavam seu antecessor, Evo Morales.

O gabinete de Áñez confirmou que a CLS Strategies foi contratada em dezembro de 2019 “para fazer lobby em apoio à democracia boliviana” e “em apoio à realização de novas eleições presidenci­ais” no país.

“É importante ressaltar que nosso trabalho anterior com clientes na América Latina, incluindo oposição a regimes opressores, não foi conduzido em nome de entidades estrangeir­as” Bob Chlopak PRESIDENTE DA CLS STRATEGIES

 ?? MERIDITH KOHUT/THE NEW YORK TIMES ?? Disputa. Opositor venezuelan­o Juan Guaidó seria um dos beneficiad­os por postagens
MERIDITH KOHUT/THE NEW YORK TIMES Disputa. Opositor venezuelan­o Juan Guaidó seria um dos beneficiad­os por postagens

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