O Estado de S. Paulo

MENINAS DA PARÓDIA

As artistas Lívia La Gatto e Renata Souza Maciel fazem sucesso com o gênero nas redes e emocionam Caetano

- Camila Tuchlinski

As amigas Lívia La Gatto e Renata Souza Maciel, ambas com 34 anos, nasceram em cidades diferentes. Renata cresceu em Tanabi, interior paulista, e Lívia, na capital. Mas elas tiveram algumas coisas em comum na infância: o amor à arte e ao humor.

“Sou atriz, música e palhaça. Comecei a estudar piano aos 6 anos de idade. Sou formada em piano clássico e canto de pequena”, lembra Renata. Lívia estuda música desde os 7. “Desde coral até iniciação musical. Toco violão desde os 9 anos. Sempre tive bandas ‘bagaceiras’ na faculdade, que misturavam canções dos anos 1980, 1990 e 2000, assim como vários estilos, como MPB com pop, axé com dance, reggae com new age.”

Na infância, as duas já praticavam a arte das paródias. “Eu fazia até algumas quando criança, mas isso se tornou mais constante para mim quando conheci a Lívia, em 2008. Desde então, sempre fizemos coisas juntas relacionad­as à dramaturgi­a, além de termos a banda Lírios na Lama, com mais uma integrante, a Paula Zurawski, em que surgiram também algumas paródias. Eu e a Lívia sempre tivemos esse encontro maravilhos­o na música, nos entendemos e conseguimo­s fazer isso com a maior facilidade, como mudar a voz. E tudo isso está relacionad­o com a bagagem que ela e eu trouxemos da música e do teatro”, explica Renata.

Com outra ‘roupagem’, na vida adulta, Lívia passou a criar as paródias dos tempos de infância. “Acabei fazendo a composição musical, pois percebo que, pelo riso, a gente consegue atingir um maior número de pessoas, e de forma leve e certeira. O riso ecoa mais do que o grito, do que o discurso de ódio. É uma forma leve e debochada que o artista encontra para atingir um maior número de pessoas, com pitadas de deboche e ironia”, reflete.

Caetaneand­o. Recentemen­te, a dupla publicou no Instagram um vídeo parodiando diversos artistas, aproveitan­do a deixa para cobrar uma explicação de Jair Bolsonaro sobre os R$ 89 mil que teriam sido depositado­s por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente ameaça a imprensa por questionam­entos referentes à investigaç­ão.

E foi com essa paródia política que o músico Caetano Veloso começou a seguir a dupla nas redes sociais. “O mundo digital está aí pra gente fazer o melhor uso dele. Instagram é uma plataforma que possibilit­a um mundo de conexões. E foi nessa toada que fomos presentead­as com esse alcance incrível das nossas paródias, inclusive a homenagem para nosso ídolo tão querido, Caetano Veloso”, afirma Lívia.

As amigas vibraram tanto com o ilustre seguidor que gravaram um vídeo parodiando Caetano, com um mix de canções como Alegria, Alegria, Você é Linda e Oração Ao Tempo. Elas aproveitar­am para utilizar, como instrument­os, uma faca e um prato. Em agosto, o cantor participou de uma live no Globoplay, juntamente com os filhos Moreno, Tom e Zeca – e Moreno usou um prato e uma faca como parte da apresentaç­ão na percussão. “Cara, prato e faca são instrument­os obrigatóri­os no samba de roda, mas não só na Bahia. No Rio de Janeiro, até hoje, tem gente que toca”, declarou o cantor na época, diante de comentário­s nas redes sociais.

Paula Lavigne, companheir­a de Caetano, publicou a reação do cantor ao assistir à paródia das amigas. Ele ri e se emociona. “Ah, legal, com prato e faca! Muito bom! Adorei as meninas cantando. Fiquei emocionado com Boas Vindas”, disse, tentando conter as lágrimas. “Caetano, é pra rir, não para chorar”, complement­a Paula Lavigne. “Saber que tiramos sorrisos e lágrimas emocionada­s de Caetano e de quem é fã de Caetano é o maior presente que poderíamos receber. A humildade dele de olhar nosso vídeo despretens­ioso e de pijama, ele e nós de pijamas, é muito generoso da parte dele. É muito lindo”, afirma Lívia.

Amigas há mais de uma década, ela e Renata começaram a morar juntas há três meses, em São Paulo, para conter os gastos diante da pandemia do novo coronavíru­s. “Essas paródias são fruto de um grande aperto que passamos na pandemia, assim como todo artista, todo brasileiro. Morávamos sozinhas e tivemos que abandonar nossos respectivo­s apartament­os para nos adaptarmos à crise, cortar os gastos. Dividindo as contas, a gente acaba dividindo muito da nossa arte e aflições políticas diárias, uma com a outra, e acredito que essas paródias são fruto desse encontro. Duas mulheres, artistas, independen­tes, se adaptando e não desistindo em meio a essa grande crise tão devastador­a para tanta gente”, conclui a atriz.

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FOTOS ACERVO PESSOAL Caetano. Paródia política foi vista pelo músico, que passou a segui-las nas redes sociais
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Dupla. Lívia (à esquerda) e Renata trouxeram a bagagem do teatro para as composiçõe­s

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