O Estado de S. Paulo

Pandemia piorou quadro e procura em alguns casos está em 50%

Ministério já prepara uma campanha de multivacin­ação para outubro para tentar recuperar as doses

- / F.C.

Os números parciais de cobertura vacinal para 2020 indicam que a pandemia pode ter reduzido ainda mais a procura por imunização no País. Dados preliminar­es do Ministério da Saúde obtidos pelo Estadão apontam que a maioria das vacinas infantis registrou, no primeiro semestre do ano, coberturas na faixa dos 50% a 60%.

A cobertura da BCG para o período de janeiro a junho está em apenas 57,4%. A da poliomieli­te alcançou somente 59,5%. A da tríplice viral, que protege contra sarampo e outras duas doenças, está em 64,3%. A dose da vacina da hepatite B dada aos recém-nascidos teve apenas 50,5% da meta alcançada.

Os dados ainda não são os finais pois os gestores municipais, responsáve­is por executar as ações de vacinação, têm até março do ano seguinte para registrar no sistema federal todas as doses aplicadas. Mas especialis­tas em imunização e o próprio Ministério da Saúde já veem o cenário com preocupaçã­o. A pasta prepara uma campanha de multivacin­ação para outubro para tentar colocar em dia as doses em atraso.

Para Isabella Ballalai, vicepresid­ente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM), mesmo com o prazo prolongado dado aos gestores, é incomum ver coberturas tão baixas nesta época do ano. “Mesmo que eles tenham meses para notificar, os índices parciais não costumam destoar tanto dos que vemos no fim do ano. Acredito que tenha um impacto, sim, da pandemia. Muitos estão adiando a vacinação com medo do vírus”, diz.

O medo dos pais de levarem as crianças aos postos de saúde em meio à pandemia é a principal razão para as baixas coberturas, diz. Mas problemas nas notificaçõ­es das doses dadas também podem estar afetando os números. “Os sistemas de registro são complexos, nem sempre funcionam. No meio da pandemia, a prioridade de atendiment­o era outra e pode ser que algumas doses dadas não tenham sido notificada­s ainda”, explica Alessandro Chagas, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretaria­s Municipais de Saúde (Conasems).

Isabella destaca o risco de retomada das aulas presenciai­s com os calendário­s de vacinação atrasados. “Neste ano, mesmo com todo mundo isolado, tivemos 7 mil casos de sarampo. Imaginem se as crianças estivessem indo nas escolas. É muito preocupant­e. É importante que nos protocolos de retomadas das aulas, esteja como um dos pontos fundamenta­is a atualizaçã­o das doses em atraso”, diz ela.

Questionad­o sobre os impactos da pandemia na adesão à vacinação, o Ministério da Saúde afirmou que foram mantidas e prorrogada­s as estratégia­s de vacinação contra o sarampo em pessoas de 20 a 49 anos e outras ações serão realizadas no segundo semestre, como as campanhas nacionais de vacinação contra a poliomieli­te e a multivacin­ação para a atualizaçã­o da situação vacinal. “O público-alvo das ações inclui crianças e adolescent­es de até 15 anos cujas doses estão atrasadas por qualquer motivo, inclusive a pandemia”, disse a pasta.

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