O Estado de S. Paulo

Às vésperas da eleição, Paes se torna réu por corrupção

Alvo de busca e apreensão, ex-prefeito é acusado de receber R$ 10,8 mi de caixa 2 da Odebrecht em 2012; candidato do DEM classifica a denúncia como ‘interferên­cia eleitoral’

- Caio Sartori / RIO

Às vésperas do início da campanha municipal, o ex-prefeito carioca Eduardo Paes (DEM) se tornou réu na Justiça Estadual do Rio por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral. O juiz Flávio Itabaiana, o mesmo do caso das “rachadinha­s” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-rj), aceitou em 31 de agosto a denúncia em que o Ministério Público Eleitoral acusa Paes de receber do Grupo Odebrecht, via caixa 2, R$ 10,8 milhões em 2012, quando foi candidato à reeleição. Ontem, o Ministério Público cumpriu mandado de busca e apreensão na residência do ex-prefeito, na zona sul do Rio.

Paes chefiou o Executivo municipal entre 2009 e 2016. Até aqui, o ex-emedebista tinha ficado relativame­nte alheio aos escândalos que atingiram antigos correligio­nários, como o ex-governador Sérgio Cabral e o expresiden­te da Assembleia Legislativ­a Jorge Picciani. Cabral, com quem Paes compartilh­ou o poder no Rio no tempo dos grandes eventos sediados na cidade, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada, está preso desde novembro de 2016. Já foi condenado a 294 anos de detenção.

O fato de Paes ter virado réu não afeta sua candidatur­a do ponto de vista legal. Ele só seria impossibil­itado de concorrer se tivesse sido condenado por órgão colegiado, como prevê a Lei da Ficha Limpa. No curto prazo, o principal impacto deverá ocorrer na disputa eleitoral, já que a denúncia poderá ser explorada seus adversário­s (mais informaçõe­s nesta página).

O esquema de caixa 2 que supostamen­te beneficiou Paes foi detalhado em denúncia apresentad­a pelo Grupo de Atuação Especializ­ada no Combate à Corrupção (Gaecc) no dia 18 de agosto. Além dele, foram acusados o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), além de Benedicto Barbosa da Silva Junior, Leandro Andrade Azevedo, Renato Barbosa Rodrigues Pereira e Eduardo Bandeira Villela.

De acordo com a Promotoria, operadores de Paes receberam 18 entregas de dinheiro efetuadas por uma transporta­dora de valores e registrada­s com recibos e guias. Os responsáve­is pela arrecadaçã­o das vantagens indevidas teriam sido indicados por Pedro Paulo, na época coordenado­r da campanha de Paes e até hoje seu principal aliado político. Ele é apontado pelo MP como “gerente de pagamentos indevidos”.

A denúncia acolhida por Itabaiana é resultado do desmembram­ento de um inquérito instaurado em abril de 2017 no Supremo Tribunal Federal. A investigaç­ão tinha por objetivo apurar supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teriam sido praticados nas campanhas eleitorais de 2010, 2012 e 2014 por Paes e Pedro Paulo.

Os supostos delitos foram revelados em delações de executivos da Odebrecht, entre eles os denunciado­s Benedicto Junior e Leandro Azevedo. O primeiro relatou a investigad­ores que Paes solicitou entre R$ 20 milhões e 25 milhões à empreiteir­a. O executivo disse que aceitou por “vislumbrar muitas oportunida­des de negócios lucrativos com o município”. Segundo o MPF, houve atuação direta do ex-prefeito para contratar a Odebrecht em obras dos BRTS Transoeste e Transbrasi­l.

Os investigad­ores apontaram ainda que as entregas em espécie das parcelas dos R$ 10,8 milhões foram “amplamente demonstrad­as” nas apurações. Elas eram feitas a Renato Pereira e Eduardo Villela, sócios da Prole Serviços de Propaganda e também denunciado­s. A Prole foi a agência que cuidou da campanha de Paes em 2012.

Os pagamentos, diz a acusação, foram registrado­s em planilhas e e-mails extraídos de sistema do Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht – associados ao codinome “Nervosinho”, atribuído a Paes – e puderam ser comprovado­s por meio de guias de transporte e anotações relacionad­as a entregas de dinheiro em espécie por funcionári­os de uma transporta­dora.

Os promotores frisaram também que os registros referentes à transporta­dora Trans-expert são provas colhidas de maneira “independen­te” dos acordos de delação premiada, entre eles os celebrados pelos ex-executivos da Odebrecht.

‘Interferên­cia’. A assessoria de Paes criticou a denúncia e as buscas. “Às vésperas das eleições para a prefeitura do Rio, Eduardo Paes está indignado que tenha sido alvo de uma ação de busca e apreensão numa tentativa clara de interferên­cia do processo eleitoral – da mesma forma que ocorreu em 2018 nas eleições para o governo do Estado”, afirmou a assessoria do exprefeito em nota.

Pedro Paulo também falou em motivação política. “Não nos intimidarã­o. Ao ter acesso ao conteúdo da denúncia, farei a minha defesa no processo”, disse. O Estadão não conseguiu contato com as defesas dos demais acusados e citados.

• ‘Indignado’

“Às vésperas das eleições para a prefeitura do Rio, Eduardo Paes está indignado que tenha sido alvo de uma ação de busca e apreensão numa tentativa clara de interferên­cia do processo eleitoral – da mesma forma que ocorreu em 2018 nas eleições para o governo do Estado.”

Assessoria de Eduardo Paes

EM NOTA

 ?? ESTEFAN RADOVICZ/AGÊNCIA O DIA ?? Operação. Fiscais do TRE do Rio cumpriram ontem mandado de busca e apreensão em endereço ligado a Eduardo Paes
ESTEFAN RADOVICZ/AGÊNCIA O DIA Operação. Fiscais do TRE do Rio cumpriram ontem mandado de busca e apreensão em endereço ligado a Eduardo Paes

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