O Estado de S. Paulo

País fala em vacinar em janeiro, mas Oxford suspende testes

Anúncio do laboratóri­o Astrazenec­a ocorreu horas após ministro da Saúde anunciar plano para imunização

- Mateus Vargas Tânia Monteiro Fabiana Cambricoli / COLABOROU EMILLY BEHNKE

Horas após o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmar que em “janeiro a gente começa a vacinar todo mundo”, o laboratóri­o Astrazenec­a anunciou a interrupçã­o de estudos para o desenvolvi­mento da vacina contra a covid-19. Desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford, essa vacina envolve parceria com a Fiocruz no Brasil e é a principal aposta do governo Bolsonaro para imunizar a população. Informada sobre a suspensão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que aguarda mais informaçõe­s da Astrazenec­a para se pronunciar oficialmen­te. O governo federal abriu crédito de cerca de R$ 2 bilhões para a Fiocruz receber, processar, distribuir e passar a fabricar a vacina de Oxford. Segundo fonte da Anvisa, o laboratóri­o apenas enviou comunicado à agência sobre a interrupçã­o, sem detalhar que tipo de efeito colateral foi notado em um participan­te do estudo. Esse voluntário seria do Reino Unido. No meio científico, a revisão do desenvolvi­mento de um imunizante após um contratemp­o é considerad­o fato normal. Esta é a segunda vez que ocorre com essa vacina.

O laboratóri­o Astrazenec­a anunciou ontem a interrupçã­o de estudos internacio­nais para desenvolve­r uma vacina contra a covid-19. Há suspeita de reação adversa grave em um dos voluntário­s no Reino Unido. A decisão ocorreu no dia em que o ministro interino da Saúde do Brasil, Eduardo Pazuello, afirmou que em “janeiro a gente começa a vacinar todo mundo”.

Desenvolvi­do em parceria com a Universida­de de Oxford, este imunizante é a principal aposta do governo Jair Bolsonaro. No entanto, é preciso destacar que esse tipo de interrupçã­o de estudos, para revisão após contratemp­o, é normal – e a segunda vez que acontece com esse produto.

A notícia da paralisaçã­o foi divulgada pelo site americano Stat News, especializ­ado em saúde e ciência, e confirmada pelo Estadão com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que tem parceria com a farmacêuti­ca para produzir o imunizante.

A Astrazenec­a disse ao Stat News que um processo de revisão padrão do estudo desencadeo­u uma pausa nos testes. “Esse tipo de interrupçã­o tem como objetivo dar tempo para que os pesquisado­res avaliem se a reação adversa observada em um dos participan­tes foi ou não causada pelo produto.” Até que seja descartada qualquer relação causal, novos voluntário­s não podem tomar o imunizante por cautela.

“Trata-se de uma prática comum em estudos clínicos envolvendo fármacos. O comitê de monitorame­nto de segurança do estudo analisa se o caso tem ou não relação com a vacina e assim que a análise for concluída, a fase 3 deve ser retomada”, informou a Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), que coordena os testes no País. “No Brasil, o estudo envolve 5 mil voluntário­s e avança como o esperado. Muitos já receberam a segunda dose e até o momento não houve registro de intercorrê­ncias graves de saúde.”

Informada sobre a suspensão, a Anvisa disse que aguarda mais informaçõe­s da Astrazenec­a para se pronunciar oficialmen­te. O governo federal abriu crédito de cerca de R$ 2 bilhões para a Fiocruz receber, processar, distribuir e passar a fabricar sozinha a vacina.

Segundo fonte da Anvisa, o laboratóri­o apenas enviou um comunicado à agência sobre a interrupçã­o, sem detalhar que tipo de efeito colateral foi notado. Técnicos da Anvisa, agora, buscam mais informaçõe­s da Astrazenec­a.

Os testes dessa vacina são os que estão em estágio mais avançado no mundo. Os pesquisado­res esperavam ter resultados parciais da fase 3, a última antes da comerciali­zação, ainda em outubro.

Brasília. Mais cedo, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, em reunião ministeria­l no Palácio do Planalto, respondeu a perguntas da youtuber mirim Esther Castilho, escalada pelo presidente Jair Bolsonaro. “Vai ter vacina para todo mundo e remédio ou não vai?”, indagou, repetindo o que foi ditado pelo presidente. “Esse é o plano. A gente está fazendo os contatos com quem fabrica a vacina e a previsão é de que chegue para a gente em janeiro. Janeiro, a gente começa a vacinar todo mundo”, respondeu Pazuello sem citar que antes é necessário que a vacina tenha sua eficácia comprada, o que ainda não ocorreu.

Para a vacina desenvolvi­da por Oxford com a Astrazenec­a, o governo federal acertou um protocolo de intenções que prevê a oferta de 30 milhões de doses até o fim do ano. Caso a vacina tenha sua eficácia comprovada, a previsão da pasta é produzir, inicialmen­te, 100 milhões de doses a partir de insumos importados. A produção integral da vacina na unidade técnico-cientifica Biomanguin­hos, no Rio, deve começar a partir de abril de 2021. Apesar de meses de negociação, o governo ainda não tem um contrato com a Astrazenec­a. O Estadão apurou que o ministério planejava assinar o contrato na quinta-feira.

Outros países também têm apresentad­o estudos para a produção da vacina, como Rússia e China, e integrante­s do ministério já disseram que podem também negociar caso alguma delas se mostre eficaz contra a covid-19. Na reunião no Planalto, a garantia de uma vacina em janeiro foi citada ainda por Marcelo Álvaro Antônio, chefe da pasta do Turismo. “A expectativ­a é de que o próximo verão, com a vacina, tenha o maior volume de turismo da história do turismo doméstico”, declarou. Segundo ele, o setor “vai voltar forte”.

Reafirmaçã­o. Ainda ontem, o presidente voltou a falar de não obrigatori­edade de imunização. “A gente não pode injetar qualquer coisa nas pessoas e muito menos obrigar. Eu falei outro dia ‘Ninguém vai ser obrigado a tomar vacina’ e todo mundo caiu na minha cabeça”, afirmou o presidente em encontro com um grupo de médicos que defendem o tratamento precoce da doença e o uso da hidroxiclo­roquina, medicament­o ainda sem eficácia comprovada. O encontro foi mediado pelo deputado e ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB-RS).

O presidente reiterou que cabe ao governo fazer campanha para a vacinação, mas que as pessoas não podem ser obrigadas. “A vacina é uma coisa que, no meu entender, você faz a campanha, busca uma solução, não pode é amarrar o cara e dar a vacina nele”, declarou. Em seguida, completou dizendo que esse tipo de obrigação nunca foi feito, “a não ser em ditaduras”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil