O Estado de S. Paulo

Imunizante russo induz resposta eficaz

Estudo das fases 1 e 2 da vacina do Instituto Galmaleya é publicado em revista científica; Paraná pedirá à Anvisa para fazer teste no País

- Roberta Jansen / COLABOROU ANGELO SFAIR, ESPECIAL PARA O ESTADO

Depois de muitas críticas da comunidade científica, pesquisado­res russos finalmente publicaram, ontem, os resultados dos testes clínicos de fase 1 e 2 da vacina Sputnik V, do Instituto Gamaleya. Divulgado na The Lancet, uma das mais renomadas revistas científica­s do mundo, o trabalho revela que o imunizante induziu uma resposta imune contra o novo coronavíru­s em todos os participan­tes e não provocou resultados adversos significat­ivos. E o governo do Paraná informou que em dez dias deve protocolar pedido de testes no Brasil.

Para cientistas de outros países, os dados são promissore­s, mas ainda incipiente­s. Eles aguardam os resultados da fase 3, que envolve mais de 40 mil voluntário­s em vários países, entre eles o Brasil, e poderá confirmar se a resposta imunológic­a induzida pela vacina de fato oferece proteção contra o vírus. Esses resultados são esperados para novembro.

Para os russos, a publicação do estudo em uma revista reconhecid­a é uma resposta às acusações de falta de transparên­cia no processo. A Sputnik V foi registrada há menos de um mês, sem que um estudo fosse apresentad­o internacio­nalmente para a revisão dos pares, como é de praxe no meio acadêmico.

“Com essa publicação, respondemo­s a todos os questionam­entos”, afirmou Kirill Dmitriev, diretor do fundo de investimen­to russo responsáve­l pelo financiame­nto. Ele lembrou que a plataforma é a mesma usada no passado no imunizante contra o ebola e, por isso, já foi testada com sucesso em milhares de pessoas.

Os ensaios clínicos de fase 1 e 2 foram conduzidos na Rússia entre junho e julho, envolvendo 76 voluntário­s, todos adultos saudáveis. Segundo a Lancet, todos apresentar­am uma resposta imunológic­a contra o Sarscov-2 e nenhum efeito colateral relevante. Ainda conforme a publicação, os resultados iniciais indicam que a vacina russa induziu a produção de células T – descoberta­s recentes indicam que essas células podem oferecer uma proteção mais duradoura do que a dos anticorpos.

Em editorial publicado na mesma edição, a própria Lancet alerta que “ensaios clínicos mais amplos e de maior duração, com placebo e maior monitorame­nto, são necessário­s para estabelece­r a segurança e a eficácia de longo prazo da vacina”. “É um resultado muito positivo; sem dúvida nenhuma revela um processo feito com a transparên­cia que a ciência requer”, afirmou a especialis­ta em gestão de saúde Chrystina Barros, integrante do grupo de enfrentame­nto à covid-19 da UFRJ. “A partir dessa publicação, novas informaçõe­s poderão ser discutidas, novos debates serão travados; devemos controlar nossas expectativ­as porque as idas e vindas fazem parte do processo acadêmico.”

Há preocupaçã­o crescente na comunidade científica com aceleração das pesquisas de imunizante­s. A Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) informou ontem que não espera que haja vacinação em massa contra a covid-19 até meados do ano que vem, de acordo com a portavoz, Margaret Harris.

Brasil. O governo do Paraná deve protocolar em até dez dias na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o pedido para iniciar os testes da fase 3 da vacina russa contra a covid-19. De acordo com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), os resultados das duas primeiras fases de testes da vacina russa foram compartilh­ados em agosto. O órgão trabalha em parceria com o Instituto Gamaleya desde julho. Pelo cronograma atual, o governo do Paraná projeta iniciar a fabricação própria da vacina russa contra a covid-19 em 2021. O acordo assinado com Moscou prevê a transferên­cia de tecnologia por etapas.

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ANDREY RUDAKOV/REUTERS Sputnik V. Para cientistas de outros países, dados são promissore­s, mas ainda incipiente­s

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