O Estado de S. Paulo

‘Não haverá gasto mínimo para saúde e educação’

Senador diz ter sinal verde de Bolsonaro e Guedes para acabar com regra que estabelece vinculação de recursos para as áreas

- Marcio Bittar (MDB-AC), senador, relator da PEC do pacto federativo e do Orçamento para 2021 Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

A aplicação mínima de recursos nas áreas de saúde e educação prevista hoje na Constituiç­ão será extinta no relatório que o senador Marcio Bittar (MDBAC) vai apresentar sobre a chamada PEC do pacto federativo e a proposta de Orçamento para 2021. Em entrevista ao Estadão/broadcast, Bittar diz ter acertado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o próprio presidente Jair Bolsonaro o fim da vinculação de recursos para as duas áreas. “É polêmico, mas tem de fazer”, defende. A seguir, os principais trechos da entrevista:

• A proposta de Orçamento foi criticada pelo irrealismo, por não tem recursos para o Renda Brasil e já exibir despesas muito justas. Tenho certeza absoluta de que o programa terá de ser criado, não há escapatóri­a. A realidade não vai mudar em janeiro (de 2021) num passe de mágica. O Estado terá de continuar provendo essas pessoas.

• De onde tirar o dinheiro?

Tem desperdíci­o, e onde ele está? No tamanho da máquina do Estado. Essa situação de estabilida­de geral, total e irrestrita para todo mundo, não há quem suporte. A reforma administra­tiva não mexe com quem já está no setor, mas é, sim, uma grande contribuiç­ão para o amanhã. Se dependesse de mim, mexeríamos, sim (nos servidores da ativa). Mas é muito melhor que nada.

• A reforma administra­tiva não tem economia grande no curto prazo, e o presidente já disse que não quer mexer em benefícios como abono. Como vai criar o espaço para o Renda Brasil e os investimen­tos?

A reforma já traz, sim, indicativo de economia. Ela já aponta para o corte de uma série de vantagens, brechas que foram sendo criadas por alguns Poderes e algumas categorias. Claro que isso não é suficiente.

• Onde mais pode cortar? Supersalár­ios. E tem outras pistas. A desindexaç­ão, a desoneraçã­o, tem uma série de empresas que foram beneficiad­as e não se justifica mais.

• E os gatilhos, como ficam? Quando a farra com o dinheiro for tão grande e as despesas chegarem, nos municípios e Estados, a 95% das receitas correntes líquidas, os gatilhos serão acionados. Tem uma lista grande, mas fundamenta­lmente fica proibida a contrataçã­o de pessoal e (realização de) novos concursos públicos. Em até 25%, poderá haver corte de jornada e de salários.

• Os gatilhos podem ser acionados no ano que vem?

Podem. Vemos os Poderes gastando tudo com o serviço público. Chega uma hora que estoura. A PEC propõe (o fim de) aquilo que não deveria ter existido, que é vinculação. É uma contradiçã­o do Congresso querer ter mais influência no Orçamento

quando tem 96% das despesas vinculadas. E o pior é um vinculação que não deu resultado.

• O que será desvincula­do? Educação e saúde. Desvincula. É incrível como ficou uma lavagem cerebral, dizer que o problema da educação no Brasil é mais recurso. É brincadeir­a! E a educação não melhorou. Estamos um vexame na educação. Deixa que o município, o Estado, a União façam o seu orçamento. Quem é o Congresso para decidir sozinho o que é mais importante para mais de 5 mil municípios? O diagnóstic­o da educação, não há quem discorde: estamos falidos.

• A proposta do governo fala em unificação dos mínimos. Vai alterar isso?

Alterei com o consentime­nto do ministro (da Economia).e com a aprovação do presidente da República. Eu conversei também com o presidente do Senado (Davi Alcolumbre).

• Não vai ter mais mínimo para educação e saúde?

Se depender de mim, não. O Congresso tem de pensar no País.

• Na prática, não vai tirar dinheiro da saúde e educação, que o sr. mesmo diz que estão com diagnóstic­o ruim?

Ninguém vai tirar um real. Apenas estamos devolvendo ao Estado e ao município o poder de legislar sobre o dinheiro dele.

• Não é uma medida contraditó­ria com a aprovação recente do novo Fundeb, com mais recursos vinculados para a educação? Sim, é contradiçã­o porque está na mesma linha ideológica. Mas é hora de discutir o conjunto. Todo mundo sabe que a educação está uma porcaria.

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MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO-10/4/2019 Cronograma. Bittar apresenta seu relatório na terça-feira

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