O Estado de S. Paulo

Queda de braço entre fornecedor e supermerca­do já dura 15 dias

Segundo associação, varejistas têm represado suas compras para tentar negociar preços menores com indústria

- T. N.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro diz que vai conversar com a Associação Brasileira de Supermerca­dos (Abras) e pedir sacrifício dos donos dessas redes, as empresas do ramo já travam uma queda de braço de mais de 15 dias com seus fornecedor­es. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, os supermerca­dos têm represado suas compras e vendido seus estoques para tentar negociar preços menores.

“Nos últimos 15 a 20 dias o varejo está discutindo preço. A palavra certa é essa mesma: queda de braço”, diz Terra. Ele explica que a pressão veio à tona agora, com o recente comunicado da Abras sobre os preços da cesta básica. Além disso, alguns supermerca­dos já começam a restringir a compra de produtos básicos por cliente. “Como o aumento (nos preços dos fornecedor­es) é abrupto, há represamen­to da compra (dos varejistas). O varejo tenta postergar tabela de preços”, diz.

No entanto, essa briga para ver quem mais diminui suas margens de lucro deve ter pouco sucesso na formação geral dos preços. Terra avalia, como é consenso entre economista­s, que a razão central dos aumentos é a alta do dólar e o consequent­e aumento das exportaçõe­s. Somado a isso, o aumento de demanda interna causada pelo Auxílio Emergencia­l também pressiona os valores para cima. “O problema é anterior ao fornecedor e o varejista. Está nos preços das commoditie­s”, diz.

O consultor de varejo e bens de consumo, Eugenio Foganholo, também acredita que essa negociação já nasce limitada, já que as questões que fazem os preços subirem são macroeconô­micas. No entanto, ele não vê possibilid­ades de ação do governo para resolver essa situação. “Não há solução governamen­tal possível no livre mercado”, diz. Ele entende que essa regulação deve ser feita pelos próprios consumidor­es ao substituir os produtos caros na hora da compra.

Na queda de braço entre supermerca­dos e fornecedor­es, a Associação Paulista de Supermerca­dos (APAS) disse que tem orientado os associados a comprarem apenas o necessário. “A Apas reitera que tem recomendad­o aos supermerca­dos associados que continuem negociando com seus fornecedor­es e comprem somente a quantidade necessária para a reposição”, diz em comunicado.

A instituiçã­o afirma ainda que orienta que sejam oferecidos aos consumidor­es “opções de substituiç­ão aos produtos mais impactados por esses aumentos provenient­es dos fornecedor­es de alimentos”./

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MARCOS NASCIMENTO No limite. Cartaz em loja de rede em São Paulo limita venda de óleo de soja

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